Gostando eu de política e de reportagens, seria de esperar que
uma reportagem sobre um acontecimento marcante da política internacional fosse
algo que me suscitasse imenso interesse. Mas não é esse o caso, e já o relato de Kapuścińsk na 1ª Granta havia sido um desafio à minha vontade. Muitas vezes sinto neste tipo de textos que o jornalista sente que está a falar com especialistas e parte portanto do princípio que acontecimentos e personagens nos são familiares, dispensando contextualização. E depois, o pobre o leitor quando dá por si está no meio de um realidade que lhe é completamente alheia, sentindo-se o mais ignorante dos seres.
Mas apesar das minhas reticências iniciais, Fenton tem a
seu favor poder contar com o fascínio que o casal Marcos (o ditador Filipino e
a sua espampanante mulher Imelda) exercem, o que sempre torna a leitura mais cativante. Focando-se na queda do regime de Ferdinand Marcos, o relato
de Fenton evidencia o efeito que uma sequência vertiginosa de acontecimentos
pode ter sobre a realidade, como se presente, passado e futuro se confundissem
por instantes e o mundo tal como o concebemos ruísse perante os nossos olhos,
pertencendo tudo ao passado embora ainda exista no presente.
E é assim que num momento o casal Marcos está a receber
jornalistas na sua luxuosa residência, e no momento seguinte estranhos caminham
pelos seus aposentos como se lhe pertencessem. Aquela já não era a casa de
Imelda e Ferdinand, mas era como se os seus passos ainda se ouvissem ao fundo
do corredor.
Fenton deixa-nos no final algumas provocações. Perante a
rapidez com que tudo ocorreu, a revolução terá sido orquestrada? Mas mais do
que isso: a revolução foi feita em nome o quê? Será que o que se segue é melhor
do que aquilo de que se viram livres? As revoluções têm muitas vezes esse
defeito, o de serem um fim em si mesmo, e de repente acorda-se no dia seguinte
e pergunta-se “e agora?”.
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