Uma
pedrada no charco. Foi esse o efeito das palavras de Philip Roth quando, no
final de 2012, anunciou publicamente, numa entrevista à revista francesa Les Inrockuptibles, que não voltaria a escrever. Na altura poucos acreditaram nas
suas palavras, achando que o apelo da pena domaria o desejo de liberdade de um
escritor esgotado. Mas há
algumas semanas Roth, após uma sessão pública de leitura, afirmou que aquele seria o último evento do género que iria realizar, deixando antever uma saída
mais abrangente da vida pública, que culminou com o anúncio de que a entrevista que será hoje emitida pela BBC será a sua última aparição pública.
O
desgaste de Philip Roth com a vida de escritor não era segredo para ninguém, e
ficou bem patente na entrevista publicada pelo The New York Times Book Review no
passado mês de Março:
“Todos
temos trabalhos árduos. Todo o verdadeiro trabalho é árduo. Acontece que o meu
trabalho é também irrealizável. Manhã após manhã durante 50 anos, enfrentei a
próxima página indefeso e mal preparado. Escrever para mim é um feito de
auto-preservação. Se não o fizesse, morreria. Então fi-lo. A perseverança, e não
o talento, salvou-me a vida. Tive também a sorte de não considerar a felicidade
importante e de não ter compaixão por mim próprio.”
Philip
Roth afasta-se assim definitivamente do grande público, sem ter recebido o tão
ambicionado Prémio Nobel (e sendo quase impossível que o venha a receber). Em tempos Roth afirmou ao “O Estado de S. Paulo” que gostaria de escrever o mesmo livro até morrer, acenando com a hipótese
de um livro póstumo. Quem sabe se não nos aguarda uma surpresa no futuro?
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