“Acreditar que a acção podia preencher ou que o somatório das acções podia realmente equivaler a uma vida digna desse nome era uma visão moralista. Valia mais renunciar, porque a renúncia à acção era o próprio protesto e não a sua máscara.”
Julio Cortázar in "Rayuela"
Em 1914, cerca de um mês depois da 1ª Guerra Mundial ter
começado, nascia Julio Cortázar, perto de Bruxelas e longe da sua Argentina. Na
verdade passaria parte significativa da sua vida longe do país a que chamava
casa, tendo vivido em Paris desde 1951 até ao final da sua vida, em 1984.
Cortázar é um dos nomes cimeiros da literatura internacional
do século XX, integrando nas suas obras um paradigma de literatura que
sintetiza uma das principais características da sociedade actual: questionar, acima de
tudo questionar. Cortázar questiona a forma, questiona o leitor, questiona os
limites entre realidade e ficção, questiona os limites entre as diferentes
ficções dentro das suas ficções. Ao lê-lo sentimos muitas vezes que vemos uma
imagem dentro da imagem, mas não nos é claro qual é a imagem primordial. A obra de Cortázar é uma obra de descoberta, de um
inteligente impacto emocional, porque Cortázar não caiu na
armadilha de transformar a sua obra em teórica e distante do leitor.
Apesar da sua influência, Cortázar não é um nome devidamente
reconhecido pelo grande público e muito menos o é em Portugal. Aproveitando o
centenário do seu nascimento, que se comemorará no próximo dia 26, vou fazer
uma série de posts sobre este autor, que culminará com uma crítica a “Rayuela”,
a obra-prima de Cortázar.
E celebrar Cortázar em Portugal é sinónimo de
celebrar o trabalho da Cavalo de Ferro, que se tem empenhado em publicar no
nosso país a obra do autor, tendo este ano chegado às livrarias “Gostamos Tanto
da Glenda” e “As Armas Secretas”. Até ao momento a Cavalo de Ferro publicou de
Cortázar em Portugal:
Deixo-vos uma sugestão: a Fundação José Saramago dedica a
edição deste mês da sua revista digital, a Blimunda, a Cortázar. Para terem
acesso ao download da revista basta clicarem na imagem.
Espero-vos então nos próximos dias com a minha visão
sobre Cortázar. Fiquem para já com
as palavras de Pablo Neruda:
“Canta Cortázar
su novena de imponente sombra argentina, en su iglesia de desterrado, y es
difícil para los muchos el espejo de este lenguaje, que se pasea por los días
cargado de besos veloces, escurriéndose como peces para brillar sin fin, sin
par, en Cortázar, el pescador que pesca escalofríos”
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