Equilíbrio. A boa escrita é um jogo de equilíbrio, um tapa e
destapa constante que envolve o leitor, proporcionando-lhe uma viagem
emocional, e não apenas a leitura das
palavras que alguém escreveu. Seria demasiado fácil para Simon Gray
apresentar-nos um relato dramático da doença e dos inconvenientes da velhice,
ainda por cima no formato de diário, tão convidativo a um tom excessivamente
confessional e frequentemente indulgente. Mas Simon Gray não quer lágrimas, se
algo o move é a partilha das histórias e dos pensamentos que ainda tem em si.
A doença e a velhice estão lá, mas quase sempre vivenciadas
por outras pessoas: Harold Pinter, por exemplo (sim, estamos a falar do
vencedor do Prémio Nobel da Literatura), ou um homem cujas peripécias Simon
acompanha ao longe, durante as férias, e a que carinhosamente chama o “Sr.
Alzheimer”, embora no final comece a ter dúvidas que ele tenha de facto Alzheimer.
Na preocupação com a doença de Harold Pinter percebe-se um efeito espelho, uma
preocupação consigo próprio e com a doença que o assombra, mesmo que
inconscientemente, ou não fosse ele um fumador convicto.
Pelo meio há histórias de infância, algumas melancólicas (o
tempo passado na casa dos avós), outras divertidas (a obsessão pela literatura de
laivos eróticos de Hank Janson). Há também teorias sobre a importância
histórica das hemorróidas, silenciosos conflitos com outros hóspedes pela
conquista do melhor lugar no areal do hotel e breves momentos em que o cansaço
e um sentimento de derrota se apoderam da escrita.
E é nesta gestão daquilo que nos conta que se revela a
excelência de Simon Gray, que domina como ninguém a técnica do diário, à qual
confere um registo de oralidade que torna a leitura ainda mais envolvente. Na
verdade não estamos a ler algo, estamos a conversar com um amigo, um amigo com
muito para contar. Obrigado Granta.
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