“O tempo virá em que não saberemos que nome dar ao que nos unirá. O nome apagar-se-á a pouco e pouco da nossa memória.”
Hiroshima. Nevers. O que une estes dois locais? A destruição? Que destruição poderá Nevers conter que se iguale a uma cidade dizimada por uma bomba atómica? Que horrores terão sido vividos nas suas ruas? De quantas mortes desnecessárias terá sido palco? Nevers. Uma aparentemente doce e bucólica terra francesa, a terra que viu morrer o amor.
Uma
mulher, uma actriz, está em Hiroshima no pós-guerra a rodar um filme sobre a
paz. Que outro tipo de filme se poderia fazer em Hiroshima, questiona. O
passado é, em Hiroshima, um fantasma que a persegue. Na vida que regressou ao
normal, na cidade plenamente reconstruída, onde a catástrofe não é mais do que uma
memória longínqua que se afugenta, há uma ameaça eminente de que o que
Hiroshima viveu seja esquecido. Hiroshima tem de ser lembrada sempre, como o
têm de ser todas as grandes tragédias. Mas a vida teima em cobrir os
acontecimentos desagradáveis com um véu apaziguador. Até que não restem mais do
que sombras. Até que comecemos a duvidar que o que aconteceu aconteceu mesmo.
Um amor
em Hiroshima. Um homem casado, como ela, que nos seus braços sonha com um
grande amor. Um homem que é mais do que aquele homem japonês, que é um
arquétipo do amante proibido, uma recordação viva do amor vivido em Nevers. Em
Hiroshima, a mulher percebe que ela própria tem vindo a esquecer, que a dor
dilacerante que parecia capaz de a matar acabou por sossegar e, com o avançar
dos dias, a vida continuou, apesar da imagem de destruição absoluta.
Experimentou o maior dos horrores e agora vive, com uma aparência de
normalidade.
O que une
Hiroshima e Nevers? A destruição. A destruição de que pensamos não conseguir
emergir. Mas também o esquecimento, a traição de uma vida que o continua a ser,
a insustentável leveza do ser de que Kundera falaria.
“Hiroshima
Meu Amor”, o guião que valeu a Marguerite Duras a nomeação para o Óscar de Melhor Argumento Original, foi também a primeira longa-metragem de Alain
Resnais, protagonizada por Emmanuelle Riva. O filme tem o mérito de,
mantendo-se fiel à visão de Duras, a ter dotado de imagens icónicas cuja beleza
nada fica a dever às palavras escritas.
Já que o livro, em tempos editado pela
Quetzal, é muito difícil de encontrar hoje em dia, recomendo-vos vivamente o
filme, cuja versão restaurada foi recentemente lançada em DVD pela Leopardo
Filmes.
Classificação: 17/20
Não fazia ideia que era protagonizado pela Emmanuelle Riva
ResponderEliminarQuando descobri também pensei "ah, que giro!".
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