Há sempre um professor que cruza o nosso caminho, mudando-nos
a vida. Alguém cujas capacidades admiramos, que nos ensina a olhar o mundo,
dando-nos ferramentas para que consigamos sobreviver na selva a que comummente
se chama sociedade. No meu caso tive a sorte de ter três professoras a
desempenhar esse papel: Ana Maria Vilhena (professora de Português), Clara
Lopes (professora de Francês) e Margarida Serrano (professora de História). Todas
elas acompanharam os meus últimos anos no Liceu, em Setúbal, e depois, como
normalmente acontece nas relações professor/aluno, seguimos os nossos caminhos.
Eu fui para a faculdade e elas por lá ficaram, a exercer a sua magia sobre
novas gerações. Separámo-nos mas nunca as esqueci.
Quis o destino, e as maravilhas das redes sociais, que a
professora Ana Maria Vilhena voltasse a entrar na minha vida há uns meses e com
uma boa notícia: um livro prestes a sair. Desde o primeiro momento fiquei
ansioso pelo lançamento do livro, por poder ler algo de alguém que contribuiu tanto
para definir a minha relação com a literatura, que me ensinou a olhar
criticamente para a um livro, a fazer-lhe as perguntas certas e a conseguir ouvir
as suas respostas. O lançamento do livro, que tão a propósito se intitula “Fiapos de
Tempo”, aconteceu no passado Sábado na livraria Leya na Barata e foi uma verdadeira viagem
ao passado. Quis também o destino que a apresentação do livro fosse feita por
outra das professoras com lugar no meu Olimpo pessoal: a professora Clara
Lopes.
Ouvir as duas a falar sobre aquele livro foi um momento
muito especial para mim. Por momentos fechei os olhos e estava de novo sentado
na fila da frente, nas aulas, a ouvi-las discorrer sobre a poesia de Antero de
Quental, ou sobre gramática francesa (que eu tanto gostava, vá-se lá perceber
porquê!). E ali estavam as duas a falar de forma apaixonada sobre “Fiapos de
Tempo” e nas suas palavras, na forma articulada como desenvolviam as suas
ideias, percebi o quanto de mim vem delas, daquilo que me ensinaram.
“Fiapos de Tempo” começou com a minha professora Ana Maria
Vilhena a pesquisar sobre a sua família. À medida que os factos se foram
juntando foi surgindo perante si, de forma cada vez mais definida, a figura de
Jacinto Maria, um homem conhecido na família pelo seu temperamento difícil e
atitudes pouco cavalheirescas (no mínimo), que na verdade era também um
revolucionário sindicalista e um feroz republicano, cujas convicções políticas
lhe valeram alguns dissabores durante a 1ª República. E é em torno deste homem
que Ana Maria Vilhena constrói a história do livro, entre o romance e o biográfico, que terminará no início do
Estado Novo.
Estou cheio de vontade de lê-lo, o que farei assim que
acabar o “Fugas” da Alice Munro. Nunca vos recomendaria um livro antes de o ler
(quanto muito posso apontar-vos os principais livro de um autor com base em
críticas e prémios), mas neste caso vou assumir o risco, porque conhecendo a
professora Ana Maria Vilhena estou certo que nada escrito por ela poderá ter
pouca qualidade. Portanto, corram para a Leya na Barata e comprem o livro ou,
se forem mais comodistas, podem encomendá-lo no site do Sítio do Livro.
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