Cunfuso.
Assim se descreve da melhor forma o meu estado de espírito após ler o conto de
Rachel Cusk, em que o divórcio e os papéis de género são os temas principais. Na verdade o divórcio é o ponto de partida, mas é a problemática do género que assume um
maior destaque, num discurso tendencialmente racionalizante mas com pitadas de arrebatamentos
emocionais.
No início
ficamos com a ideia que Cusk nos levará a uma visão esclarecedora e pouco óbvia
do papel da mulher na sociedade moderna. Fala-nos mesmo de como o papel de mão
e de dona de casa afastaram a sua mãe do seu lado feminino, a tornaram menos
mulher. O conceito de mulher está então aqui associado a uma pulsão sexual e,
ao reprimi-la, reprime-se a feminilidade. Faz sentido. Ou faria, se todo o
restante discurso no conto não fosse contraditório e, de repente, Cusk não
categorizasse a educação académica como uma experiência que masculiniza a
mulher, culpabilizando a sua mãe por a ter condicionado a agir como um homem. Tenho
alguma esperança que este discurso seja irónico, embora não parece sê-lo, e é
de resto apenas um dos exemplos de categorizações no texto de actividades masculinas
ou femininas, cujo ex libris é a referência a si e ao seu ex-marido como “travestis”
porque ele estava em casa a tomar conta das filhas (tornando-se numa mulher),
enquanto ela trabalhava (tornando-se num homem).
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