O facto
marca sem sombra de dúvida a minha relação com a literatura em 2013: a
descoberta do género conto. Já tinha lido livros de contos anteriormente, e
tinha ganho um maior interesse pelo género com “A Vista de Castle Rock” de
Alice Munro, mas foi com a Granta que a viragem definitiva se deu e, apesar das
reticências inicias, estou conquistado e adivinham-se bastantes leituras nesse
campo para 2014. Mas de 2014 falaremos nos próximos dias. Para já deixo-vos com
a lista dos melhores livros que li no ano que passou.
Como já
devem ter percebido, as minhas leituras não são ditadas pelo que vai sendo
editado. Há demasiados livros bons para serem lidos para a pessoa se focar só
no que é novo. Ser-me-ía por isso impossível fazer um top de livros editados em
2013. Mas como a literatura é das formas de arte que melhor resistem à passagem
do tempo, entre os melhores livros que li há desde obras-primas do século XIX,
até livros editados em 2013. Para mim, 2013 foi isto.
5. “Fiapos de Tempo” de Ana Maria Vilhena, Vírgula
Através
de “Fiapos de Tempo”, a meio termo entre a biografia e o romance, revisitamos
as memórias dos nossos avós e dos seus antepassados, reconhecendo-os nas
personagens e comportamentos tão tipicamente alentejanos que nos surgem em cada
página. De uma escrita natural, que na sua aparente simplicidade esconde a
mestria de quem fez da língua portuguesa a sua vida, a leitura de “Fiapos de
Tempo” faz-se com o mesmo prazer com que lemos os clássicos da nossa literatura.
Ler o texto completo.
4. “O Moinho à Beira do Floss” de George Eliot, Relógio D’Água
Em “O
Moinho à Beira do Floss” Eliot recria um bucólico mundo campestre, habitado por
personagens imperfeitas que tentam viver num mundo cheio de expectativas. Entre
estas personagens, constrangidas pelo socialmente aceite, surge a figura da
impulsiva e arrebatada Maggie Tulliver, que aos olhos da nossa época é uma
simples rapariga romântica, mas que, no pacato mundo banhado pelo rio Floss, é
uma rebelde que ousa juntar aos quatro verbos que lhe foram destinados (nascer,
casar, parir, morrer) um quinto: amar. Ler o texto completo.
3. “Fugas” de Alice Munro, Relógio D’Água
A vida
tem uma forma incontrolável de nos afastar do nosso potencial. Uma força
violenta e indestrutível que nos arrasta para caminhos que não são aqueles que
queremos percorrer, sem que nada possamos fazer para o evitar. Alice Munro
percebe isso melhor que ninguém, a crueldade de vermos desde cedo os nossos
planos comprometidos, porque por muito que corramos, nada mais encontraremos do
que aquilo que nos está reservado. E essa é uma moral que percorre os oito
contos que compõem este livro. Ler o texto completo.
2. “Peter Pan and Wendy” de J. M. Barrie, The Folio Society
O último livro
que li em 2013 transportou-me para o fabuloso mundo de Sininho, Capitão Gancho
e os Rapazes Perdidos, um mundo em que a infância nunca termina, em que há
sempre aventuras a serem vividas. Mas por maiores que pareçam os perigos da
Terra do Nunca, o maior ameaça está longe dela: crescer e esquecer-se de quando
se era uma criança. Publicarei nos próximos dias uma análise completa a este
livro.
1. “A Sibila” de Agustina Bessa-Luís, Guimarães Editores
Da rudeza
nobre da terra brotam os génios difíceis de gente forte. Quina e Estina, duas
faces duma mesma alma, ambas duras, uma clarividente, a outra propícia a
sofrimentos calados. Cedo conheceram as vias árduas do destino, sempre marcadas
pela efemeridade, pela necessidade de não se apegarem àquilo que não podem
conservar junto a si. Perderam um irmão, testemunharam as dores de sua mãe,
traída por um homem galanteador, o pai das duas, que também cedo partiria. A
própria Quina tem a sua vida em risco na juventude. Mas é Estina quem sofre as
mais duras perdas, talvez por ser a mais fraca, a que mais deseja acreditar na
possibilidade do amor. Primeiro é abandonada pelo homem que ama. Depois vê
morrer, um após outro, todos os seus filhos. E é no seu estóico sofrimento que
Estina vence Quina. Estina conhece o amor, Quina nunca o conseguirá. Ler o texto completo.
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