quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Candidatos portugueses ao Nobel da Literatura (parte 2)

Há 2 anos dediquei-me à hercúlea tarefa de calcorrear a base de dados de nomeados ao Nobel da Literatura até 1950, em busca de candidatos portugueses e publiquei nessa altura um artigo que agora se poderá considerar como uma primeira parte deste. Desde então a Academia disponibilizou mais dados, permitindo que acompanhemos o processo de nomeação até ao longínquo ano de 1964 e, desde 1950 até essa data, surgiram mais nomes de autores portugueses.

Na verdade são 4 os nomes portugueses apresentados ao julgamento da Academia entre 150 e 1964, um deles já anteriormente nomeado. Falo de Júlio Dantas, que em 1951 foi nomeado pelo antigo Primeiro-ministro sueco Hjalmar Hammarskjöld e pela Academia Brasileira. Mas como já falei com maior detalhe sobre este autor no artigo anterior, vou escusar-me a repetições e focar-me nos 3 nomes novos.


Ferreira de Castro


Sofrido escritor português que se viu obrigado a emigrar para o Brasil aos 12 anos e que, após algum sucesso no outro lado do Atlântico, volta a Portugal para uma vida de miséria, a que apenas o seu génio conseguiu pôr fim com a publicação de “A Selva”. Para quem muitas vezes quase nada teve para comer, as nomeações ao Nobel pelo professor dinamarquês Holger Sten e em 1952 pelo historiador João de Barros devem ter-lhe sabido particularmente bem. E melhor lhe teria sabido saber que não cairia no esquecimento, e que 40 anos depois da sua morte a Cavalo de Ferro assumiria o compromisso de trazer de volta ao grande público a sua obra.



Aquilino Ribeiro


De anarquista perigoso, várias vezes detido, a ilustre membro do Panteão Nacional, Aquilino Ribeiro teve uma vida muito atípica que nos legou uma obra que muitos consideram como uma das mais importantes das Letras portuguesas. A prová-lo está a nomeação em 1960 ao Prémio Nobel da Literatura pela Sociedade Portuguesa de Autores, que contou com a subscrição de nomes como Cardoso Pires, Vergílio Ferreira, Alves Redol, Vitorino Nemésio e Urbano Tavares Rodrigues. Também Aquilino sobreviveu às agruras do tempo, sendo de elogiar a persistência com que a Bertrand tem reeditado a sua obra.


Miguel Torga


Um nome incontornável da literatura portuguesa, Miguel Torga, de seu verdadeiro nome Adolfo Correia da Rocha, foi médico para além de escritor. Mas em vez de o distrair da escrita, a sua profissão fortaleceu a sua consciência do outro, já bastante alimentada pelas suas origens humildes. Torga foi continuamente nomeado ao Nobel entre 1959 e 1962, sempre pela mão de professores universitários, entre os quais Émile Planchard e Hernâni Cidade. Também a sua obra sobreviveu e tem merecido belíssimas edições da D. Quixote.



E em 2015? Vamos ter um Nobel de língua portuguesa?

É possível. As minhas apostas são exactamente as mesmas que no ano passado, porque os pressupostos se mantém. A Academia continua em dívida para com a língua portuguesa e África, o que torna Mia Couto numa possibilidade muito apetecível. Por outro lado, ao falar de escritores em língua portuguesa é difícil não olhar para o Brasil e Ferreira Gullar permanece em evidência, tendo alguma projecção internacional. Mas a Academia pode bem focar-se apenas no factor África e, se assim for, Ngũgĩ wa Thiong'o tem sido apontado como um favorito.

Mas este ano avanço com outro cenário: após entregar o prémio a Modiano, um autor quase desconhecido a nível internacional, talvez a Academia queira apresentar este ano um escritor de grande perfil. E nesse caso surge outra área geográfica onde proliferam grandes autores e escasseia o reconhecimento do Nobel: os EUA. Philip Roth é o nome óbvio, mas tendo parado de escrever parece-me pouco provável que a Academia o eleja, parecendo-me que há outra hipótese aliciante: Joyce Carol Oates. Mas os desígnios da Academia são insondáveis e quase certamente o escolhido será uma enorme surpresa para todos. Veremos, dentro de algumas horas…

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