Num inspirado tom confessional, uma jovem rapariga
revela-nos o impacto que dois acontecimentos quase simultâneos tiveram na sua
vida: o aparecimento o período e a descoberta de que tinha diabetes. A bem da
verdade, o impacto não é mencionado, mas sim inferido por aquilo que é dito. No
centro está o sangue, a pequena gota que é analisada por causa da doença, e a
torrente que a natureza expele do seu corpo.
É num líquido também, mas em água em vez de sangue, que um
homem japonês flutua, arrastado pela corrente, enquanto um jovem grava tudo,
naquilo que adivinhamos ser o cenário de uma catástrofe natural. A narradora vê
obcecadamente o vídeo que eterniza este momento e desenvolve uma relação de proximidade com o jovem
japonês, como se os dois assistissem impotentes às manifestações do poder da
natureza nas suas vidas.
José Gardeazabal domina na perfeição o fluxo de consciência
que o tom confessional exige, manipula o ritmo de forma exemplar, com uma cadência
de frases que nos submerge numa história original e misteriosa e um final com
margem de sobra para múltiplas interpretações. Uma estreia auspiciosa para José
Gardeazabal.
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