Por esta altura, não é segredo para ninguém que eu adoro a
Feira do Livro. Convenhamos: comprar livros a bom preço – quem não gosta?! Mas
todos os anos, assim que as primeiras barracas são montadas, deparo-me com
comentários da inteligência literária do burgo que não primam pela efusividade.
Normalmente as críticas à Feria do Livro podem ser agrupadas
em 3 categorias: a venda de bens alimentares (particularmente farturas e pregos);
o impacto nas livrarias; e a inexistência de fundos de catálogo. Não quero
perder muito tempo a analisar estes pontos, que obviamente me parecem ter
poucos méritos, mas há coisas que têm de ser ditas. Há comida na Feira. E então? Qual é o problema? É suposto as
pessoas passarem bastante tempo na Feira, portanto haver comida parece um
elemento incontornável de organização. É o bom-nome dos livros que está então em
causa? Não é digno para os livros serem vendidos a poucos metros de bancas de
comida? Eu diria que o que não é digno dos livros é não serem vendidos, mas
isso sou eu que tenho a mania de querer que as editoras façam dinheiro e todos
nós sabemos que fazer dinheiro é um antónimo de verdadeira arte. Por isso já
sabem, caros amigos, mantenham os vossos livros longe da comida ou estão a
ofendê-los!
A questão das livrarias é a mais complexa. A mim parece-me
que achar que o que faz as livrarias ficar em má situação são as duas semanas
de Feira do Livro é querer tapar o Sol com a peneira. É premente que se faça
uma reflexão sobre o mercado livreiro e pensar o que deverá ser uma livraria
nos dias que correm, com as condições de mercado que temos. O discurso de “a
culpa é dos consumidores” é cómodo mas pouco produtivo. Eu acho que
o consumidor deve fazer um esforço para ser responsável e, em situações em que
os seus interesses não são colocados em causa, comprar em livrarias independentes.
Mas cabe aos livreiros também fazerem por isso, por ter algo para oferecer a
quem lá vai, porque se eu entro numa livraria e vejo lá os mesmos livros que
vejo na Bertrand a um preço maior é óbvio que eu não o vou comprar ali. E se já
estão a dizer “ah, mas uma livraria independente não tem a capacidade que uma
Bertrand tem para manipular o factor preço” certo, mas olharam para a parte da
minha frase que vos interessava e esqueceram-se de “os mesmos livros”. Mas não
nos esqueçamos do fundamental: a Feira do Livro permite a muitas editoras terem
dinheiro para sobreviver e duma coisa eu tenho a certeza - o sector pode viver
sem livrarias independentes mas não pode viver sem editoras!
A questão dos fundos de catálogo é um daqueles mitos que não
se sabe de onde surgiram. Não há fundos de catálogo? A Relógio D’Água,
Antígona, Cotovia, Cavalo de Ferro, Gradiva, Nova Vega e grupo Porto Editora
tinham fundos de catalogo nesta edição da Feira do Livro, portanto estão a
falar do quê? Têm a certeza que têm ido à Feira do Livro?
Bom, mas o importante é celebrar a grande festa do livro e
as compras por lá feitas. Para mim foi um ano em grande! Com uma ou outra
excepção, os livros que comprei tiveram quase todos pelo menos 50% de desconto.
Levei para casa livros que há muito queria, levei também uma ou outra
frustração, mas faz parte da experiência. Vamos às compras?
Ficção portuguesa
Sinto tanta alegria ao olhar para este grupo de livros!
Entre a “Obra Completa” do Álvaro de Campos, a poesia completa do Manuel António Pina, o “O Medo” do Al Berto e os meus primeiros livros de Ferreira de Castro, José Régio, Ana Teresa Pereira, Gabriela Llansol, Agualusa e Maria Velho da Costa,
nem sei bem para onde me virar. Estou muito expectante quanto ao Al Berto. Algo me
diz que ele pode ser o empurrão que faltava para me tornar num leitor mais
convicto de poesia.
Romance internacional
Em todas as Feiras do Livro
tenho um livro fetiche, normalmente encontrado na banca de promoções da Relógio
D’Água a 5€, que me deixa eufórico quando o encontro, corro a comprá-lo e
obrigo muitas pessoas que vão comigo à Feira a fazê-lo. Este ano foi a vez de “Bel-Ami”
de Guy de Maupassant. Mas deste grupo o livro que mais queria comprar era o “A História de Uma Serva” da Margaret Atwood e que estive em vias de não conseguir, porque esteve uns dias desaparecido e no dia em que fui à Hora H da Porto Editora
achei que tinha esgotado e não o procurei. Felizmente um querido amigo salvou-me
dessa tragédia! De resto, sabe sempre bem comprar Isherwood, Ali Smith e
Vonnegut com 70% de desconto e Modiano a 3€.
Não ficção (nacional e internacional) e contos, poesia e teatro internacional
A fila de cima, que representa as minhas compras na
categoria não ficção, é talvez o ponto alto da minha Feira deste ano. Quero
muito ler estes livros, cada um por razões muito específicas. Comprar o “Puta Que os Pariu!”, a biografia do Luiz Pacheco da autoria de João Pedro George publicada
pela Tinta-da-China, a metade do preço é de louvar aos céus. E uma colectânea de ensaios do Foster Wallace com 70% de desconto, até me faz tremer a mão. Dos
restantes livros o meu grande destaque tem de ir para “Decameron” de Boccaccio
que eu planeava comprar há várias Feiras, plano que cumpri finalmente este ano,
na Hora H claro.
O que ficou por comprar
Ui! Tanta coisa! A maior frustração foi sem dúvida o ter
descoberto que o 4º volume da Obra Completa do Borges editada pela Teorema
tinha esgotado. Depois de 4 anos a comprar 1 volume por ano na Hora H, tudo
estava pronto para o final épico deste ano. Mas já
investiguei e parece-me que vou conseguir resolver o problema, por mais
dinheiro do que eu queria, mas enfim. Uma frustração foi também a Adília Lopes. Mas o “Dobra”
ainda não é elegível para Hora H nem para Livro do Dia, por causa da Lei do
Preço Fixo, pelo que terei de rezar pelo próximo ano.
Queria comprar o 1º volume do Teatro do Marcelino Mesquita,
na Imprensa Nacional-Casa da Moeda, mas não tinham nenhum exemplar na Feira.
Queria comprar o “Gente Independente” do Halldór Laxness (que entretanto já
chegou até mim) e o “Auto-de-Fé” do Elias Canetti, ambos da Cavalo de Ferro, mas
nunca os encontrei a um preço suficientemente tentador.
Ficaram por terra também os meus planos de comprar na Hora H
da Tinta-da-China o “Entrevistas da Paris Review”, porque achei que já tinha feito demasiadas
compras. O mesmo se aplica a “Cantigas da Inocência e da Experiência” de
William Blake da Antígona e a “Ilíada” de Homero da Cotovia.
Mas uma dos grandes arrependimentos foi não ter comprado uma
das novas edições do José Cardoso Pires lançadas pela Relógio D’Água. Estive
quase quase a fazê-lo mas fui pelo argumento racional que acaba por matar
algumas compras: a Feira é para aproveitar promoções, novidades compram-se
durante o ano. E lá ficaram os meus ricos livrinhos!
Bom, foi gasto muito dinheiro obviamente, mas muito menos do
que poderia ter sido especialmente se fizermos o exercício de ver o preço de
mercado dos livros e o quanto paguei por eles. Foi uma Feira excelente e mal posso esperar pela edição de 2016!
É reconfortante encontrar alguém que comprou tantos ou mais livros do que eu. É que sou uma apaixonada convicta pela Feira e todos os anos deixo lá uma boa parte do orçamento mensal e muita gente tem dificuldade em perceber que alguém, num dia, compre dez ou quinze livros. Para mim é normal! Aliás, a par com a Feira fui apanhando outras promoções e o resultado é que mais ou menos num mês fiquei com mais de trinta livros para arrumar nas minha estantes já cheias.
ResponderEliminarNos últimos tempos também me foi feito o comentário «Não te parece que exageras um pouco isso da compra de livros?». Lá expliquei à pessoa que compro livros porque posso e que no dia em que não puder, paro de comprá-los. No seguimento desse argumento, acrescentei que talvez um dia tenha tempo a mais (coisa que por agora não tenho) e dinheiro a menos e, por isso, compro não para ler tudo amanhã, mas para ir lendo. Por fim, compro porque gosto, porque há quem gaste em tabaco ou noutras coisas de que gosta e eu gosto e quero gastar em livros, visto que me fazem feliz. Mas palavra que por vezes me sinto um bicho. Ainda assim vou comprando. :)
Não gostei tanto da feira deste ano quanto da do ano passado, achei que havia promoções menos apetecíveis. Ainda assim consegui alguns livros jeitosos. Alguns publiquei no blogue, mas os últimos já não pus... tive vergonha da quantidade.
O teu blogue é muito bom. Parabéns!
Temos experiências de facto muito semelhantes :) Eu fui muito feliz na Feira deste ano e já estou cheio de saudades!
ResponderEliminarObrigado pelas simpáticas palavras sobre o blog :)