Uma das coisas boas da Granta é permitir-nos conhecer novos
autores portugueses cujos livros, de outra forma, não nos sentiríamos compelidos
a ler. Raquel Ribeiro é um bom exemplo disso, e certamente poucos resistirão à
vontade de ler “Este Samba no Escuro” após conhecerem o seu conto no 2º número da
Granta portuguesa.
Raquel Ribeiro apresenta-nos um relato da sua segunda ida a
Cuba, quando trabalhava na sua tese. Sob uma capa de normalidade, revela-se de
forma inesperada o lado negro de um regime não democrático quando Raquel é
submetida a um interrogatório pelas autoridades por ter feito questões sobre
um tema sensível. O seu testemunho torna evidente o papel dos níveis médios e
baixos do poder, que são os elementos que perpetuam os princípios do regime, cujo controlo se pode reflectir em coisas tão simples como impedir que um investigador
consulte um livro, não permitir que uma janela seja aberta ou bloquear a entrada num edifício mesmo quando há um convite de um superior.
Depois de uma primeira visita feliz, Raquel Ribeiro vê o
mito desvanecer-se e uma nova visão da realidade erguer-se. Num
momento surreal, após o interrogatório, um dos agentes mostra-se preocupado com
o testemunho futuro dela quanto ao que ali se passou e tenta assegurar-se que
Raquel nunca se sentiu ameaçada. E o mais pernicioso é que Raquel, que estava aterrada,
escondeu o que sentia apenas para poder sair dali rapidamente. E esse é o
efeito mais perigoso do medo: o silêncio.
Às vezes é de facto um perigo regressarmos aos lugares onde
fomos felizes, mas mesmo assim não perderei a oportunidade de me reencontrar com a escrita de Raquel Ribeiro.
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