sábado, 16 de agosto de 2014

O que é que a Granta tem? “O Bom Déspota” de José Eduardo Agualusa


A segunda Granta portuguesa abre com um conto de um dos pesos pesados da literatura em língua portuguesa. Mas não apenas isso. Abre com um acto de coragem, ao apresentar-nos um perfil na primeira pessoa de um déspota angolano, em tudo semelhante ao José Eduardo mais célebre desse país.

Nepotismo, o controlo do povo pela pobreza e ignorância e a perpetuação no poder pela distribuição de riquezas, há neste breve conto espaço para abordar todos estes temas. Mas há um princípio exposto que se reveste de alguma nobreza: o líder não deve assumir posições, mantendo-se num silêncio que todos confunda e baralhe. A nobreza deste princípio está em partir da crença de que a coerência, ou a sua percepção, é um atributo do líder, o que tendo em conta a realidade política portuguesa, em que governantes desdizem o que disseram semanas antes, com a mesma convicção com que defenderam o que agora rejeitam, revela alguma elevação.

No final Agualusa deixa-nos reticências quanto ao futuro, dando crédito à velha máxima de que a história se repete. Muitas vezes o que cria os regimes é o que acaba por destruí-los e não há medidas preventivas que possam dominar eternamente a vontade dos povos. Realidade ou ficção?

1 comentário:

  1. É o meu conto preferido desta Granta. Talvez até das duas primeiras (ainda não comecei a ler a terceira!).

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