Crescemos a pensar que somos únicos. A sociedade hedonista
impulsiona-nos a celebrar a nossa individualidade, a afirmar-nos por
aquilo que nos distingue. Mas Dulce Maria Cardoso levanta uma questão
interessante em “Em busca d’eus desconhecidos”, o conto que abre o primeiro
número da Granta Portugal, editada pela Tinta da China: será que o nosso “eu” é diferente dos outros “eus”?
Ou será que camuflamos a igualdade dos “eus” nas nossas experiências próprias?
Dulce Maria Cardoso explora as fragilidades do “eu”, uma
entidade que nem sequer é única em nós (com o tempo aparecerão vários “eus”),
que muitas vezes se define não por características intrínsecas mas por desejos
aspiracionais e que, em última análise, depende do reconhecimento dos outros.
As ideias são interessantes, o que não significa que dessem
origem a um texto coeso e que criasse empatia. Podia ser apenas uma amálgama de
pensamentos, que leríamos sem olhar para trás. Mas quem já leu Dulce Maria
Cardoso sabe que a sua escrita não é assim, que as suas ideias se metamorfoseiam
em episódios que nos são familiares, porque também os vivemos, porque
conhecemos aquelas personagens, porque, no fundo, há mais a tornar-nos
semelhantes do que distintos.
E na simplicidade das imagens, numa escrita dialogante em
que “eus” interagem, vai-se criando uma reflexão memorável, uma excelente
abertura para uma Granta que promete muito.
Adorei a nova cara do blog
ResponderEliminarObrigado! Agora ficará assim por um bom tempo :)
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