Um livro
é a melhor prenda que se pode dar a uma pessoa. Bom, talvez haja algo melhor…
vários livros. Têm dúvidas quanto à veracidade desta afirmação? Ora vejamos,
sem ser um livro, que outra prenda podem dar a alguém que possa passar de
geração em geração sem perder o interesse, que proporcione várias horas de
prazer, que permita conhecer novos locais e pessoas sem sair do mesmo lugar,
que seja de arrumação fácil e tenha um preço em conta? Por isso, não batam mais
com a cabeça nas paredes a pensar nos presentes que ainda vos falta comprar, corram para uma livraria e
resolvam o assunto de uma vez! Precisam de sugestões? Os vossos desejos são
ordens.
Um presente para crianças
Hans
Christian Andersen escreveu alguns dos contos infantis mais memoráveis da
história da literatura. “A Princesa e a Ervilha”, “A Sereiazinha” (também
conhecida como “A Pequena Sereia”), “O Valente Soldadinho de Chumbo” ou “O
Patinho Feio” dizem-vos alguma coisa? É claro que sim. Andersen tem uma forma
muito particular de criar histórias para crianças, assegurando-se que nem tudo
são relatos de felicidade e de um mundo sem problemas. O mundo não é assim,
logo os contos também não o podem ser, para que as crianças possam encarar as
dificuldades futuras de cabeça erguida. E assim tem sido, geração após geração,
com as personagens de Andersen a povoarem as memórias de infância de todos nós.
Todo este universo em "Contos de Andersen", numa lindíssima edição de capa dura da Relógio D’Água.
Um presente para quem gosta de clássicos
Falar em
contos de Natal é sinónimo de falar de Charles Dickens e de “Um Cântico de
Natal”, a emblemática história de Ebenezer Scrooge, um velho avarento e
rezingão, que na véspera de Natal é visitado por três espíritos que o farão ver
a vida com novos olhos. O segredo de Dickens é perceber que há uma melancolia intrínseca
ao Natal, que anda de mãos dadas com o desejo de estarmos com aqueles que mais
amamos. Não esperem por isso histórias leves e divertidas, porque há lições
para serem aprendidas e Dickens é a melhor pessoa para as ensinar.
Tenho
duas edições de “Contos de Natal” em português: uma da Civilização Editora e a
outra da Guimarães. Os contos incluídos em cada uma são diferentes, embora se
encontre em ambas “Um Cântico de Natal” e “As Vozes dos Sinos” (“Os
Carrilhões”, na edição da Civilização). Se quiserem oferecer uma edição mais
bonita, optem pela da Civilização. Mas se quiserem a que tem os melhores
contos, então terão de comprar a da Guimarães que, para além dos contos já mencionados, tem ainda outros dois, um dos quais “As Receitas do Dr. Marigold”, um produtor
instantâneo de lágrimas.
Um presente para quem só lê grande autores
Se gostam
de ler e nunca ouviram falar de J. M. Coetzee é porque algo de muito errado
aconteceu. Coetzee é um autor sul-africano, vencedor do Prémio Nobel da
Literatura em 2003, conhecido por um estilo de escrita económico e assertivo.
“A Idade do Ferro” é um exemplo disso mesmo. Em menos de 180 páginas Coetzee
apresenta-nos o confronto de uma mulher idosa a morrer de cancro com as realidades
do apartheid, regime a que sempre se opusera, mas cujo lado mais negro era para si
desconhecido. Quem lê o livro nunca esquecerá o relato de uma
noite em particular, em que a personagem principal é acordada a meio da noite e
arrastada para uma enervante viagem cujo infeliz desfecho se antevê em cada
linha. Um livro obrigatório, editado pela Dom Quixote.
Um presente para os fãs de literatura portuguesa
Muito se
tem falado nos últimos anos nos novos autores portugueses. E quase sempre se
fala em homens, deixando por mencionar um nome incontornável, que editou nos
últimos anos um livro capaz de ombrear com o que de melhor foi escrito em
português. Falo de Dulce Maria Cardoso e de “O Retorno”, um livro que nos
apresenta a visão de um adolescente sobre a descolonização. Confesso que o tema
não me diz muito e de início tive algumas dúvidas de que esta leitura seria
interessante para mim. Mas o cunho pessoal que Dulce Maria Cardoso inscreve na
história, em que a descolonização interessa pelas consequências que tem para
Rui e para a sua família, e não enquanto acontecimento por si só, tornou a leitura deste livro numa experiência muito intensa.
Incomodou-me um pouco a forma como Rui fala dos
africanos que, digamos, não é propriamente abonatória nem respeitosa, mas essa
é uma das provas da excelência de Dulce Maria Cardoso: a não necessidade de
criar personagens perfeitas, conseguindo que nos identifiquemos com as pessoas,
sem que nos identifiquemos com as suas opiniões. Um clássico para as gerações futuras,
com a chancela da Tinta da China.
Um presente para quem só lê não ficção
As
biografias históricas estão na moda. Ou melhor, as biografias romanceadas. Há
por isso que prosseguir com cuidado nesta área ou corremos o risco de levar
para casa uma história que de real só tem o esqueleto, preenchido com os
devaneios românticos de escritoras de qualidade duvidosa. Mas há, felizmente,
muitas biografias escritas por historiadores conceituados. Um bom exemplo é
“Catarina de Áustria: Infanta de Tordesilhas, Rainha de Portugal” de Ana Isabel
Buescu, um relato rigoroso e envolvente da vida da mulher de D. João III, uma
personagem com um papel fundamental na aproximação de Portugal a Espanha, que
viria a culminar com a anexação do nosso país ao império de Filipe II.
Buescu
abre-nos as portas para a infância de Catarina, passada em clausura com a mãe,
Joana a Louca, filha dos Reis Católicos, que após a morte do marido, Filipe o
Belo, percorre parte do país numa procissão fúnebre em que, segundo as lendas, o
caixão era aberto todas as noites para que Joana pudesse rever o seu amado.
Trazida para Portugal para se casar com o seu primo direito, Catarina terá
muitos filhos, mas apenas dois chegarão à adolescência, e ambos serão casados
com os seus primos direitos, cumprindo a tradição de consanguinidade dos
Habsburgo, que neste caso daria origem a duas figuras trágicas: Dom Sebastião e
Dom Carlos.
Mas se pensam que Catarina foi apenas uma figura decorativa, estão
muito enganados. O seu papel no governo do país foi fundamental, num período em
que Portugal se via governado por um monarca que não se pode dizer que fosse
brilhante. Coube a Catarina e ao Cardeal D. Henrique prepararem D. Sebastião
para governar, tarefa que se revelaria impossível, incapazes que foram de conter
os ímpetos de um jovem rei, que apenas tinha quatro bisavós, em vez dos oito
habituais.
Uma
biografia à prova de bala de um dos períodos mais importantes da História de
Portugal e de uma das rainhas mais interessantes da nossa monarquia. Entretenimento e cultura garantidos nesta edição da Esfera dos Livros.
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