domingo, 28 de dezembro de 2014

Não voltarei a ler Lobo Antunes


Imaginem-se num país estranho. O chão parece todo coberto de mármore rosa, mas quando olham de perto percebem que são reles placas de vinil pintadas. E pensam “onde está o reino de mil maravilhas que me foi prometido?”. Rumam sem rumo, procurando algo que faça a viagem valer a pena. De repente dão por vós junto a uma escadaria enorme, íngreme, com minúsculos degraus. A sinalética indica que no topo da escadaria há um restaurante paradisíaco, digno de receber os deuses sedentos de ambrosia. A custo, decidem subir, e vão andando e andando, já vos dói os calcanhares, escorregam uma série de vezes, quase desistem a meio e, quando já as últimas forças vos abandonavam, chegam ao topo. E à vossa espera… a maior chafarica de sempre! Cadeiras velhas e desconfortáveis, baratas pelo chão, com sorte comem um prego de pão duro e carne cheia de nervo. Para mim ler Lobo Antunes foi isto.

Li o “Exortação aos Crocodilos” há 7 anos. Foi-me oferecido por uma grande amiga, a Sílvia, que coitada mais não fez do que satisfazer um desejo meu e é em nome dela que aceito que este livro permaneça sob o meu tecto. Para perceberem a dimensão da desgraça, ia eu na página 200 quando me apercebi que as narradoras do livro eram 4 mulheres e não apenas 3 e segui em frente, como se nada fosse, nem sequer ponderando voltar ao início. O estilo de escrita, muito baseado em vozes que se emaranhavam, em constantes movimentos de aproximação e afastamento, até me pareceu interessante, mas noutro contexto. Não ali. Tudo era tão estéril, tão masturbatório… Mas mantive-me fiel ao meu princípio de dar uma segunda hipótese a escritores e predispus-me a voltar a Lobo Antunes no futuro. Com esse objectivo em mente, há dois anos comprei na Feira do Livro o “O Manual dos Inquisidores” e coloquei-o em lista de espera, sem pressa.

Cruzei-me pouco com Lobo Antunes nestes anos. Fui ouvindo algumas declarações dele, polémicas por norma, mas já conhecia a sua fama de quando passei pelo Cenjor e uma entrevista que lhe foi feita pela Isabel Stilwell, penso eu que para o Diário de Notícias, era apresentada como exemplo do que não fazer. Mas foi no início deste ano, também por causa da Sílvia, que me ofereceu o “Os Escritores (Também) Têm Coisas a Dizer”, que voltei a contactar com Lobo Antunes mais de perto. A entrevista dele ao Carlos Vaz Marques incomodou-me, mas segui em frente, e até já estava convencido a ler o “Explicação aos Pássaros” quando li há poucas semanas outra entrevista de sua excelência no Diário de Notícias, que eu qualificaria como uma das coisas mais lamentáveis de sempre. Não por culpa do jornalista, coitado, que depois deve ter sido colocado a soro para limpar o organismo (um banho de salva, também não era mal pensado). Tanto disparate, tanta arrogância, tanta maldade proferida por alguém que diz considerar a bondade aquilo que mais admira nas pessoas. E assim fui empurrado para uma resolução: expurgar Lobo Antunes da minha vida. Não, não voltarei a ler Lobo Antunes. Já doei o “O Manual dos Inquisidores” a uma amiga. E passei estas semanas a recolher pérolas desta pessoa adorável para fundamentar a minha decisão.

Atenção: isto não quer dizer que eu considere que temos de gostar do escritor para gostar da obra, por norma a figura do escritor é-me indiferente, mas o Lobo Antunes esgotou a minha paciência e não quero perder mais tempo com ele. Prossigam neste texto por vossa conta e risco. Se são sensíveis a incoerências, ao chico-espertismo e carícias ao próprio ego fujam já, que o que se segue não é bonito.


A genialidade humilde do melhor de sempre


Lobo Antunes acha-se uma pessoa desinteressante. Ele não importa nada, o que importa são os livros. Mas os livros, é impossível falar deles. Ora, o que fazer então quando o autor não interessa e não se pode falar dos livros? Alguns de vocês, maldosamente, pensarão em “estar calado”, mas há que desafiar essas imagens feitas e falar desalmadamente, ter quase um guião montado que se repete de entrevista em entrevista. Dizer que se detesta entrevistas em entrevistas dadas no espaço entre entrevistas. Falar, falar, falar.

E porque os livros valem por si, e não precisam de mais nada, façam-se vídeos promocionais. Em que o autor se senta naturalmente junto a um piano, um candeeiro e um poster, que por acaso ali se encontram, e fala acompanhado por uma toada melancólica, risos em câmara lenta, citações e palavras que surgem para logo se desvanecerem. E viva a literatura pura!



Numa entrevista publicada na Única em 2010, Lobo Antunes falava do início da sua vida como escritor. “Ao contrário da minha família, que pensava que eu ia acabar na miséria, a vender pensos rápidos, eu tinha a certeza que não. Estava seguro do meu génio. Era uma coisa que não oferecia qualquer discussão.” Confiante o jovem Antunes, que há umas semanas afirmava no Público que “todo o escritor se acha o melhor senão não vale a pena escrever. Para não ser o melhor não vale a pena”, questão que felizmente para ele não é um problema, que sem pejo nenhum disse, numa entrevista à Fátima Campos Ferreira emitida pela RTP, “eu acho que sou o melhor”.

Mas se pensam que esta atitude revela falta de modéstia estão completamente enganados. Vejam bem, também na entrevista da Única, Lobo Antunes dizia: “Vou ficar. Estive a ler o texto de um crítico do "El País" que diz que daqui a cinco mil anos vou ser lido com paixão. Acho que ele tem razão.” No fundo é apenas uma vontade muito grande de não contrariar um crítico do El País, é um gesto de generosidade. Mas espera lá… o Lobo Antunes de 2014, no Diário de Notícias, quando confrontado com a excelente recepção que tem por parte da crítica portuguesa, e não apenas da internacional, não disse “não estou a falar em crítica de jornal, impressionista, mas da séria”? Estou algo confuso! Então a crítica em jornais é má, mas se for no El País a louvar o escritor já é boa? Mas se for em Portugal, com o mesmo louvor, já é má? E se não for a louvar, no estrangeiro? Muitas questões, cujas respostas estarão certamente nas múltiplas vozes que ecoam na cabeça de Lobo Antunes.

Se há coisa que Lobo Antunes faz questão de dizer é que tem muito orgulho de ser português. E do que é que ele não tem orgulho? Da literatura  portuguesa. “Porque é que a literatura portuguesa é tão má?”, dizia este grande nacionalista na entrevista ao Público. E na entrevista ao Diário de Notícias que motivou este meu artigo há a menção a Eça e Camilo como “pigmeus”, isso mesmo, autores sem capacidade de competir com os seus contemporâneos estrangeiros. Eu acho que o Lobo Antunes devia tomar um banho de álcool e fazer um jejum mínimo de uma semana antes de sequer mencionar os nomes de Eça e Camilo, mas quem sou eu!

Mas há algo que o Lobo Antunes gosta mais de fazer do que criticar os outros. Diz-se que a vida é feita de equilíbrio, e de facto uma pessoa tão rigorosa e exigente com os outros terá depois dificuldades em aplicar os mesmos padrões a si próprio (vá, vamos fingir que acreditamos nisto). O auto-elogio é uma das artes Lobo Antonianas, geralmente atribuído a outra pessoa e proferido com aquele ar de enfado que é um dos charmes de tão prestigiada figura. “O Christian Bourgois editor francês da obra de Lobo Antunes, com quem não falava de livros, escreveu-me uma carta, antes de morrer, em que diz: "Tu és meu irmão e não há escritor no mundo que admire tanto." Nunca me tinha dito isto. Era um homem que parecia seco, mas por baixo dessa frieza aparente havia um calor humano extraordinário”, revelava humildemente à Única, com o bónus da falar de si na 3ª pessoa, o que se compreende perfeitamente porque o homem é uma instituição. Em várias entrevistas esse mesmo tipo de admiração é atribuída a Cardoso Pires, Eugénio de Andrade e Jorge Amado. Curiosamente são sempre pessoas que morreram… Minto, o Steiner também está neste grupo que, segundo o modesto escritor confessou ruborizado à Estante, “disse numa entrevista que tinha vergonha de me conhecer porque era pequeno de mais ao pé de mim.“ O Steiner é uma pessoa de uma enorme elegância e é possível que tinha dito tal coisa, movido sobretudo pela educação. O que não é nada elegante é o destinatário de tais comentários fazer deles gáudio em entrevistas. Mas como vamos ver a elegância não é um dos fortes de Lobo Antunes.


Não te perguntes o que podes fazer pela tua editora, critica-a em público


Ai o grupo Leya… Coitados. Não deve ser pêra doce ter de gerir alguém como o Lobo Antunes. O mais espantoso nesta frustrante história é que já em 2008, na entrevista ao Carlos Vaz Marques, Lobo Antunes se queixava que não estava contente com a editora, dizendo que “não havia, não se sentia, não se via uma linha orientadora, um projecto editorial coerente”. Mas, quando a Dom Quixote foi integrada na Leya prometeram-lhe que seria uma editora de literatura sem concessões (introduzir riso). Pois bem, passados 6 anos e livros da Ana Zanatti e da Rita Ferro, livros infantis da Madonna e um sortido de policiais de ar duvidoso, terá a Dom Quixote conseguido esconder as suas opções de Lobo Antunes?

Na famigerada entrevista ao Diário de Notícia diz-se em alto e bom som: “o Grupo Leya tem muitas deficiências e não tem editores no sentido em que eu o entendo. São pessoas que publicam livros.” Isto depois de desacreditar o Prémio Leya, dizendo que os livros que ganharam não têm grande qualidade. Quantos terá ele lido? Ah, e diz também que o prémio tem muito dinheiro. Esses escritores pá, uns lambões a abotoarem-se com aquela dinheirama. Pouca vergonha! E as editoras a darem dinheiro a escritores?! Este mundo está perdido. Se ao menos eles fossem como o Lobo Antunes que diz que os prémios lhe dão jeito, sobretudo quando vêm com dinheiro… O quê?! Ai, querem ver que há aqui outra incoerência!

Não digo que algumas das crítica do Lobo Antunes à Leya e à Dom Quixote não sejam merecidas. Mas a relação autor/editora deve ser de confiança e de interajuda, caso contrário, de que vale todo o trabalho? O autor tem todo o direito a fazer críticas, mas à porta fechada. Mais uma vez, uma questão de elegância. Em última análise, se não é ouvido, tem bom remédio: mudar de editora! O que nos leva à pergunta que não quer calar: o que prende Lobo Antunes à Dom Quixote? Falta de opção não será. Ele dizia ao Carlos Vaz Marques que não era questão de dinheiro, que ele se borrifava para isso. Então, porque não tornar-se um eremita literário numa pequena editora? É curioso que os autores que clamam independência e criticam a lógica comercial acabem sempre em grandes grupos, uns a fazerem vídeos, outros a gravarem cds… A superioridade moral é de facto algo fácil quando se limita à verborreia. Há uma expressão americana que encaixa aqui que nem uma luva: put your money where your mouth is!


Lobo Antunes versus Saramago: nem a morte os separa


A rivalidade entre os dois escritores é famosa, ou melhor, de Lobo Antunes com Saramago, porque para ser sincero nas vezes que vi Saramago a falar de Lobo Antunes foi para relativizar ou defender-se. Aliás, ler a entrevista a Saramago seguida à de Lobo Antunes em “Os Escritores (Também) Têm Coisas a Dizer”, de Carlos Vaz Marques, permite identificar facilmente diferenças de atitude. Podia ter feito desta rivalidade o centro do meu artigo, mas as duas referências que encontrei a Saramago em entrevistas do Lobo Antunes são suficientemente elucidativas e sinceramente, sendo eu um fã confesso de Saramago, quis poupar-me a mais irritações. Vou por isso ser sintético e directo, sem adjectivar muito o que foi dito, porque não há necessidade de fazê-lo.

Na entrevista já aqui mencionada a Carlos Vaz Marques, em 2008, a respeito da inclusão da Dom Quixote no grupo Leya, o entrevistador provocou-o referindo que assim Lobo Antunes e Saramago estão no mesmo grupo. A irritação é logo evidente e, entre afirmações de que nunca leu nada de Saramago (ler um pouquinho dos “Cadernos de Lanzarote” e folheou um ou outro romance – daqui a minha saudação às pessoas que formam opiniões sobre um livro folheando-o), saiu-lhe a seguinte frase: “Ó Carlos, se me quiser arranjar competições arranje-me pessoas do meu tamanho.” (Vamos fazer um pequeno intervalo para recuperar a calma. Acho que todos precisamos… É nestes momentos que uma pessoa gostaria de fumar.)

E perguntam vocês: o que é que pode ser pior do que autonomear-se melhor do que um escritor que venceu o Nobel? Fazer pouco desse autor depois de ele ter morrido. Lembram-se da história da elegância de que falava no início, acho que se havia um resquício dessa palavra que pudesse ser associado a Lobo Antunes, na próxima passagem tudo terminará. O ponto alto da entrevista publicada em Novembro no Diário de Notícia, a respeito do Nobel:

Lobo Antunes: (…) Se um português ganhasse aquele prémio, como é tão importante seria uma alegria para as pessoas da nossa terra.

Entrevistador: Isso foi o que disse José Saramago!

Lobo Antunes: Ele disse isso? Então em alguma coisa acertou. Ele disse que era uma alegria para os portugueses?

Entrevistador: Sim, que cresceram 3 centímetros.

Lobo Antunes: Ele disse isso… Então quantos metros não cresceu ele na própria cabeça. É um homem especial e tem de ser visto da maneira como ele era, mesmo que agora tudo se vá desvanecendo devagarinho.

Quem cresceu uns metros na sua própria cabeça foi certamente Lobo Antunes quando recebeu o Prémio Jerusalém. “O Prémio quê?!”, perguntam vocês. “O Prémio Jerusalém!”, respondo eu com um ar ainda mais incrédulo. Como é que é possível que não conheçam o Prémio Jerusalém, que é o mais prestigiante do mundo literário segundo… Lobo Antunes, o único português que o recebeu, em entrevista à Fátima Campos Ferreira. Diz a sabedoria popular que uma mentira mil vezes repetida se transforma em verdade. Vamos tentar. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. (estão a sentir alguma coisa?) O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. (do meu lado nada!) O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. O Prémio Jerusalém é o prémio literário mais prestigiante do mundo. (acho que isto não vai resultar…)


Em jeito de conclusão


De quem é a culpa disto tudo? Das pessoas. Porque são elas que legitimam este actos ao acharem que alguém genial pode ser arrogante e dizer o que lhe vêm à cabeça e que nós, pobres mortais, nos devemos prostrar e sentir-nos abençoados por podermos assistir. Para mim com um grande talento, vem uma grande responsabilidade, o que ainda torna menos desculpáveis actos pouco dignos.

Não ponho em causa o valor literário da obra de Lobo Antunes. Não gostei do que li, mas acredito que haja outros livros bons. Mas também acredito que não se encaixam naquilo que é para mim um livro bom, porque os malabarismos literários, quando não são bem sustentados em boas histórias, não fazem muito o meu género. E fazendo uma análise custo benefício, acho sensato que o meu caminho e o de Lobo Antunes não se voltem a cruzar. De qualquer forma, ele próprio dizia que ninguém escreve bons livros depois dos 70 e tal anos…

17 comentários:

  1. Entrei em Lobo Antunes precisamente com a Exortação aos crocodilos e gostei, mas tive de fazer um esforço mental para tentar entrar na obra e no estilo, depois seguiram-se outros, até me cansar de tantas personagens deprimidas e das imagens cruzadas em texto onde tinha dificuldade em me situar.
    Não digo nunca mais, cá em casa espera "O cu de Judas", mas reconheço que me irrita tanta arrogância e complexo de superioridade.

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    1. Não me apetece mais lê-lo. Acho que há autores que não merecem o esforço. Lá terei de me entreter a ler Saramago!

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  2. Pois eu gosto bastante de Lobo Antunes.
    Li o que escreveu no delito e pareceu-me pueril. Achei que havia desistido da ideia, infelizmente estava enganada.

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    1. Também li o comentário no Delito... triste

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    2. Pois eu acho muito bom! Uma verdadeira pedrada no charco. Venham mais textos assim.

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    3. Se calhar deviam mas é ter lido a entrevista de Lobo Antunes, em vez dos comentários; ela é que foi triste.

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  3. Que giro este texto. É raro ver alguém preocupar-se tanto em justificar (ou melhor, aprofundar) as razões de uma decisão - neste caso, a de não voltar a ler Lobo Antunes.
    Mas é engraçado que, há uns anos, tive a mesma necessidade de escrever um texto sobre ele http://pedrices.blogs.sapo.pt/425.html que depois completei http://pedrices.blogs.sapo.pt/5910.html
    Acho que a conclusão acaba por ser parecida. Eu não consigo decidir-me a nunca mais o ler. Mas compreendo tão bem essa decisão!

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    1. Olá Pedro e parabéns blogue! Acho que mesmo assim ficou com melhor opinião do Lobo Antunes do que eu... A minha decisão foi motivada mais pelas idiossincrasia do escritor do que por razões literárias, mas pela amostra que tive suspeito que a 2ª oportunidade que eu lhe poderia dar não seria frutífera. Enfim, o objectivo era fazer algo bem-humorado com os maus sentimentos que a entrevista ao DN me suscitou, aproveitando o prolífero material à disposição. Ainda bem que gostou!

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    1. Obrigado! Por vezes há demónios que têm de ser exorcizados.

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  5. Não tenho nada essa ideia.
    Já o encontrei em conferências e em feiras do livro. Sempre muito simpático e atencioso. Até me ofereceu 4 livros que eu não tinha.
    Este Senhor tem o dom de saber escrever sentimentos. Entendo que o que escreve não seja para todos, mas parece-me que o que diz em entrevistas é muitas vezes mal interpretado. Parece-me mais defeito do receptor que do emissor.
    Dou-lhe toda a razão acerca da Leya, é um polvo, não uma editora.

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    1. Beatriz, há atitudes que superam qualquer interpretação e que são elucidativas por si só. O tom jocoso que adoptei no artigo não elimina os disparates, as contradições, a arrogância do Lobo Antunes. Até pode ser um grande escritor, embora o que ele escreva não seja aquilo que me move (a julgar por aquilo que li), mas isso não lhe dá o direito de ofender a crítica portuguesa, a literatura portuguesa e a inteligência dos portugueses ao afirmar que o Prémio Jerusalém é o de maior prestígio internacional. Acho que ele é suficientemente inteligente para saber o que diz e com que efeitos, por isso atirar as culpas para as interpretações do receptor parece-me pouco satisfatório. E no meu artigo faço questão de realçar que o que me incomoda em relação à Leya não é a justeza ou não dos comentários, mas sim a deslealdade de alguém que trabalha com uma equipa e a mina ao mesmo tempo, e a hipocrisia de quem acha a sua editora má mas não muda para uma editora pequena e séria. Se acha a editora má, ele, um autor com tanta notoriedade, terá certamente outras de braços abertos para o acolher. Mas se calhar o polvo dá-lhe jeito...

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    2. Beatriz,

      Não passe um atestado de incompetência aos leitores das entrevistas; não cologue o ónus no receptor, responsabilize o emissor. Eis o que ele disse a respeito da crítica portuguesa:

      "Não estou a falar em crítica de jornal, impressionista, mas da séria. Sem a confusão das ideias com as paixões; do simpatizo com o autor, gosto do livro; do antipazo, tenho tendência para não gostar."

      O que há de ambíguo nisto? Ele acabou que equacionar toda a crítica portuguesa, como se fosse um grupo homogéneo, com má crítica, sem uma palavra de simpatia para críticos sérios que têm estudado a sua obra a fundo em Portugal. Ao meu lado tenho um livro de 600 páginas de Maria Alzira Seixo sobre os romances dele; também tenho livros de Ana Paula Arnaut. Quer explicar-me o que eu interpretei mal?

      A respeito de Eça de Queiroz:

      "Tenho muitas limitações a pôr ao Eça de Queirós... Quando falamos dos nossos escritores do século XIX, é ele e o Camilo, só que ao pé dos outros grandes escritores de outros países são dois pigmeus. O que têm que valha comparados com Melville?"

      Bem, afinal Eça não é um grande escritor; isto será uma grande surpresa para pessoas como o filósofo espanhol Miguel de Unamuno, que o admirava, o filósofo romeno Mircea Eliade, que o menciona com admiração no seu diário, e o crítico americano Harold Bloom, que considera A Relíquia uma obra-prima da literatura mundial. Para não mencionar os milhares de estudos realizados sobre Eça por todo o mundo: Espanha, França, Itália, Brazil, EUA, Reino Unido. De facto ao Eça falta o reconhecimento mundial que é seu por talento, é o problema de viver num país que não sabe exportar a sua cultrua, mas Lobo Antunes equaciona o ser desconhecido com ser inferior. E é este o homem que temos como embaixador da nossa cultura no estrangeiro! Mas talvez a Beatriz discorde e veja algo mais benigno do que eu nestas palavras sem dúvida muito ambíguas.

      A respeito de José Saramago:

      "Lobo Antunes: (…) Se um português ganhasse aquele prémio, como é tão importante seria uma alegria para as pessoas da nossa terra.

      Entrevistador: Isso foi o que disse José Saramago!

      Lobo Antunes: Ele disse isso? Então em alguma coisa acertou. Ele disse que era uma alegria para os portugueses?

      Entrevistador: Sim, que cresceram 3 centímetros.

      Lobo Antunes: Ele disse isso… Então quantos metros não cresceu ele na própria cabeça. É um homem especial e tem de ser visto da maneira como ele era, mesmo que agora tudo se vá desvanecendo devagarinho."

      Para grande horror de Lobo Antunes, ele partilhou uma ideia com Saramago; quando o entrevistador lhe disse isso, ele podia ter ter tido um comportamento cordial, tipo, "Bem, por uma vez na vida concordamos." Isso seria um gesto educado. Mas ele imediatamente teve de atacar o seu inimigo, que hoje não passa de um monte de cinzas e já nem se pode defender, como se a mera ideia de concordar com Saramago em algo lhe metesse nojo. Isso é degradante e nada ambíguo, mas talvez também aqui a Beatriz consiga detectar um subtexto que me escapou.

      Ficamos à espera da sua exegese.

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    3. Oh Miguel, lá estás tu com as tuas coisas! Tu vê bem, o que ele queria dizer nestes 3 pontos era: “gosto muito da crítica internacional”, “a literatura internacional é supimpa” e “que fofinho eu e o Saramago termos dito a mesma coisa”. Mas como ele é um escritor espectacular e que tem desafiar o leitor, disse isso de forma indirecta, para que todos nos deleitássemos com o seu enorme talento. Nós é que não estamos à altura de percebê-lo porque, se calhar, somos pueris. E eu com a minha mania de ligar a coisas como a honra e a coerência a criticá-lo por causa da Leya, pá! Um homem que se sacrifica a ficar num grupo que detesta para alimentar os seus pobres funcionários, por puro espírito cristão! Maldade, em todo o lado maldade…

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  6. Finalmente li este post e também eu não voltarei a ler Lobo Antunes. Nunca pensei que fosse tão deselegante na escolha das palavras. Além disso li a Explicação aos Pássaros e não fiquei bem impressionada .

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  7. Com base nesse argumento também não vai ler mais faulkner, céline ... Que deixaram literatura e não feitios.

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    1. Bom, logo no início do artigo digo: "isto não quer dizer que eu considere que temos de gostar do escritor para gostar da obra, por norma a figura do escritor é-me indiferente, mas o Lobo Antunes esgotou a minha paciência e não quero perder mais tempo com ele". É sobretudo uma questão de custo-benefício e noutros casos talvez a experiência de leitura compense as falhas pessoais dos autores.

      Mas convenhamos que é uma decisão mais emocional que racional. Os Direitos Inalienáveis do Leitor começam logo pelo direito a não ler, seja por que razão for. Eu tenho as minhas razões para não ler Lobo Antunes, talvez venha a ter outras para não ler outros autores, talvez decida ler autores que tenham comportamentos semelhantes ao Lobo Antunes porque acho que vou retirar mais da sua obra, quem sabe? Faz tudo parte dos meus direitos como leitor.

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