segunda-feira, 18 de maio de 2015

O que é que a Granta tem? “Várias Versões de Uma Catástrofe” de José Gardeazabal


Num inspirado tom confessional, uma jovem rapariga revela-nos o impacto que dois acontecimentos quase simultâneos tiveram na sua vida: o aparecimento o período e a descoberta de que tinha diabetes. A bem da verdade, o impacto não é mencionado, mas sim inferido por aquilo que é dito. No centro está o sangue, a pequena gota que é analisada por causa da doença, e a torrente que a natureza expele do seu corpo.

É num líquido também, mas em água em vez de sangue, que um homem japonês flutua, arrastado pela corrente, enquanto um jovem grava tudo, naquilo que adivinhamos ser o cenário de uma catástrofe natural. A narradora vê obcecadamente o vídeo que eterniza este momento e desenvolve uma relação de proximidade com o jovem japonês, como se os dois assistissem impotentes às manifestações do poder da natureza nas suas vidas.

José Gardeazabal domina na perfeição o fluxo de consciência que o tom confessional exige, manipula o ritmo de forma exemplar, com uma cadência de frases que nos submerge numa história original e misteriosa e um final com margem de sobra para múltiplas interpretações. Uma estreia auspiciosa para José Gardeazabal.

Sem comentários:

Enviar um comentário