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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Recordar Doris Lessing


O momento em que um grupo de jornalistas anuncia a Doris Lessing que acabou de ganhar o Nobel da Literatura é um clássico, uma inesgotável fonte de diversão. “Oh Christ!” diz Lessing, como quem diz “Isto agora é que não vinha nada a calhar! Se eu soubesse não tinha ido às compras e tinha-me arranjado um bocadinho melhor”. A surpresa de Lessing era de resto bastante representativa do sentimento de quase todo o mundo literário.
  
Há uns meses li um artigo na New Yorker que vos recomendo vivamente, intitulado “Doris Lessing and the Perils of the Pseudonymous Novel” e que, a respeito da revelação de que J. K. Rowling tinha escrito um livro usando um pseudónimo, recorda um feito semelhante de Doris Lessing, que apresentou “The Diary of a Good Neighbour” a uma editora como sendo a primeira obra de Jane Somers. O livro foi absolutamente dilacerado por um jovem leitor contratado pela editora (o penitenciado autor do artigo, importa referir), facto que na altura gerou muita polémica. O que levanta muitas questões sobre os méritos próprios dos livros e a forma como o prestígio de um autor condiciona a crítica, mas isso será tema para aprofundar noutra altura.

Agora que Doris Lessing morreu, momento propício a reflexão, não deixa de ser importante referir que a edição das obras desta autora em Portugal tem sido errática e estranha, estando dispersas por várias editoras (Presença, Ulisseia, Europa-América, Cotovia…) e sem que"The Golden Notebook", o livro mais importante da autora, tenha sido publicado. 

Quanto à minha relação com Lessing, até ao momento comprei dois livros seus, “O Sonho Mais Doce” editado pela Presença e “Gatos e Mais Gatos” da Cotovia, mas confesso que ainda não li nenhum, pelo que não posso defender a sua qualidade literária, embora tenda a acreditar que um autor que ganhe o Nobel tem de ter qualidade (teoria que acidentes de percurso, como Herta Müller, me levam a questionar). Mas pode ser que alguma editora portuguesa se lembre entretanto que “The Golden Notebook” existe e nos surpreenda, compelindo-me a ler Doris Lessing com urgência. Será?