Os meses
que antecedem o Natal são por norma pródigos em novidades editoriais,
aproveitando o ímpeto consumista originado pelos presentes. Não se pode dizer
que tenha sido esse o caso este ano, com poucas novidades e as que existiram foram sobretudo novas edições de obras já publicadas em Portugal. De realçar a
pouca actividade dos dois maiores grupos editoriais, Leya e Porto Editora, sem
nenhum livro particularmente excitante editado neste período.
A
novidade do final do ano e, na minha opinião, a edição mais relevante de 2013 é
“Dicionário de Lugares Imaginários” de Alberto Manguel e Gianni Guadalupi, um
gigantesco livro de 1000 páginas trazido até nós pela Tinta da China, que
compendia locais fictícios famosos na literatura mundial, com direito a
ilustrações. Se isto não é o presente de Natal perfeito, não sei o que o será.
Mas, como se este livro não fosse suficiente, a Tinta da China editou ainda o segundo
livro da colecção pessoana, “Eu Sou uma Antologia”, com organização de Jerónimo
Pizarro e Patrício Ferrari, reunindo escritos de 136 autores criados por
Fernando Pessoa. E para fechar com chave de ouro, há ainda "Os Escritores (Também) Têm Coisas a Dizer", um livro com entrevistas realizadas por Carlos Vaz Marques na Ler, com alguns dos autores
portugueses mais relevantes dos últimos anos (Saramago, Agustina, Lobo Antunes,
M. Tavares e Dulce Maria Cardoso, por exemplo).
A única
editora a competir com a Tinta da China nas novidades de final de ano é a Relógio
d’Água, com duas grandes apostas já disponíveis nas livrarias. Falo das tão
aguardadas edições de “Ulisses” de James Joyce, desaparecido do mercado desde
que a Difel fechou portas, com uma nova tradução para português de Jorge Vaz de
Carvalho, e de “Guerra e Paz” de Tolstoi, que não estava propriamente
desaparecido das livrarias. Sendo fácil de encontrar a edição da Presença deste
livro, que mais-valias pode ter a versão da Relógio d’Água? Para começar, menos
volumes: dois em vez dos quatro da Presença. E depois, há ainda a garantia de
qualidade da tradução de António Pescada, que já anteriormente tinha traduzido,
de forma exemplar diga-se, “Anna Karénina”, também pela Relógio d’Água.
Por falar
em clássicos, a Civilização teve a excelente iniciativa de aumentar a sua
colecção Novos Clássicos, com algumas edições dignas de relevo, caso de “O Pai Goriot” de Balzac e de “Quo Vadis” do Prémio Nobel Henryk Sienkiewicz, ambas
obras editadas anteriormente pela Europa-América e que mereciam novas edições. Se
procuram livros bons, bonitos e baratos (menos de 10€), vejam esta colecção que
vale mesmo a pena.
Mas nem só
de novas versões de clássicos vive o mercado, e a Cavalo de Ferro continua a
sua aposta no género conto, editando pela primeira vez em Portugal “O Barril Mágico”
de Bernard Malaud, autor querido por nomes como Philip Roth e Flannery O’Connor.
E por
fim, não esquecendo os ensaios, a Antígona propõe mais uma vez um livro
singular, integrado na edição da obra de Aldous Huxley. “As Portas da Percepção”
relata experiências de Huxley com o consumo de alucinogénios e poderá ser, sem
dúvida, um presente de Natal original. Um bom presente poderia ser também o “Admirável Mundo do Novo”, editado também pela Antígona nos últimos meses, mas confesso
que a capa me desmotivou e coloquei de lado o meu plano de dar a minha edição
da Livros do Brasil a alguém e de comprar esta versão.
Bom,
resta-nos esperar para ver o que 2014 nos trará.
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