terça-feira, 8 de outubro de 2013

Desbloqueadores de conversa sobre literatura: O Prémio Nobel da Literatura? Não é eleito pelo Professor Marcelo?


Todos os anos, no início de Outubro, um escritor ascende ao estatuto de Deus. Por muitos detractores que possa ter, o seu nome será inscrito na memória colectiva pelos anos vindouros, a sua obra chegará a mais países, as livrarias serão nos próximos meses invadidas pelos seus livros, muitos livros que, legitimados pelo Prémio Nobel, serão comprados com garantia de qualidade. Mas como ascende um escritor ao Prémio Nobel da Literatura?

Bom, para começar ajuda ter uma vasta e elogiada obra ou, em alternativa, ter nascido num país nórdico (o facto de haver muitos Prémios Nobel destes países não terá certamente nada a ver com o facto de o órgão que elege o premiado ser a Academia Sueca). Mas será este processo de eleição uma experiência mística, em que uma pitonisa com ligação directa ao Olimpo se apresenta perante a Academia Sueca anualmente, sussurrando em transe o nome do eleito? De maneira nenhuma. Receber o Prémio Nobel será certamente uma experiência transcendental, mas o processo de eleição está longe de o ser.

Na próxima 5ª feira vamos conhecer o laureado de 2013, mas na verdade tudo começou há algum tempo atrás, não na ilha do Sol, mas em Setembro do ano passado, altura em que o Comité do Nobel da Literatura enviou convites a quem reunia condições para nomear o próximo premiado. Quem foram os nomeadores? Os membros da Academia Sueca e outras academias, instituições e sociedades equivalentes a nível internacional, professores de literatura e linguística, anteriores laureados e os presidentes das sociedades de autores dos diferentes países. Os nomeadores tiveram até 31 de Janeiro para remeter as suas nomeações ao Comité, que avaliou a legitimidade da sua proveniência (para garantir que apenas nomeou quem o podia fazer), apresentando à Academia uma lista inicial para ser validada. A Academia, no seu site, alerta: «It often happens that the same names are put forward time after time, until the nominee either wins the prize or dies or the sponsors give up.»

Ora bem, o Comité reuniu a lista dos nomeados dos nomeadores qualificados e apresentou-a à Academia, que com base nela tomou uma decisão, certo? Não é bem assim. Acontece que a lista de nomeados é sempre alvo de uma censura inicial, na qual são retirados pelo Comité nomes que a Academia nem se predispõe a avaliar, nomeadamente, escritores científicos cujo trabalho não tem valor literário, escritores de qualidade duvidosa e escritores nomeados por outras razões que não pelos seus méritos literários. O Comité, constituído por 4 ou 5 membros da Academia, tem por isso um papel determinante, condicionando de forma não muito clara (existem critérios exactos para eliminar nomeados com base num critério de qualidade?) os nomes que serão considerados pela Academia.

O trabalho do Comité resultou então numa lista preliminar de cerca de 20 candidatos que foi apresentada à Academia Sueca em Abril, que a aprovou, devolvendo-a ao Comité, que teve a missão de a reduzir aos 5 nomes prioritários e apresentá-los à Academia em Maio (lista que ainda pôde ser alvo de alterações). Seguiu-se um Verão de ponderação, em que os membros da Academia leram as obras dos 5 candidatos, preparando-se para as sessões de aceso debate que decorreram no mês de Setembro, até que no início deste mês mais de metade da Academia Sueca chegou a acordo relativamente ao vencedor.


E pronto, ao vencedor resta celebrar no dia 10 de Outubro e a nós resta-nos arranjarmos espaço na prateleira para mais um autor. Quem será o vencedor este ano? A minha aposta vai para um norte-americano (EUA ou Canadá), sendo os meus favoritos a Alice Munro e o Philip Roth, mas acredito que seja possível que o eleito seja Cormac McCarthy ou, quem sabe, Joyce Carol Oates. A ver vamos…

5 comentários:

  1. Torço pela Joyce pois já li 3 livros dela

    ResponderEliminar
  2. BINGO!!!
    E já agora que livros da Alice Munro recomendas :)

    ResponderEliminar
  3. Li dela o "A Vista de Castle Rock" e adorei. Acho que é o livro ideal para quem não é um grande fã de contos, como é o meu caso. Mas em breve vou ler outros, nomeadamente o "Amada Vida", que é considerado pela crítica o melhor livro dela (e será, em princípio, o último). Escreverei depois sobre eles.

    ResponderEliminar
  4. A Alice Munro ganhou o Nobel da Literatura em 2013.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, eu sei. O artigo foi publicado antes de ela o ter ganho. Voltei a partilhá-lo porque é um tema interessante e que não perde a actualidade.

      Eliminar