Dados estatísticos apontam para que 95% dos portugueses
tenham reagido ao anúncio de Alberto da Costa e Silva como o vencedor do Prémio
Camões 2014 com um sonoro “quem?!”. Sem questionar obviamente os méritos do escritor,
nem tão pouco os critérios do júri, mas não deixa de ser estranho que o mais
prestigiado prémio literário lusófono seja dado a alguém que certamente poucas
pessoas (não me refiro a académicos, entenda-se) conhecerão.
Mas não nos esqueçamos de algo: a função dos prémios não é
apenas prestigiar carreiras já consagradas aos olhos do público, mas também
chamar a atenção para figuras que merecem um maior reconhecimento do que aquele
que têm. Resta-nos esperar que as editoras portuguesas, as grandes culpadas por
não sabermos quem Alberto da Costa e Silva é, vejam neste prémio a oportunidade
para nos trazerem a obra do poeta, historiador e africanista. Que bem que os
livros de poemas de Alberto da Costa e Silva ficariam no catálogo da Assírio
& Alvim, e os ensaios na Tinta-da-China! Mas, tendo em conta que “Grande
Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa, o equivalente brasileiro ao “Os Maias” em
importância literária, não está neste momento disponível em Portugal, não seria
de espantar se nada acontecesse e Alberto da Costa e Silva permanecesse um
estranho para os leitores portugueses.
Embaixador em Portugal e africanista. Foi assim
essencialmente que os jornais nos apresentaram Alberto da Silva e Costa. Na verdade, ele é mais do que isso. Nascido em 1931 em São Paulo,
ocupa desde 2000 a 9ª cadeira da prestigiada Academia Brasileira de Letras, depois
de uma vida dividida entre os livros e a diplomacia. Será irrelevante dizer que
Alberto da Costa e Silva foi agraciado com a grã-cruz da Ordem Militar de
Cristo, da Ordem Militar de Sant' Iago da Espada e da Ordem do Infante Dom
Henrique, mas não o é dizer que é filho do poeta Da Costa e Silva, que o marcou
profundamente ao ponto de no seu discurso de posse na Academia Brasileira de
Letras ter dito: “só isto quis e quero: cumprir esse vaticínio, ser o que o meu
pai sonhou ser. E, se pedi que me aceitásseis em vossa companhia, foi sobretudo
porque ele teria pertencido a esta Casa se não se tivesse exilado tão pronto de
si mesmo.”
E porque um homem não é apenas o seu percurso, que não
indicia por exemplo o sentido de humor de Alberto da Costa e Silva, sugiro-vos
um simples documentário centrado na relação do escritor com o seu pai,
percebendo-se o quanto a sua obra poética foi beber à do seu progenitor. Como não
ficar rendido a Alberto da Costa e Silva depois disto? Obrigado Prémio Camões!
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