Todos os anos, no início de Outubro, um escritor ascende ao
estatuto de Deus. Por muitos detractores que possa ter, o seu nome será
inscrito na memória colectiva pelos anos vindouros, a sua obra chegará a mais
países, as livrarias serão nos próximos meses invadidas pelos seus livros,
muitos livros que, legitimados pelo Prémio Nobel, serão comprados com garantia
de qualidade. Mas como ascende um escritor ao Prémio Nobel da Literatura?
Bom, para começar ajuda ter uma vasta e elogiada obra ou, em
alternativa, ter nascido num país nórdico (o facto de haver muitos Prémios
Nobel destes países não terá certamente nada a ver com o facto de o órgão que
elege o premiado ser a Academia Sueca). Mas será este processo de eleição uma
experiência mística, em que uma pitonisa com ligação directa ao Olimpo se
apresenta perante a Academia Sueca anualmente, sussurrando em transe o nome do
eleito? De maneira nenhuma. Receber o Prémio Nobel será certamente uma experiência
transcendental, mas o processo de eleição está longe de o ser.
Na próxima 5ª feira vamos conhecer o laureado de 2013, mas na
verdade tudo começou há algum tempo atrás, não na ilha do Sol, mas em Setembro
do ano passado, altura em que o Comité do Nobel da Literatura enviou convites a
quem reunia condições para nomear o próximo premiado. Quem foram os nomeadores?
Os membros da Academia Sueca e outras academias, instituições e sociedades
equivalentes a nível internacional, professores de literatura e linguística,
anteriores laureados e os presidentes das sociedades de autores dos diferentes
países. Os nomeadores tiveram até 31 de Janeiro para remeter as suas nomeações
ao Comité, que avaliou a legitimidade da sua proveniência (para garantir que
apenas nomeou quem o podia fazer), apresentando à Academia uma lista inicial
para ser validada. A Academia, no seu site, alerta: «It often happens that the same names are put
forward time after time, until the nominee either wins the prize or dies or the
sponsors give up.»
Ora bem, o Comité reuniu a lista dos nomeados dos nomeadores
qualificados e apresentou-a à Academia, que com base nela tomou uma decisão,
certo? Não é bem assim. Acontece que a lista de nomeados é sempre alvo de uma
censura inicial, na qual são retirados pelo Comité nomes que a Academia nem se
predispõe a avaliar, nomeadamente, escritores científicos cujo trabalho não tem
valor literário, escritores de qualidade duvidosa e escritores nomeados por outras razões
que não pelos seus méritos literários. O Comité, constituído por 4 ou 5 membros
da Academia, tem por isso um papel determinante, condicionando de forma não
muito clara (existem critérios exactos para eliminar nomeados com base num
critério de qualidade?) os nomes que serão considerados pela Academia.
O trabalho do Comité resultou então numa lista preliminar de
cerca de 20 candidatos que foi apresentada à Academia Sueca em Abril, que a
aprovou, devolvendo-a ao Comité, que teve a missão de a reduzir aos 5 nomes
prioritários e apresentá-los à Academia em Maio (lista que ainda pôde ser alvo
de alterações). Seguiu-se um Verão de ponderação, em que os membros da
Academia leram as obras dos 5 candidatos, preparando-se para as sessões de
aceso debate que decorreram no mês de Setembro, até que no início deste mês mais
de metade da Academia Sueca chegou a acordo relativamente ao vencedor.
E pronto, ao vencedor resta celebrar no dia 10 de Outubro e
a nós resta-nos arranjarmos espaço na prateleira para mais um autor. Quem será
o vencedor este ano? A minha aposta vai para um norte-americano (EUA ou Canadá),
sendo os meus favoritos a Alice Munro e o Philip Roth, mas acredito que seja
possível que o eleito seja Cormac McCarthy ou, quem sabe, Joyce Carol Oates. A
ver vamos…
Torço pela Joyce pois já li 3 livros dela
ResponderEliminarBINGO!!!
ResponderEliminarE já agora que livros da Alice Munro recomendas :)
Li dela o "A Vista de Castle Rock" e adorei. Acho que é o livro ideal para quem não é um grande fã de contos, como é o meu caso. Mas em breve vou ler outros, nomeadamente o "Amada Vida", que é considerado pela crítica o melhor livro dela (e será, em princípio, o último). Escreverei depois sobre eles.
ResponderEliminarA Alice Munro ganhou o Nobel da Literatura em 2013.
ResponderEliminarSim, eu sei. O artigo foi publicado antes de ela o ter ganho. Voltei a partilhá-lo porque é um tema interessante e que não perde a actualidade.
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