O poder da oratória na política foi-se perdendo,
acompanhando o crescente descrédito da palavra dos políticos. Parece-nos por
isso exótico o mundo que Ryszard Kapuścińsk nos apresenta, em que países clamam
pela liberdade, gente alheia aos media toma decisões com base em contactos
directos que tem com os políticos, e jornalistas idealistas colocam a sua vida
em risco para cobrir acontecimentos que lhes parecem incontornáveis. Há neste
mundo uma inocência comovente, de quem ainda não foi pervertido. Mas será mesmo
assim? Não me parece que usar o racismo como resposta ao racismo seja um acto
inocente…
“Esboço para um Livro” é um texto interessante de Ryszard
Kapuścińsk, que nos dá que pensar, sem ser politicamente correcto, embora não
percebamos exactamente onde é que o tema do “EU” encaixa, mas esse é um
problema editorial que nada tem a ver com Kapuścińsk. Há um estilo jornalístico
muito vincado no texto (já vos disse que Kapuścińsk é um conceituado jornalista?)
e confesso que, desde o desaire de “Por Quem os Sinos Dobram” do Hemingway, a
minha relação com híbridos de jornalismo e literatura nunca mais foi a mesma. Talvez
por isso sinta que falta uma dinâmica narrativa mais forte, capaz de
prender e marcar o leitor. Mas não deixa de ser uma leitura agradavelmente
descontraída.
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