quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O Centenário de Julio Cortázar


“Acreditar que a acção podia preencher ou que o somatório das acções podia realmente equivaler a uma vida digna desse nome era uma visão moralista. Valia mais renunciar, porque a renúncia à acção era o próprio protesto e não a sua máscara.”

Julio Cortázar in "Rayuela" 


Em 1914, cerca de um mês depois da 1ª Guerra Mundial ter começado, nascia Julio Cortázar, perto de Bruxelas e longe da sua Argentina. Na verdade passaria parte significativa da sua vida longe do país a que chamava casa, tendo vivido em Paris desde 1951 até ao final da sua vida, em 1984.

Cortázar é um dos nomes cimeiros da literatura internacional do século XX, integrando nas suas obras um paradigma de literatura que sintetiza uma das principais características da sociedade actual: questionar, acima de tudo questionar. Cortázar questiona a forma, questiona o leitor, questiona os limites entre realidade e ficção, questiona os limites entre as diferentes ficções dentro das suas ficções. Ao lê-lo sentimos muitas vezes que vemos uma imagem dentro da imagem, mas não nos é claro qual é a imagem primordial. A obra de Cortázar é uma obra de descoberta, de um inteligente impacto emocional, porque Cortázar não caiu na armadilha de transformar a sua obra em teórica e distante do leitor.

Apesar da sua influência, Cortázar não é um nome devidamente reconhecido pelo grande público e muito menos o é em Portugal. Aproveitando o centenário do seu nascimento, que se comemorará no próximo dia 26, vou fazer uma série de posts sobre este autor, que culminará com uma crítica a “Rayuela”, a obra-prima de Cortázar.

E celebrar Cortázar em Portugal é sinónimo de celebrar o trabalho da Cavalo de Ferro, que se tem empenhado em publicar no nosso país a obra do autor, tendo este ano chegado às livrarias “Gostamos Tanto da Glenda” e “As Armas Secretas”. Até ao momento a Cavalo de Ferro publicou de Cortázar em Portugal:

 

Deixo-vos uma sugestão: a Fundação José Saramago dedica a edição deste mês da sua revista digital, a Blimunda, a Cortázar. Para terem acesso ao download da revista basta clicarem na imagem.


Espero-vos então nos próximos dias com a minha visão sobre Cortázar. Fiquem para já com as palavras de Pablo Neruda:

“Canta Cortázar su novena de imponente sombra argentina, en su iglesia de desterrado, y es difícil para los muchos el espejo de este lenguaje, que se pasea por los días cargado de besos veloces, escurriéndose como peces para brillar sin fin, sin par, en Cortázar, el pescador que pesca escalofríos”

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