terça-feira, 22 de setembro de 2015

A shortlist do The Man Booker Prize 2015


E de 13 restam 6 livros na corrida para vencer o The Man Booker Prize 2015, um dos prémios literários de maior prestígio o mundo, ficando pelo caminho “Lila” de Marilynne Robinson, talvez a autora mais consagrada do grupo.

Dos 6 livros que integram a shortlist, 2 pertencem a autores ingleses (Tom McCarthy e Sunjeev Sahota), outros 2 a autores americanos (Anne Tyler e Hanya Yanagihara), havendo ainda lugar para o jamaicano Marlon James e o nigeriano Chigozie Obioma.

O vencedor será conhecido no dia 13 de Outubro, mas para já deixo-vos com um cheirinho de cada um dos livros.


“A Brief History of Seven Killings” de Marlon James




“Satin Island” de Tom McCarthy




“The Year of the Runaways” de Sunjeev Sahota

“The Fishermen” de Chigozie Obioma

“Part of the novel’s impulse is that I have been looking for a way to capture what I feel is an elemental dilemma of the situation in Nigeria: Why is it that Nigeria can’t progress? We have abundant oil, a strong elite educated class, a sizable youth population of 70 million under 35 years old. Why are we still backwards as a people? The issue I think lies in the foundation itself. The distinct tribes, like Yoruba and Igbo, they are their own states. They used to have no contact and they progressed in their own way. But then a colonizing force came in and said, “Be a nation.” It is tantamount to the prophecy of a madman. Why are we subscribing to this British idea of a nation? Why can’t we decide for ourselves?”



“A Spool of Blue Thread” de Anne Tyler

“The Whitshank family – Red and Abby, now in their early old age, and their two sons, two daughters and numerous grandchildren – cleave to the myth of family precisely because they lack an elaborate foundation story. Their “patriarch”, Junior, is Red’s late father, a carpenter who dreamed and schemed his way to establishing the family’s rather grand and much-admired house, which becomes central to both their story and the novel’s. The shortness of their family tree means “they didn’t have that many stories to choose from. They had to make the most of what they can get”, and such characteristics as they have managed to build up are pretty self-effacing: they pride themselves on not being melodramatic, and their tendency to pretend things are going to turn out fine even leads them to deny their own mortality. “Whitshanks didn’t die, was the family’s general belief. Of course they never said this aloud. It would have seemed presumptuous.” (Not to mention the fact that some of them have died already.)”



“A Little Life” de Hanya Yanagihara

“The novel, which is both a dislocating meditation on the trauma of child sexual abuse, and a moving tribute to the possibilities and limitations of adult male friendship and love, was widely greeted as a book of landmark honesty – “the most ambitious chronicle of the social and emotional lives of gay men to have emerged for many years” – on publication in America in the spring (though some critics found its graphic descriptions of sexual violence both voyeuristic and too much to bear).”

Excerto de um artigo do The Guardian.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A dependência dos livros – edição Agosto de 2015

Agosto já pertence ao passado, mas ainda estão bem presentes na minha memória as boas compras que fiz no mês que passou, graças sobretudo às excelentes promoções que já se tornaram um hábito no Verão.

A Wook é a esse nível sempre tentadora e voltou a não desiludir com “Para Onde Vão os Guarda-Chuvas”, o meu primeiro livro de Afonso Cruz, e “De Mim Já Nem Se Lembra” de Luiz Ruffato com 40% de desconto. E mais uma oportunidade para acrescentar um livro de Alice Munro à minha biblioteca, desta feita “Demasiada Felicidade”, que a Wook me acenava com 30% de desconto.

Também a Antígona fez das suas e entre vários livros em promoção aparecia o clássico ”Ondina” de La Motte-Fouqué a metade do preço. O que pode haver melhor do que isso? Só se a essa encomenda acrescentarmos outra de saldos da The Folio Society, e pouparmos cerca de 13 libras na compra de “Good Behaviour” de Molly Keane.

E só para não deixar dúvidas do sucesso das compras de Agosto, após uma busca desenfreada lá encontrei “Uma Aventura do Marquês de Bradomín” de Teresa Veiga, que se encontrava esgotado, à venda no site da livraria Sidarta a uns meros 7.5€. Pena foi pouco depois ter descoberto que a Tinta-da-China se preparava para reeditá-lo...

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Em estado crítico: “Pastoral Americana” de Philip Roth


O homem comum. Os seus sonhos normais. O desejo de ser feliz, de viver uma vida pacata e envelhecer junto daqueles que mais ama. Philip Roth não escreve sobre homens excepcionais, prefere expor as excepcionais vidas dos homens banais, as suas frustrações, medos e ridículos. Mas em “Pastoral Americana” Roth vai mais longe: constrói o paradigma do sonho americano – um belo atleta louro abastado casado com uma ex-miss – apenas para o destruir. Uma destruição repentina e gratuita, como o costumam ser os acontecimentos que mudam vidas.

Os problemas da família perfeita de Seymour Levov, conhecido como o Sueco, começam com a gaguez da filha, Merry, que surge inexplicavelmente como uma premonição. Levov teme que aquele problema seja um reflexo de algo de errado que se passa com a sua filha, mas pouco consegue fazer para ajudá-la. Os seus sentimentos de culpa aumentam quando, num momento algo irracional, decide ceder aos pedidos da filha para a beijar na boca. Aquele instante é vivido por Levov como um incesto, um quebrar de regras que potencialmente terá aberto as portas à loucura futura.

Merry, frustrada com a gaguez, por se sentir aquém das expectativas dos pais, à medida que vai crescendo começa a desenvolver uma obsessão por questões políticas, mais especificamente pela Guerra do Vietname. Esse sentimento transforma-se rapidamente num repúdio do estilo de vida americano e daí até Merry se envolver com as pessoas erradas é um passo. Levov assiste passivo à perda da sua filha, sem a conseguir controlar, temendo que o pior possa acontecer. E acontece.

Uma bomba explode perto da casa dos Levov matando uma pessoa. De uma idealista radical Merry passa a criminosa procurada. A vida dos Levov é estilhaçada pela bomba, com o Sueco a passar dias e dias a tentar perceber o que correu mal. "Porquê? O que fiz eu para a minha filha se tornar numa assassina?" pergunta Levov, enquanto a sua mulher se afunda numa depressão e a filha se mantém em fuga.

Mas por muito interessante que o enredo do livro seja, há alguns problemas a que Roth não quis ou não conseguiu dar resposta. O período após o rebentamento da bomba caracteriza-se pelas constantes ruminações de Levov, um contínuo “onde foi que eu errei!” que se torna cansativo. E alega-se então “mas esse cansaço faz todo o sentido, porque expressa o cansaço da própria personagem, suscitando no leitor sentimentos semelhantes”, ao que eu respondo com uma velha máxima: a mestria de um escritor revela-se na capacidade de invocar algo sem que o texto tenha de ter essa mesma característica. Suscitar no leitor uma sensação de cansaço é uma coisa, tornar o texto ele próprio cansativo é outra.

Mas o meu grande problema nem sequer é esse. O que de facto me incomoda é a estrutura escolhida por Roth, que dá a sensação de projecto concluído à pressa. Na verdade o livro começa com Zuckerman, um colega de escola que nos revela o mito do Sueco adolescente, o judeu louro que todos conquistava. Zuckerman encontra-se com Levov algumas vezes durante a vida, e já velho ele contacta-o para lhe pedir ajudanuma homenagem que está a preparar para o pai. Depois disso, numa reunião de antigos alunos, Zuckerman encontra Jerry, o irmão do Sueco, que lhe conta que o irmão morreu e que a sua filha é a “bombista de Rimrock”. E a partir desse momento Zuckerman relata-nos uma história idealizada do que terá sido a vida do Sueco. Acontece que, após criar esta parte inicial, com personagens bem delineadas, com a própria vida de Zuckerman a ser-nos apresentada, o livro abandona totalmente este plano e centra-se até à última página na história do Sueco. O pobre leitor, em negação, espera que no final o círculo se complete e que haja uma espécie de reflexão centrada de novo em Zuckerman, o que nunca acontece.

Perguntamos então: para quê? Para quê criar uma história paralela para depois simplesmente a abandonar? Porque não então começar directamente com a narração da história de Levov, eliminando Zuckerman? E para estas perguntas não há resposta, ou pela menos uma satisfatória. É assim porque Roth assim quis que fosse. Mas nem sempre o que o escritor quer é o que é melhor para o livro.

Bem conscientes das desilusões que “Pastoral Americana” nos proporcionou, caminhamos para o final curiosos, sem saber muito bem como irá Roth terminar um livro tão reflexivo, com tantas questões e nenhumas respostas. E o final é estranho, de um estranho que nos faz reler aquelas breves páginas repetidamente à procura de uma mensagem encriptada. Mas aos poucos e poucos apercebemo-nos de que o que Philip Roth nos quer dizer é que a vida é feita de manifestações espontâneas e irracionais de violência e que nunca estaremos prontos para lidar com elas. Mas mais do que isso, há em toda a história de Levov uma mensagem quase fatalista: por muito grandes que os horizontes sejam, a pequenez da vida sobrepor-se-á, porque não há potencial que possa fugir à capacidade destruidora do mundo.

“Pastoral Americana” fala de um tema muito caro aos americanos: a América. O orgulho de ser americano e o ódio pelo que a América representa. A América como terra das oportunidades e como símbolo supremo do mal, uma existência em dois pólos antagónicos que Roth reproduz na perfeição. E por isso se fala deste livro como um dos seus melhores, talvez mesmo como a sua obra-prima. Mas é uma afirmação justa? Infelizmente não.“Pastoral Americana” é um livro bom, mas está longe de ser o melhor que Philip Roth pode fazer. 

Classificação: 16/20