Devastação. Espaços inóspitos em que a vida já não existe.
Apenas resquícios, abandonados no tempo, destruídos e imóveis. Assim é a
atmosfera criada por João Silveira em “GKJMA”.
Sempre no Japão, entre Gunkanjima, a abandonada ilha com a forma
de um navio de guerra, outrora habitada sobretudo por famílias de mineiros, e Aokigahara,
a famosa floresta dos suicídios, um personagem sem nome remói recordações
incómodas de um tempo que se perdeu.
Numa escrita em prosa, mas incapaz de não ser poética, entre
episódios que afloram à memória e que se confrontam com um hino heroicamente
nacionalista (tão longe da realidade, mas não o são todos?), o espaço é
constantemente descrito e, através das descrições, as emoções do narrador
vão-nos sendo passadas. Dele saberemos pouco, porque também não há muito para
saber. É esse o preço da repressão da individualidade. Esse e o desamparo que
se sente quando se vê privado daquilo que sempre se tivera como certo. E então,
“quando nada mais existe – porque nada mais existe -, caminhar para onde nada
existe.”
Gosto sobretudo do último texto. Depois da contenção, uma
enxurrada de emoções, o pedido de perdão de quem, em frases entrecortadas,
tem como último destino a floresta dos suicídios. Tanta coisa dita em tão
poucas palavras.
Se “GKJMA” tem um defeito é o saber-nos a pouco. Queremos
mais, visitar outras memórias, conhecer novos lugares, perder-nos na
fluidez de uma escrita económica, que procura constantemente a perfeição.
Um livro editado pela
Artefacto, em que a qualidade da escrita é igualada pelas misteriosas ilustrações
de Rita Faia.
Classificação: 15/20
Classificação: 15/20
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