Quando pensamos no Prémio Nobel da Literatura, pensamos em
escritores sonantes. Mas quando
analisamos a listagem divulgada de nomeados ao prémio até 1950, especificamente os de origem portuguesa, deparamo-nos com 6 nomes, 4 dos quais, a bem da
verdade, são ilustres desconhecidos.
A entrega dos portugueses à saudade é directamente proporcional
à sua falta de memória (quanta ironia) e certamente não espantará ninguém que
autores que há menos de 100 anos eram considerados incontornáveis, sejam hoje
apenas nomes que nada nos dizem. Que tal lutarmos contra essa tendência tão
nacional e, por minutos, dedicarmos a nossa atenção a estes escritores
esquecidos? E, quem sabe, comprar uns livrinhos...
João da Câmara
O primeiro nomeado português ao Nobel da Literatura era um
fidalgo, que se dedicou sobretudo ao teatro, tendo escrito cerca de 40 peças
durante a sua vida. Alcançou particular sucesso com dramas históricos de cariz
patriótico muito ao estilo romântico, nomeadamente “D. Afonso VI”, “Alcácer-Quibir”
e “O Beijo do Infante”, sendo também marcantes os seus dramas realistas – “Os
Velhos” e “Rosa Enjeitada”- e alguns simbolistas (na nomeação ao Nobel era
referida a peça “Meia-Noite”).
Surpreendentemente, tendo em conta o quão pouco conhecido é
João da Câmara actualmente, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM) publicou o teatro completo deste autor em 4 volumes.
João Bonança
Primeiro sacerdote, depois jornalista, e por fim escritor,
consta que João Bonança terá sido autor da "Historia da Luzitania e da
Iberia", conseguindo a proeza de ser ainda mais desconhecido do que João
da Câmara.
Consegue-se comprar o "Historia da Luzitania e da
Iberia" em alguma livraria? Conseguir, consegue-se, mas apenas em
alfarrabistas e a preços exorbitantes. Confiram na loja online da Avelar Machado.
António Corrêa D’Oliveira
E o homem português mais vezes nomeado para o Nobel da Literatura
é…um perfeito desconhecido. O facto de ter sido nomeado 15 vezes nas décadas de
30 e 40 ao Nobel não será alheio ao facto de a sua poesia ter um forte pendor
patriótico e ser considerado o poeta do regime.
Onde comprar livros deste autor? Nem é preciso procurar
muito. Na loja online da Bertrand encontram o livro “Correspondência de Trindade Coelho Para António Corrêa D'Oliveira” e, na da Bulhosa, o “A Família é o Lugar”. Encontram-se também em alfarrabistas alguns livros,
nomeadamente “Os Teus Sonetos” e “Auto das Quatro Estações”.
Maria Madalena de Martel Patrício
Dois factos dignos de nota: Martel Patrício ocupa o segundo lugar em termos
de número de nomeações ao Nobel da Literatura (quem diria que seria uma
mulher?!); e isto é praticamente tudo o que há a dizer sobre ela, uma vez que o seu
rasto na internet é quase inexistente.
Teixeira de Pascoaes
Finalmente um nome conhecido! Mas o que há a dizer sobre
Pascoaes? Quase um eremita, foi uma espécie de figura mística que dedicava a
sua escrita à exploração da saudade, tendo sido um dos nomes cimeiros do movimento Renascença
Portuguesa. Uma espécie da líder espiritual para poetas como Eugénio de Andrade e Mário Cesariny.
Se procurarem nas livrarias, em princípio não terão
dificuldades em encontrar livros do Teixeira de Pascoaes, mas em caso de
dificuldade a solução está no site da Assírio & Alvim, editora que tem
publicado de forma exaustiva as suas obras.
Júlio Dantas
E por último, o grande Júlio Dantas. Ou melhor dizendo, o
pobre Júlio Dantas, esse escritor maldito, contra quem foi escrito um
manifesto que, ironicamente, será para as gerações futuras um dos únicos
testemunhos da sua existência. Dantas era no seu tempo um intelectual de
craveira, um dos mais prestigiados dramaturgos portugueses, tendo “A Severa” e “A
Ceia dos Cardeais” um lugar de destaque entre as peças de teatro nacionais.
Mas num país que precisava mudar, o tradicionalismo de Dantas condenou-o como conservador, e o seu nome foi considerado em certos círculos como o símbolo da
cultura a derrubar.
A eficácia deste movimento foi tão grande que Júlio Dantas
desapareceu dos catálogos das editoras e das livrarias, renegado para os
alfarrabistas. Na loja Vintage da Pó dos Livros encontra-se uma edição de “A Ceia dos Cardeais”, havendo também vários livros antigos do autor na Avelar
Machado, entre os quais “A Catedral”.
Sem comentários:
Enviar um comentário