Há uns meses, a propósito da comemoração do centenário da
revista “Orpheu” e do lançamento de “1915” pela Tinta-da-China, livro que reúne
vários ensaios a respeito da importância da emblemática revista, comentei com
uma amiga: “mas porque é que ninguém se lembra de reeditar a Orpheu?!” Mal
sabia eu que Bárbara Bulhosa estava umas jogadas bem à frente, preparando no segredo
dos deuses não apenas uma simples reedição mas uma peça digna de museu, feita
para ser acarinhada por leitores devotos.
Chegou há poucos dias a minha casa a minha “Orpheu”, a
número 272 das 1200 produzidas e foi uma emoção segurá-la pela primeira vez.
Abri a luxuosa caixa e retirei cerimonialmente as duas reproduções dos números
publicados da revista e um terceiro caderno, mais pequeno, com as provas
tipográficas do terceiro número que não chegou ao grande público e que teria,
para além de pinturas de Amadeo de Souza-Cardoso, poemas de Sá-Carneiro, Pessoa
e Almada-Negreiros e composições de outros autores.
A atenção aos detalhes, a preocupação com os materiais
escolhidos, tornam o simples acto de folhear a “Orpheu” numa experiência
sensorial e emocional, como se fossemos transportados no tempo. E no meio das
revistas, delicadamente colocados, um marcador e uma publicidade à segunda
revista, absolutamente fiéis à época, como também o são as folhas por separar, tão
típicas das publicações daquela altura, por isso preparem-se para ter uma faca
bem afiada à mão! Eu confesso que tinha dispensado este rigor histórico final e
que me senti um herege a estragar algo perfeito, mas percebo o charme.
Por esta preciosidade pedem-nos 70€ e é dinheiro bem gasto.
Uma peça que orgulhosamente passarão às próximas gerações, depois de horas e
horas de prazer a ler a “Orpheu” como a leram os seus contemporâneos. Obrigado
Tinta-da-China e Fundação EDP!
Compreendo-o, apesar de não ser um dos que ficaram com as 1200 produzidas.
ResponderEliminarAinda vai a tempo Carlos!
EliminarDepois diga qualquer coisa sobre esse Roth que anda a ler, dele só li, com desistência a meio, "O relatório de Portnoy" e nunca mais tentei, mas ouço muitas laudes a esse escritor.
ResponderEliminarDirei certamente :)
ResponderEliminarRecebi a minha no início de Julho e ainda não a abri. Tenho a sensação que se o fizer, algo se perde... Acho que já é tempo de perder o medo. :)
ResponderEliminarCoragem! Vai valer a pena :)
EliminarJá está. :) Mais logo partilho.
EliminarOlá João!
ResponderEliminarTambém eu fui um dos contemplados com um exemplar desta edição, o número 1166 é meu!
Porém, fiquei intrigado quanto ao correspondente da 3ª edição da revista pois, como ilustra a sua foto, também eu recebi um caderno com "Poemas de Paris", e pesquisei por fotos do conteúdo desta edição de outras pessoas (foi assim, aliás, que vim ter ao seu blog...) e deparei-me com uma foto com um conteúdo diferente do "nosso". Envio-lhe o link do artigo onde vi essa foto, e compare. Veja as duas fotos do artigo. Em vez do caderno Poemas de Paris existe um outro com um "3" na capa. Estou intrigado. Será engano?
http://shifter.pt/2015/06/revista-orpheu-reeditada-cem-anos-depois-do-seu-lancamento/
Cumprimentos,
Alexandre
Olá Alexandre! Boa pergunta :) Mas aquela capa das provas tipográficas da 3ª revista parece-me uma coisa muito improvisada! Se eu tivesse de apostar diria que a pessoa criou uma capa para que o caderno ficasse mais resguardado. Não creio que tenha havido qualquer engano com as nossas edições.
EliminarOlá João!
EliminarQuestionei a Tinta da China em relação à questão que apresentei, eis a resposta:
"Bom dia,
Muito obrigada pelo seu contacto.
Efectivamente circularam algumas fotografias na internet das provas da obra onde o n.º 3 surge com uma capa improvisada para o efeito.
Como certamente saberá, originalmente, o n.º 3 da revista Orpheu nunca chegou a sair e por isso não existe uma capa da mesma, de forma a mantermo-nos fiéis ao original optámos por não fazer uma capa e decidimos publicar as provas tipográficas exactamente como constam nos arquivos.
O caderno que recebeu que começa com os Poemas de Paris de Mário de Sá-Carneiro são as provas tipográficas do terceiro volume da revista Orpheu.
As imagens que viu na internet são de divulgação, para que o público em geral percebesse o que se tratava através de uma simples fotografia.
Qualquer dúvida ou sugestão não hesite em contactar-nos."
Depois, questionei também o facto das folhas não estarem separadas, e a resposta foi a seguinte:
"Bom dia,
Todo o aspecto físico desta edição prende-se com o facto de nos querermos manter o mais fiéis possível aos originais.
Se reparar no marcador vem inclusive mencionado que o mesmo tem a função de corta-folhas.
Era comum os livros na época serem publicados desta forma, com as folhas por separar. Surgiram assim os lindíssimos corta-folhas que actualmente estão quase extintos.
Mais uma vez agradeço o seu email.
Cumprimentos"
Pelos vistos, a situação é normal!
Cumprimentos,
Alexandre
Obrigado pela partilha Alexandre! Sim, as folhas pareceu-me normal porque comprei livros da época com a mesma característica e, tendo em conta que são edições numeradas e que a tiragem não é muito grande, a Tinta-da-china não deixaria passar uma versão com um "defeito" tão óbvio.
EliminarComo digo no artigo: adoro o conceito, a edição é excelente, mas eu dispensava o charme das folhas não separadas, porque me parece quase herético ter de cortar as folhas de algo tão bonito. Mas pronto, peguei numa faca e fiz-me à vida :)