Comecei a ler a espécie de confissão de Valter Hugo Mãe que
encerra a 1ª Granta portuguesa com um enorme preconceito, sem que nunca tivesse lido nada do autor. A mania de escrever sem maiúsculas cheirava-me a pedantismo, a
escritor que estava mais preocupado em arranjar um estilo do que em focar-se na
obra. Parecia-me de uma enorme vontade de aparecer e quando vi as suas fotos nu
na Granta pensei “pronto, aqui temos mais um momento disruptivo”. Tudo me
parecia artifícios para esconder a obra. E só se quer esconder aquilo
a que não se quer que seja prestada atenção.
Pois bem, penitencio-me perante vós, meus leitores, e
perante Valter Hugo Mãe, que com este simples texto me convenceu a querer
lê-lo, a querer saber o que é que o homem que não morreu em 1996 por ter andado
nu numa movimentada avenida de Braga tem mais para nos mostrar.
Valter Hugo Mãe diz-nos que mesmo despido fisicamente, a sua
nudez nunca será tão grande como na poesia, que o toma de forma
descontrolada, incapaz de se esconder nas palavras. Curiosamente é em prosa, o
género mais controlado, que se volta a despir para quem o lê, numa tentativa de
se enfrentar, de se matar, de se mostrar vulnerável para poder ser forte, para
que a ideia da perenidade se esgote e a imortalidade do poético o domine. É preciso ter medo para poder ser corajoso.
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