terça-feira, 20 de maio de 2014

A última entrevista de Philip Roth


Uma pedrada no charco. Foi esse o efeito das palavras de Philip Roth quando, no final de 2012, anunciou publicamente, numa entrevista à revista francesa Les Inrockuptibles, que não voltaria a escrever. Na altura poucos acreditaram nas suas palavras, achando que o apelo da pena domaria o desejo de liberdade de um escritor esgotado. Mas há algumas semanas Roth, após uma sessão pública de leitura, afirmou que aquele seria o último evento do género que iria realizar, deixando antever uma saída mais abrangente da vida pública, que culminou com o anúncio de que a entrevista que será hoje emitida pela BBC será a sua última aparição pública.

O desgaste de Philip Roth com a vida de escritor não era segredo para ninguém, e ficou bem patente na entrevista publicada pelo The New York Times Book Review no passado mês de Março:

“Todos temos trabalhos árduos. Todo o verdadeiro trabalho é árduo. Acontece que o meu trabalho é também irrealizável. Manhã após manhã durante 50 anos, enfrentei a próxima página indefeso e mal preparado. Escrever para mim é um feito de auto-preservação. Se não o fizesse, morreria. Então fi-lo. A perseverança, e não o talento, salvou-me a vida. Tive também a sorte de não considerar a felicidade importante e de não ter compaixão por mim próprio.”

Philip Roth afasta-se assim definitivamente do grande público, sem ter recebido o tão ambicionado Prémio Nobel (e sendo quase impossível que o venha a receber). Em tempos Roth afirmou ao “O Estado de S. Paulo” que gostaria de escrever o mesmo livro até morrer, acenando com a hipótese de um livro póstumo. Quem sabe se não nos aguarda uma surpresa no futuro?

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