© Joaquín S. Lavado (Quino)/Caminito S.a.s. - Literary Agency
Tira gentilmente cedida pela Editorial Verbo.
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Uma mulher de 50 anos deve ser madura e ponderada, saber distinguir o essencial do acessório e guiar-se por uma visão de longo prazo. Mafalda não precisou de tantos anos para ser tudo isso, para se afirmar como a mais sábia e racional das personagens do universo criado por Quino e do qual faziam também parte os seus pais e depois, surgindo sucessivamente, Filipe, Manelito, Susanita, o irmão mais novo de Mafalda e Liberdade (ironicamente a mais pequena do grupo de amigos e a mais contestatária).
Mafalda nasceu, curiosamente, graças a uma agência de publicidade, que teve a ideia de criar uma BD sobre uma família, em que pudesse fazer product placement da marca de electrodomésticos Mansfield. Quino apresentou a sua proposta, devendo Mafalda o seu nome à semelhança em termos de letras com a marca, mas a agência decidiu seguir por outra via, e Mafalda só chegaria ao grande público a 29 de Setembro de 1964, no semanário Primera Plana, já sem nenhuma ligação ao mundo da publicidade. Até Junho de 1973, data em que Quino publicou a última tira da personagem, Mafalda passaria pelo El Mundo de Buenos Aires e, finalmente, pelo Siete Días Illustrados.
Uma visão pessoal sobre Mafalda
Como Mafalda também eu era uma criança de mente velha, que não resistia a nas férias vasculhar a biblioteca municipal em busca de livros por ler, tarefa que com o tempo se tornou cada vez mais árdua. Foi numa dessas visitas que me deparei com uma edição de "Toda a Mafalda". Nunca fui um grande fã de BD, tinha lido alguma coisa do Garfield, alguma coisa dos Smurfs, mas não era por definição o género que mais me agradava. Mas Mafalda depressa revelou a sua capacidade de fascinar e de surpreender, que resulta da união de uma visão peculiarmente prática do mundo com um irracional ódio por sopa.
Na altura, enquanto criança, Mafalda e Liberdade pareciam-me duas personagens divertidas, nas quais me revia, mas sem perceber a profundidade do trabalho de Quino. A grandeza de Mafalda, a inteligência e a sofisticação daquelas breves tiras apenas se revela na sua plenitude aos olhos de um adulto, tornando evidente a dimensão social e cultural desta obra e o quão astutamente crítica Mafalda é face aos vícios da sociedade.
O mundo em que Mafalda surgiu pode já não existir e as preocupações que assolam o nosso quotidiano podem ser muito distintas, mas há princípios basilares que são imutáveis (a inteligência de questionar, de não agir sem perceber o porquê, por exemplo) e que em parte explicam a longevidade das histórias criadas por Quino que, pelo impacto de Mafalda, foi agraciado este ano, em que se assinalam os 50 anos do aparecimento desta personagem, com o Prémio Príncipe das Astúrias.
Verbo reedita “Toda a Mafalda”
A comemorar os 50 anos de uma das BD mais populares de sempre a Verbo, chancela do grupo Babel, publicou recentemente uma edição comemorativa que reúne todas as tiras criadas por Quino, complementadas por artigos de opinião e informações que elucidam o leitor sobre os factos históricos por detrás de alguns gags. Procurem esta edição nas livrarias e não prescindam da oportunidade de comprar um tesouro que passará de geração em geração. Com direito a entrada directa para a minha lista de pedidos ao Pai Natal.
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