A segunda Granta portuguesa abre com um conto de um dos
pesos pesados da literatura em língua portuguesa. Mas não apenas isso. Abre com
um acto de coragem, ao apresentar-nos um perfil na primeira pessoa de um déspota
angolano, em tudo semelhante ao José Eduardo mais célebre desse país.
Nepotismo, o controlo do povo pela pobreza e ignorância e a
perpetuação no poder pela distribuição de riquezas, há neste breve conto espaço
para abordar todos estes temas. Mas há um princípio exposto que se reveste de
alguma nobreza: o líder não deve assumir posições, mantendo-se num silêncio que
todos confunda e baralhe. A nobreza deste princípio está em partir da crença de
que a coerência, ou a sua percepção, é um atributo do líder, o que tendo em
conta a realidade política portuguesa, em que governantes desdizem o que
disseram semanas antes, com a mesma convicção com que defenderam o que agora
rejeitam, revela alguma elevação.
É o meu conto preferido desta Granta. Talvez até das duas primeiras (ainda não comecei a ler a terceira!).
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