terça-feira, 13 de outubro de 2015

Os novelos de vozes de Svetlana Aleksievitch


A 8 de Outubro a Academia Sueca voltou a fazer das suas, embora desta feita sem surpresas. O nome de Svetlana Aleksievitch era desde o ano passado dado como um dos favoritos e a Ladbrokes apontava-a como a escolha preferencial, o que não significa que a autora fosse um nome sonante para os leitores de todo o mundo, porque não o era. Aliás, um pequeno inquérito no site do Nobel revela que em 7 mil pessoas 87% não leram nada de Svetlana Aleksievitch, grupo em que obviamente me insiro.

E  assim foi, sem surpresa, com a Academia a teimar na sua recusa em equilibrar o peso do resto do mundo em relação à Europa. Não que isso me cause um particular mal-estar. Tenho uma relação muito compreensiva com a Academia e mesmo quando as suas escolhas me surpreendem, recaindo em escritores que desconheço, encaro esse facto como uma oportunidade de conhecer um novo autor. Dão-te limões, faz limonada.

Dediquei-me então a perceber quem era esta autora bielorrussa, que a Academia considerou ser merecedora da maior distinção do mundo literário, e deparei-me com uma agradável surpresa. Com um percurso ligado ao jornalismo, Svetlana tem uma técnica de escrita muito peculiar: escolhe um tema e recolhe testemunhos, muitos testemunhos relacionados com esse tema, procurando humanizá-lo. Assim aconteceu em relação à queda da URSS e a Chernobyl. Desses testemunhos apenas alguns sobrevivem e chegam ao livro, modelados pela autora em curtos textos, formando no conjunto aquilo a que inspiradamente chamou novelos de vozes.

Mas para quem pensa que o seu papel é fácil Svetlana, em entrevista ao Dalkey Archive Press, alerta: “my role is not just that of an ear eavesdropping in the street, but also that of an observer and thinker. To an outsider it may seem a simple process: people just told me their stories. But it’s not really so simple. It’s important what you ask and how you ask it and what you hear and what you select from the interview. I think you can’t really reflect life’s broad scope without the documentation, without the human evidence. The picture will not be complete”. E na entrevista para o site do Prémio Nobel, instantes após ter sido informada da vitória, reitera: “I never accept the role of a judge, I am not a cool chronicler. My heart is always there.”

Perseguida pelo regime de Alexander Lukashenko, a obra de Svetlana é praticamente desconhecida no seu país natal, o que não impediu que no exterior tenha servido de inspiração à intensa e bela “The Door”, curta-metragem dirigida por Juanita Wilson, distinguida com uma nomeação ao Óscar na categoria“Best Live Action Short Film”.


Não podemos descurar a componente política da vitória de Svetlana. Sim, é uma escritora com uma obra original e com preocupações sociais, mas numa altura em que a Rússia é criticada em várias frentes pelos desrespeitos pelos Direitos Humanos e em que a situação da Ucrânia (país em que Svetlana nasceu, filha de mãe ucraniana) está ainda bastante fresca na nossa memória, este prémio é, para além do reconhecimento do valor literário da obra de Svetlana Aleksievitch, um apoio claro às vozes críticas do regime russo, muitas vezes silenciadas pelo regimes.


Svetlana Aleksievitch em Portugal



A Porto Editora parece ser dotada de clarividência e, pelo segundo ano consecutivo, tinha nas suas fileiras o autor vencedor do Nobel. “O Fim do Homem Soviético” foi uma das novidades desta rentrée literária, certamente inspirada pelo favoritismo de Svetlana em 2014. Mas não é a Porto Editora que irá editar o próximo livro da autora no nosso país, essa honra caberá à Elsinore, que tem preparada para 2016 a edição de “Vozes de Chernobyl” (titulo ainda provisório), a assinalar os 30 anos do desastre nuclear. E para já é com o que podemos contar. Se novos livros de Svetlana Aleksievitch chegarão ou não até nós, só o tempo o irá, mas suspeito que as editoras portuguesas não correrão exultantemente pela obra da autora. Esperemos que me engane.


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Candidatos portugueses ao Nobel da Literatura (parte 2)

Há 2 anos dediquei-me à hercúlea tarefa de calcorrear a base de dados de nomeados ao Nobel da Literatura até 1950, em busca de candidatos portugueses e publiquei nessa altura um artigo que agora se poderá considerar como uma primeira parte deste. Desde então a Academia disponibilizou mais dados, permitindo que acompanhemos o processo de nomeação até ao longínquo ano de 1964 e, desde 1950 até essa data, surgiram mais nomes de autores portugueses.

Na verdade são 4 os nomes portugueses apresentados ao julgamento da Academia entre 150 e 1964, um deles já anteriormente nomeado. Falo de Júlio Dantas, que em 1951 foi nomeado pelo antigo Primeiro-ministro sueco Hjalmar Hammarskjöld e pela Academia Brasileira. Mas como já falei com maior detalhe sobre este autor no artigo anterior, vou escusar-me a repetições e focar-me nos 3 nomes novos.


Ferreira de Castro


Sofrido escritor português que se viu obrigado a emigrar para o Brasil aos 12 anos e que, após algum sucesso no outro lado do Atlântico, volta a Portugal para uma vida de miséria, a que apenas o seu génio conseguiu pôr fim com a publicação de “A Selva”. Para quem muitas vezes quase nada teve para comer, as nomeações ao Nobel pelo professor dinamarquês Holger Sten e em 1952 pelo historiador João de Barros devem ter-lhe sabido particularmente bem. E melhor lhe teria sabido saber que não cairia no esquecimento, e que 40 anos depois da sua morte a Cavalo de Ferro assumiria o compromisso de trazer de volta ao grande público a sua obra.



Aquilino Ribeiro


De anarquista perigoso, várias vezes detido, a ilustre membro do Panteão Nacional, Aquilino Ribeiro teve uma vida muito atípica que nos legou uma obra que muitos consideram como uma das mais importantes das Letras portuguesas. A prová-lo está a nomeação em 1960 ao Prémio Nobel da Literatura pela Sociedade Portuguesa de Autores, que contou com a subscrição de nomes como Cardoso Pires, Vergílio Ferreira, Alves Redol, Vitorino Nemésio e Urbano Tavares Rodrigues. Também Aquilino sobreviveu às agruras do tempo, sendo de elogiar a persistência com que a Bertrand tem reeditado a sua obra.


Miguel Torga


Um nome incontornável da literatura portuguesa, Miguel Torga, de seu verdadeiro nome Adolfo Correia da Rocha, foi médico para além de escritor. Mas em vez de o distrair da escrita, a sua profissão fortaleceu a sua consciência do outro, já bastante alimentada pelas suas origens humildes. Torga foi continuamente nomeado ao Nobel entre 1959 e 1962, sempre pela mão de professores universitários, entre os quais Émile Planchard e Hernâni Cidade. Também a sua obra sobreviveu e tem merecido belíssimas edições da D. Quixote.



E em 2015? Vamos ter um Nobel de língua portuguesa?

É possível. As minhas apostas são exactamente as mesmas que no ano passado, porque os pressupostos se mantém. A Academia continua em dívida para com a língua portuguesa e África, o que torna Mia Couto numa possibilidade muito apetecível. Por outro lado, ao falar de escritores em língua portuguesa é difícil não olhar para o Brasil e Ferreira Gullar permanece em evidência, tendo alguma projecção internacional. Mas a Academia pode bem focar-se apenas no factor África e, se assim for, Ngũgĩ wa Thiong'o tem sido apontado como um favorito.

Mas este ano avanço com outro cenário: após entregar o prémio a Modiano, um autor quase desconhecido a nível internacional, talvez a Academia queira apresentar este ano um escritor de grande perfil. E nesse caso surge outra área geográfica onde proliferam grandes autores e escasseia o reconhecimento do Nobel: os EUA. Philip Roth é o nome óbvio, mas tendo parado de escrever parece-me pouco provável que a Academia o eleja, parecendo-me que há outra hipótese aliciante: Joyce Carol Oates. Mas os desígnios da Academia são insondáveis e quase certamente o escolhido será uma enorme surpresa para todos. Veremos, dentro de algumas horas…

terça-feira, 22 de setembro de 2015

A shortlist do The Man Booker Prize 2015


E de 13 restam 6 livros na corrida para vencer o The Man Booker Prize 2015, um dos prémios literários de maior prestígio o mundo, ficando pelo caminho “Lila” de Marilynne Robinson, talvez a autora mais consagrada do grupo.

Dos 6 livros que integram a shortlist, 2 pertencem a autores ingleses (Tom McCarthy e Sunjeev Sahota), outros 2 a autores americanos (Anne Tyler e Hanya Yanagihara), havendo ainda lugar para o jamaicano Marlon James e o nigeriano Chigozie Obioma.

O vencedor será conhecido no dia 13 de Outubro, mas para já deixo-vos com um cheirinho de cada um dos livros.


“A Brief History of Seven Killings” de Marlon James




“Satin Island” de Tom McCarthy




“The Year of the Runaways” de Sunjeev Sahota

“The Fishermen” de Chigozie Obioma

“Part of the novel’s impulse is that I have been looking for a way to capture what I feel is an elemental dilemma of the situation in Nigeria: Why is it that Nigeria can’t progress? We have abundant oil, a strong elite educated class, a sizable youth population of 70 million under 35 years old. Why are we still backwards as a people? The issue I think lies in the foundation itself. The distinct tribes, like Yoruba and Igbo, they are their own states. They used to have no contact and they progressed in their own way. But then a colonizing force came in and said, “Be a nation.” It is tantamount to the prophecy of a madman. Why are we subscribing to this British idea of a nation? Why can’t we decide for ourselves?”



“A Spool of Blue Thread” de Anne Tyler

“The Whitshank family – Red and Abby, now in their early old age, and their two sons, two daughters and numerous grandchildren – cleave to the myth of family precisely because they lack an elaborate foundation story. Their “patriarch”, Junior, is Red’s late father, a carpenter who dreamed and schemed his way to establishing the family’s rather grand and much-admired house, which becomes central to both their story and the novel’s. The shortness of their family tree means “they didn’t have that many stories to choose from. They had to make the most of what they can get”, and such characteristics as they have managed to build up are pretty self-effacing: they pride themselves on not being melodramatic, and their tendency to pretend things are going to turn out fine even leads them to deny their own mortality. “Whitshanks didn’t die, was the family’s general belief. Of course they never said this aloud. It would have seemed presumptuous.” (Not to mention the fact that some of them have died already.)”



“A Little Life” de Hanya Yanagihara

“The novel, which is both a dislocating meditation on the trauma of child sexual abuse, and a moving tribute to the possibilities and limitations of adult male friendship and love, was widely greeted as a book of landmark honesty – “the most ambitious chronicle of the social and emotional lives of gay men to have emerged for many years” – on publication in America in the spring (though some critics found its graphic descriptions of sexual violence both voyeuristic and too much to bear).”

Excerto de um artigo do The Guardian.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A dependência dos livros – edição Agosto de 2015

Agosto já pertence ao passado, mas ainda estão bem presentes na minha memória as boas compras que fiz no mês que passou, graças sobretudo às excelentes promoções que já se tornaram um hábito no Verão.

A Wook é a esse nível sempre tentadora e voltou a não desiludir com “Para Onde Vão os Guarda-Chuvas”, o meu primeiro livro de Afonso Cruz, e “De Mim Já Nem Se Lembra” de Luiz Ruffato com 40% de desconto. E mais uma oportunidade para acrescentar um livro de Alice Munro à minha biblioteca, desta feita “Demasiada Felicidade”, que a Wook me acenava com 30% de desconto.

Também a Antígona fez das suas e entre vários livros em promoção aparecia o clássico ”Ondina” de La Motte-Fouqué a metade do preço. O que pode haver melhor do que isso? Só se a essa encomenda acrescentarmos outra de saldos da The Folio Society, e pouparmos cerca de 13 libras na compra de “Good Behaviour” de Molly Keane.

E só para não deixar dúvidas do sucesso das compras de Agosto, após uma busca desenfreada lá encontrei “Uma Aventura do Marquês de Bradomín” de Teresa Veiga, que se encontrava esgotado, à venda no site da livraria Sidarta a uns meros 7.5€. Pena foi pouco depois ter descoberto que a Tinta-da-China se preparava para reeditá-lo...

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Em estado crítico: “Pastoral Americana” de Philip Roth


O homem comum. Os seus sonhos normais. O desejo de ser feliz, de viver uma vida pacata e envelhecer junto daqueles que mais ama. Philip Roth não escreve sobre homens excepcionais, prefere expor as excepcionais vidas dos homens banais, as suas frustrações, medos e ridículos. Mas em “Pastoral Americana” Roth vai mais longe: constrói o paradigma do sonho americano – um belo atleta louro abastado casado com uma ex-miss – apenas para o destruir. Uma destruição repentina e gratuita, como o costumam ser os acontecimentos que mudam vidas.

Os problemas da família perfeita de Seymour Levov, conhecido como o Sueco, começam com a gaguez da filha, Merry, que surge inexplicavelmente como uma premonição. Levov teme que aquele problema seja um reflexo de algo de errado que se passa com a sua filha, mas pouco consegue fazer para ajudá-la. Os seus sentimentos de culpa aumentam quando, num momento algo irracional, decide ceder aos pedidos da filha para a beijar na boca. Aquele instante é vivido por Levov como um incesto, um quebrar de regras que potencialmente terá aberto as portas à loucura futura.

Merry, frustrada com a gaguez, por se sentir aquém das expectativas dos pais, à medida que vai crescendo começa a desenvolver uma obsessão por questões políticas, mais especificamente pela Guerra do Vietname. Esse sentimento transforma-se rapidamente num repúdio do estilo de vida americano e daí até Merry se envolver com as pessoas erradas é um passo. Levov assiste passivo à perda da sua filha, sem a conseguir controlar, temendo que o pior possa acontecer. E acontece.

Uma bomba explode perto da casa dos Levov matando uma pessoa. De uma idealista radical Merry passa a criminosa procurada. A vida dos Levov é estilhaçada pela bomba, com o Sueco a passar dias e dias a tentar perceber o que correu mal. "Porquê? O que fiz eu para a minha filha se tornar numa assassina?" pergunta Levov, enquanto a sua mulher se afunda numa depressão e a filha se mantém em fuga.

Mas por muito interessante que o enredo do livro seja, há alguns problemas a que Roth não quis ou não conseguiu dar resposta. O período após o rebentamento da bomba caracteriza-se pelas constantes ruminações de Levov, um contínuo “onde foi que eu errei!” que se torna cansativo. E alega-se então “mas esse cansaço faz todo o sentido, porque expressa o cansaço da própria personagem, suscitando no leitor sentimentos semelhantes”, ao que eu respondo com uma velha máxima: a mestria de um escritor revela-se na capacidade de invocar algo sem que o texto tenha de ter essa mesma característica. Suscitar no leitor uma sensação de cansaço é uma coisa, tornar o texto ele próprio cansativo é outra.

Mas o meu grande problema nem sequer é esse. O que de facto me incomoda é a estrutura escolhida por Roth, que dá a sensação de projecto concluído à pressa. Na verdade o livro começa com Zuckerman, um colega de escola que nos revela o mito do Sueco adolescente, o judeu louro que todos conquistava. Zuckerman encontra-se com Levov algumas vezes durante a vida, e já velho ele contacta-o para lhe pedir ajudanuma homenagem que está a preparar para o pai. Depois disso, numa reunião de antigos alunos, Zuckerman encontra Jerry, o irmão do Sueco, que lhe conta que o irmão morreu e que a sua filha é a “bombista de Rimrock”. E a partir desse momento Zuckerman relata-nos uma história idealizada do que terá sido a vida do Sueco. Acontece que, após criar esta parte inicial, com personagens bem delineadas, com a própria vida de Zuckerman a ser-nos apresentada, o livro abandona totalmente este plano e centra-se até à última página na história do Sueco. O pobre leitor, em negação, espera que no final o círculo se complete e que haja uma espécie de reflexão centrada de novo em Zuckerman, o que nunca acontece.

Perguntamos então: para quê? Para quê criar uma história paralela para depois simplesmente a abandonar? Porque não então começar directamente com a narração da história de Levov, eliminando Zuckerman? E para estas perguntas não há resposta, ou pela menos uma satisfatória. É assim porque Roth assim quis que fosse. Mas nem sempre o que o escritor quer é o que é melhor para o livro.

Bem conscientes das desilusões que “Pastoral Americana” nos proporcionou, caminhamos para o final curiosos, sem saber muito bem como irá Roth terminar um livro tão reflexivo, com tantas questões e nenhumas respostas. E o final é estranho, de um estranho que nos faz reler aquelas breves páginas repetidamente à procura de uma mensagem encriptada. Mas aos poucos e poucos apercebemo-nos de que o que Philip Roth nos quer dizer é que a vida é feita de manifestações espontâneas e irracionais de violência e que nunca estaremos prontos para lidar com elas. Mas mais do que isso, há em toda a história de Levov uma mensagem quase fatalista: por muito grandes que os horizontes sejam, a pequenez da vida sobrepor-se-á, porque não há potencial que possa fugir à capacidade destruidora do mundo.

“Pastoral Americana” fala de um tema muito caro aos americanos: a América. O orgulho de ser americano e o ódio pelo que a América representa. A América como terra das oportunidades e como símbolo supremo do mal, uma existência em dois pólos antagónicos que Roth reproduz na perfeição. E por isso se fala deste livro como um dos seus melhores, talvez mesmo como a sua obra-prima. Mas é uma afirmação justa? Infelizmente não.“Pastoral Americana” é um livro bom, mas está longe de ser o melhor que Philip Roth pode fazer. 

Classificação: 16/20

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Contando contos de Edgar Allan Poe: “Revelação Mesmérica”

Poe parece empenhado em converter todos os seus escritos em pequenas dissertações que servem para pouco mais do que expor as suas capacidades retóricas. Desta vez é o hipnotismo o tema em análise, procurando convencer-nos inicialmente da sua capacidade para conduzir o indivíduo a um estado elevado de consciência, no qual se acede a uma espécie de verdade suprema.

Estando o Sr. Vankirk moribundo, o narrador da história é chamado a submete-lo a uma sessão de hipnotismo, prática que parece aliviá-lo. Aproveitando a visão clarificadora que essa condição supostamente proporciona, o Sr. Vankirk discorre sobre a existência de Deus com uma certeza directamente proporcional ao ridículo da sua tese de que Deus é aquilo a que chama matéria impartível, uma matéria una que tudo atravessa.

No final, e apenas para dar um ar da sua graça, Poe ainda nos atiça a curiosidade quanto à capacidade de a alma, quando submetida ao hipnotismo, sobreviver ao corpo. Enfim, não sei o que me espera dos seguintes contos incluídos em "Todos os Contos" de Edgar Allan Poe, mas espero que a qualidade melhore, caso contrário só mesmo sob hipnotismo é que conseguirei levar a sua leitura a bom porto.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Em estado crítico: “Herzog” de Saul Bellow


Não se parte para a leitura de um livro de Saul Bellow com baixas expectativas. Considerado um dos maiores escritores americanos do século XX, conquistou o Nobel da Literatura em 1976, no mesmo ano em que recebeu o Pulitzer por “O Legado de Humboldt”. Mas foi “Herzog” que se tornou sinónimo de Bellow, o que aumenta o simbolismo da sua leitura. A grande obra de um dos maiores escritores, como não ficar ansioso? E talvez o problema seja esse, o esperarmos muito de “Herzog” e depois sentirmos que aquilo que nos dá empalidece perto daquilo que queríamos.

Não sendo um romance epistolar per si, mas sendo a narrativa permeada por missivas que Herzog mentalmente escreve a várias pessoas, fiquei logo no início com algumas reservas. A ideia de um romance recheado de cartas não me parece sedutora, mas resta sempre a esperança de que os preconceitos se revelem infundados e novas possibilidades se apresentem perante os nossos olhos. Não foi esse o caso: as cartas são parte significativa dos meus problemas com “Herzog”.

Moisés Herzog é um homem de meia-idade com o mundo em estilhaços. O recente fim do seu segundo casamento deixou marcas profundas, daquelas que só uma dupla traição consegue criar. Depois de ser convencido pela sua mulher, Madalena, a mudar-se para Chicago e de ajudar um amigo de ambos, Valentim, a encontrar trabalho nessa mesma cidade, Herzog é apanhado desprevenido pela revelação do caso que os dois mantém. Herzog percepciona Valentim como seu inferior em termos intelectuais e, em embora seja charmoso, tem uma deficiência física, o que juntamente com o facto de ser um amigo próximo contribui para exacerbar a humilhação sentida por Herzog. Neste contexto, as cartas mentais funcionam como catarse, uma espécie de autoterapia que ajuda Herzog a ir-se livrando das suas frustrações, apaziguado por um falso sentimento de acção. Mas as cartas tendem a ser divagações filosóficas, considerações desgarradas que interrompem o ritmo da narrativa e subtraem mais do que acrescentam.

E é uma pena que assim seja e que Bellow tenha dificuldades em criar conexões relevantes entre os diferentes momentos da história. É como se estivéssemos perante uma obra de arquitectura com divisões primorosamente construídas, ligadas por corredores em ruínas. De facto o talento de Bellow é inegável nos vários diálogos que vão surgindo ao longo do livro. Equilibrados, com uma carga de oralidade que lhes confere uma autenticidade inatacável e reveladores da complexidade de personagens que recusam a armadilha da bidimensionalidade. A visita ao advogado Sandor e à mulher do seu falecido pai são, por diferentes motivos, excelentes exemplos da perícia de Bellow, mas que funcionam como um contraponto às cartas desinteressantes e às descrições pouco inspiradas.

O frágil jogo de equilíbrio que Herzog se esforça por manter vai-se tornando insustentável e encaminha-se para um trágico desfecho, impedido apenas por um providencial momento de clarividência. Perante um choque emocional Herzog consegue questionar o caminho que decidiu percorrer e depressa se apercebe da dimensão do erro que se preparava para cometer. Num final magistral, que quase compensa as falhas do livro, Herzog volta à sua casa isolada no meio da floresta e reaprende a viver. Há melancolia, há mágoas, há dúvidas, mas há também um vislumbre de esperança. 

“Herzog” não é o livro que prometia ser, mas é uma boa leitura.

Classificação: 16/20

A versão que li é a da Biblioteca Sábado, mas a Quetzal publicou recentemente uma nova edição deste livro.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A dependência dos livros – edição Julho de 2015


Momento charada: qual é coisa qual é ela que está a mais nesta foto? Quem apostou nas “Collected Stories” do Mark Twain apostou bem e não, não é por ser a única obra em língua estrangeira. Acontece que este conjunto de livros foi adquirido no início do ano, numa promoção pornográfica, e esquecido numa prateleira, sem me lembrar de o incluir nas compras do mês. Pois bem, reponhamos a verdade e caminhemos em frente.

Tenho de destacar em Julho a compra do último volume das "Obras Completas" do Borges, editadas pela Teorema, livro que como sabem me fez suar quando, após 4 anos de pacientes compras volume a volume na Feira do Livro, me preparava para terminar a minha saga e fui esmagado pela palavra ESGOTADO. Enfim, consideremo-nos abençoados por termos uma Bulhosa nas nossas vidas para nos ajudar em situações de emergência.

Abençoados também os passatempos na página de Facebook da Porto Editora que me valeram o “Levantado do Chão” de Saramago, ganho no dia seguinte ao meu aniversário (que coincide com o dia em que Saramago morreu), mas que ainda demorou uns dias a chegar até mim.

De resto, como resistir a uma boa promoção da Wook? Impossível, portanto mais vale fazerem como eu: resignarem-se e arranjarem um espacinho para mais livros na vossa estante. “A Liberdade de Pátio” de Mário de Carvalho e “Diário da Queda” de Michel Laub já conquistaram o seu lugar na minha biblioteca.

E só para pecar em pleno, numa marota visita à Bulhosa enquanto esperava que o volume final do Borges chegasse, eis que “Oscar e Lucinda” de Peter Carey me piscou o olho e quando dei por mim já estava com ele no colo a caminho de casa. Ah, tentações!

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O que é que a Granta tem? “A Revolução Instantânea” de James Fenton


Gostando eu de política e de reportagens, seria de esperar que uma reportagem sobre um acontecimento marcante da política internacional fosse algo que me suscitasse imenso interesse. Mas não é esse o caso, e já o relato de Kapuścińsk na 1ª Granta havia sido um desafio à minha vontade. Muitas vezes sinto neste tipo de textos que o jornalista sente que está a falar com especialistas e parte portanto do princípio que acontecimentos e personagens nos são familiares, dispensando contextualização. E depois, o pobre o leitor quando dá por si está no meio de um realidade que lhe é completamente alheia, sentindo-se o mais ignorante dos seres.

Mas apesar das minhas reticências iniciais, Fenton tem a seu favor poder contar com o fascínio que o casal Marcos (o ditador Filipino e a sua espampanante mulher Imelda) exercem,  o que sempre torna a leitura mais cativante. Focando-se na queda do regime de Ferdinand Marcos, o relato de Fenton evidencia o efeito que uma sequência vertiginosa de acontecimentos pode ter sobre a realidade, como se presente, passado e futuro se confundissem por instantes e o mundo tal como o concebemos ruísse perante os nossos olhos, pertencendo tudo ao passado embora ainda exista no presente.

E é assim que num momento o casal Marcos está a receber jornalistas na sua luxuosa residência, e no momento seguinte estranhos caminham pelos seus aposentos como se lhe pertencessem. Aquela já não era a casa de Imelda e Ferdinand, mas era como se os seus passos ainda se ouvissem ao fundo do corredor.

Fenton deixa-nos no final algumas provocações. Perante a rapidez com que tudo ocorreu, a revolução terá sido orquestrada? Mas mais do que isso: a revolução foi feita em nome o quê? Será que o que se segue é melhor do que aquilo de que se viram livres? As revoluções têm muitas vezes esse defeito, o de serem um fim em si mesmo, e de repente acorda-se no dia seguinte e pergunta-se “e agora?”.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Em estado crítico: “Malone Está a Morrer” de Samuel Beckett


Mais por teimosia do que por estoicismo, avancei para a leitura do segundo livro da famosa trilogia de Beckett ainda com as agruras de “Molloy” vivas na cabeça. Não tinha grande esperança que a experiência com este livro fosse ser muito diferente, mas nas primeiras páginas ainda houve uma fagulha ínfima, rapidamente dragada pela escuridão.

Na verdade o que vos disse no passado sobre “Molloy” poderia ser exactamente o que vos digo agora sobre “Malone Está a Morrer”. Temos no centro da história um homem moribundo que, de forma entrecortada, nos vai contando a história de Sapo, que mais à frente passa a ser chamado de Macmann. À semelhança do que acontece no livro anterior, com o evoluir do livro e a progressiva fraqueza de Malone, o discurso vai-se tornando mais errático, os parágrafos tornam-se maiores, as ideias menos claras, e deixamos de perceber se a história que nos é contada é mesmo a de Macmann, ou se não se tratará da vida do próprio Malone.

Como disse a respeito de “Molloy”, reconheço o valor literário do que Beckett fez, embora para mim seja mais eficaz como um monólogo teatral do que como um romance. Beckett mimetiza de forma impressionante a mente confusa de um homem quase dominado pela morte, mas isso é mais uma qualidade técnica do que um argumento para considerar “Malone Está a Morrer” aquilo que não é: um grande romance. Ou talvez o seja para alguns, mas eu não revejo nos dois livros de Beckett o meu conceito de literatura, da literatura capaz de criar empatia, que me move do meu eixo e me faz sentir. Para mim “Malone Está a Morrer” é quanto muito um exercício intelectual bem-sucedido e não anseio pelo dia em que lerei “O Inominável”…

Classificação: 10/20

quinta-feira, 30 de julho de 2015

The Man Booker Prize 2015: a longlist


São 13 os finalistas da edição de 2015 do The Man Booker Prize, com os Estados Unidos a porem em questão a supremacia do Reino Unido ao conseguirem cinco nomeados. E os livros em consideração este ano para um dos mais prestigiados prémios do mundo literário são:

Bill Clegg (EUA), “Did You Ever Have a Family”    
Anne Enright (Irlanda), “The Green Road
Marlon James (Jamaica), “A Brief History of Seven Killings
Laila Lalami (EUA), “The Moor's Account
Tom McCarthy (Reino Unido), “Satin Island
Chigozie Obioma (Nigéria), “The Fishermen
Andrew O’Hagan (Reino Unido), “The Illuminations
Marilynne Robinson (EUA), “Lila
Anuradha Roy (Índia), “Sleeping on Jupiter
Sunjeev Sahota (Reino Unido), “The Year of the Runaways
Anna Smaill (Nova Zelândia), “The Chimes
Anne Tyler (EUA), “A Spool of Blue Thread
Hanya Yanagihara (EUA), “A Little Life

Desta lista sairá uma shortlist no dia 15 de Setembro, sobrevivendo apenas 6 obras, das quais será eleita a vencedora, a ser anunciada a 13 de Outubro. Apesar de três escritores serem novatos, com a obra incluída na longlist a ser a única que publicaram, engane-se quem pensar que não há nomes sonantes nesta lista.

Há até mesmo um anterior vencedor deste prémio, Anne Enright, que em 2007 viu o seu livro “Corpo Presente”, editado em Portugal pela Gradiva, ser distinguido. Também Tom McCarthy e Andrew O’Hagan não são nomes estranhos ao The Man Booker Prize, tendo ambos em edições anteriores chegado à shortlist.

Mas os americanos não deixam os seus créditos por mãos alheias e, para além da finalista do Pulitzer Laila Lalami, têm os dois nomes pesados desta lista: Marilynne Robinson e Anne Tyler. Dos três romances publicados anteriormente por Marilynne Robinson, “Housekeeping” foi nomeado para o Pulitzer e “Gilead” venceu esse mesmo prémio mais de 20 anos depois, enquanto “Home” lhe valeu o Orange Prize, actualmente The Baileys Women's Prize for Fiction. Quanto a Anne Tyler, venceu um Pulitzer com “Exercícios de Respiração”, editado no nosso país pela Europa-América, e foi nomeada para outros dois, tendo recebido também duas nomeações para o Orange Prize.

Com apenas quatro destes autores a terem obras anteriores publicadas em Portugal (Anne Enright, Tom McCarthy, Marilynne Robinson e Anne Tyler), dois deles estão na minha biblioteca, embora ainda não tenham sido lidos: uma edição brasileira de “Gilead” de Marilynne Robinson e “Corpo Presente” de Anne Enright. Quem sabe se uma das duas não vence o prémio e esse é o empurrão que eu precisava para avançar com a leitura do seu livro!

domingo, 26 de julho de 2015

O que é que a Granta tem? “É Perigoso Ser Feliz Duas Vezes” de Raquel Ribeiro


Uma das coisas boas da Granta é permitir-nos conhecer novos autores portugueses cujos livros, de outra forma, não nos sentiríamos compelidos a ler. Raquel Ribeiro é um bom exemplo disso, e certamente poucos resistirão à vontade de ler “Este Samba no Escuro” após conhecerem o seu conto no 2º número da Granta portuguesa.

Raquel Ribeiro apresenta-nos um relato da sua segunda ida a Cuba, quando trabalhava na sua tese. Sob uma capa de normalidade, revela-se de forma inesperada o lado negro de um regime não democrático quando Raquel é submetida a um interrogatório pelas autoridades por ter feito questões sobre um tema sensível. O seu testemunho torna evidente o papel dos níveis médios e baixos do poder, que são os elementos que perpetuam os princípios do regime, cujo controlo se pode reflectir em coisas tão simples como impedir que um investigador consulte um livro, não permitir que uma janela seja aberta ou bloquear a entrada num edifício mesmo quando há um convite de um superior.

Depois de uma primeira visita feliz, Raquel Ribeiro vê o mito desvanecer-se e uma nova visão da realidade erguer-se. Num momento surreal, após o interrogatório, um dos agentes mostra-se preocupado com o testemunho futuro dela quanto ao que ali se passou e tenta assegurar-se que Raquel nunca se sentiu ameaçada. E o mais pernicioso é que Raquel, que estava aterrada, escondeu o que sentia apenas para poder sair dali rapidamente. E esse é o efeito mais perigoso do medo: o silêncio.

Às vezes é de facto um perigo regressarmos aos lugares onde fomos felizes, mas mesmo assim não perderei a oportunidade de me reencontrar com a escrita de Raquel Ribeiro.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Imprima-se, diz a E-Primatur


Há uns meses surgiu o anúncio de uma nova editora. Mas não se trata apenas de mais uma, daquelas que surgem pela calada com promessas de mundos e fundos e depois se desvanecem (Divina Comédia, onde estás tu?!). A E-Primatur traz-nos uma aposta diferente, que não é uma garantia de sucesso, mas que promove uma nova visão sobre a edição de livros.

Iniciando a sua acção com a publicação de alguns clássicos, foi neste ponto que o projecto me conquistou, estando entre os primeiros títulos “Voss” de Patrick White, um Prémio Nobel esquecido pelas editoras, “O Salão Vermelho” de August Strindberg e “O Caso do Camarada Tvlayev” de Victor Serge, tendo sido estes dois últimos livros incluídos na lista dos 1000 romances a ler antes de morrer do The Guardian. São escolhas arrojadas, de qualidade inegável, mas são apenas o começo, porque a E-Primatur é ainda mais ousada do que isto.

Criar a primeira plataforma de crowdfunding em Portugal, é esse o objectivo principal, contando a editora ter no segundo ano um catálogo que inclua sugestões recolhidas e que seja sujeito à apreciação do público, que poderá investir num livro pagando cerca de 1/3 do seu valor final e recebendo-o sem custos adicionais se a publicação se concretizar. Mas, mais do que uma forma de financiar o livro, a plataforma é sobretudo uma forma de analisar a reacção do mercado, podendo avançar-se com a publicação mesmo sem que o valor mínimo de apoio seja atingido. E se o projecto não avançar? Bom, nesse caso o dinheiro é devolvido.

Para ajudar ao bom desempenho de cada projecto haverá padrinhos, figuras proeminentes do mundo cultural, que incitarão o público a investir no seu livro. Para já, aguardamos pela finalização do site que permitirá à editora começar a mostrar o que vale, para que todos possamos receber nas nossas casas os clássicos com que nos têm acenado.

Associados à E-Primatur há outros serviços editorias complementares, mas é este o núcleo da sua acção. Resta-nos dar os parabéns a Hugo Xavier, Pero Bernardo e João Reis, os cérebros por detrás da E-Primatur, pela sua coragem e desejar que nos devolvam livros até agora esquecidos e nos tragam mais autores por editar em Portugal.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Paraíso dos livros: edição de coleccionador da "Orpheu"


Há uns meses, a propósito da comemoração do centenário da revista “Orpheu” e do lançamento de “1915” pela Tinta-da-China, livro que reúne vários ensaios a respeito da importância da emblemática revista, comentei com uma amiga: “mas porque é que ninguém se lembra de reeditar a Orpheu?!” Mal sabia eu que Bárbara Bulhosa estava umas jogadas bem à frente, preparando no segredo dos deuses não apenas uma simples reedição mas uma peça digna de museu, feita para ser acarinhada por leitores devotos.

Chegou há poucos dias a minha casa a minha “Orpheu”, a número 272 das 1200 produzidas e foi uma emoção segurá-la pela primeira vez. Abri a luxuosa caixa e retirei cerimonialmente as duas reproduções dos números publicados da revista e um terceiro caderno, mais pequeno, com as provas tipográficas do terceiro número que não chegou ao grande público e que teria, para além de pinturas de Amadeo de Souza-Cardoso, poemas de Sá-Carneiro, Pessoa e Almada-Negreiros e composições de outros autores.

A atenção aos detalhes, a preocupação com os materiais escolhidos, tornam o simples acto de folhear a “Orpheu” numa experiência sensorial e emocional, como se fossemos transportados no tempo. E no meio das revistas, delicadamente colocados, um marcador e uma publicidade à segunda revista, absolutamente fiéis à época, como também o são as folhas por separar, tão típicas das publicações daquela altura, por isso preparem-se para ter uma faca bem afiada à mão! Eu confesso que tinha dispensado este rigor histórico final e que me senti um herege a estragar algo perfeito, mas percebo o charme.

Por esta preciosidade pedem-nos 70€ e é dinheiro bem gasto. Uma peça que orgulhosamente passarão às próximas gerações, depois de horas e horas de prazer a ler a “Orpheu” como a leram os seus contemporâneos. Obrigado Tinta-da-China e Fundação EDP!

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O que é que a Granta tem? “Servindo o Chá” de Hélia Correia


Uns dias antes de ser anunciado o vencedor deste ano do Prémio Camões, e estando eu bem longe de imaginar o que iria acontecer, parti para a leitura do segundo conto criado por Hélia Correia para a Granta portuguesa. Não parti esfuziante, há que dizê-lo, porque o seu conto na primeira Granta foi um dos que menos gostei e também porque a entrevista de Hélia Correia a Carlos Vaz Marques apresentada no livro “Os Escritores (Também) Têm Coisas a Dizer” foi a que menos me interessou. Tinha colocado Hélia Correia na categoria “senhora dos gatos esotérica obcecada pela Grécia” e tinha seguido em frente, pouco motivado para a reencontrar.

E é nestes momentos que agradeço a minha persistência e o por vezes obrigar-me a ler coisas, porque as primeiras opiniões são muitas vezes más conselheiras e nunca se sabe o que nos pode escapar quando lhes damos ouvidos. Assim, num segundo encontro com um conto de Hélia Correia saí confiante quanto ao nosso futuro juntos.

Hélia Correia continua a história de Laura, que após as suas cirurgias plásticas se vê atormentada por um sonho com Jane Fonda, que lhe revela que o segredo está em algo mais profundo do que a admiração física, um amor, a capacidade de suscitar uma devoção no outro enquanto instrumento de poder. A frustração de Laura é palpável. “Tanto esforço para nada”, quase parece dizer, sabendo que no seu processo de melhoramento físico perdeu a ligação emocional que tinha com o seu marido. Torna-se então claro que é necessária uma ruptura.

Com a mesma voracidade com que se entregou a um cirurgião plástico, Laura tenta uma nova vida e surpreendentemente encontra a devoção que procurava. No final há sempre uma lição: não importa o que se é ou o que se tem, mas sim a percepção que os outros têm. Pelo menos para já. Veremos o que o futuro trará para Laura nas próximas Grantas...

terça-feira, 30 de junho de 2015

2º aniversário


Entre as palavras há o tempo. Dias que se sucedem ao sabor da escrita, deixando memórias e páginas lidas, que muitos irão redescobrir dali a semanas, meses, anos. E assim se passam 2 anos, como se desde que escrevi “Em nome dos livros” tivessem decorrido apenas uns dias.

Criei este blog porque a literatura era uma parte muito importante a minha vida e acalentava a esperança de poder vir a trabalhar no mundo editorial. Dedicar-me diariamente aos livros no fundo começou como um placebo, o mais próximo que tinha de viver um sonho que sabia ser difícil de realizar.

Partindo dessa necessidade, se houve algo que o meu curso de Comunicação Social me deu foi a consciência de que a palavra acarreta responsabilidade e esse é um dos princípios que tem pautado a minha actividade enquanto blogger. Não digo que li o que não li, não formo opiniões sobre livros porque li algumas páginas, parto para cada leitura com a esperança de descobrir o livro da minha vida e tenho um inesgotável desejo de conhecer novos autores, novos estilos, novos mundos.

Demoro algum tempo a ler um livro, o que segundo os padrões dos bloggers de literatura é uma vergonha, porque rezam as regras que se não leres pelo menos 1 livro por semana és um zé-ninguém. Mas não me importo. Leio ao ritmo que o meu tempo me permite e deixo que um livro faça parte da minha vida durante algumas semanas. Os livros também precisam de nos acompanhar.

Algo claro para mim desde o início foi que queria ter opinião no blog, porque não acho que partilhar sinopses seja um serviço o leitor, para isso há os sites das editoras e as livrarias online. Também não queria escrever críticas formais e académicas, mesmo porque não tenho competência para isso. Aqui quem vos fala não é um especialista, é um leitor informado que partilha experiências. E com cada crítica a livro o meu objectivo é que as pessoas percebam que livro é aquele, que as minhas palavras lhes transmitam algo semelhante ao que o livro me transmitiu. Seja isso bom ou mau, porque não acredito em bloggers que só falam bem, acho que essa é uma posição confortável. Quem tem confiança e mérito para elogiar, também tem de ter para criticar, caso contrário o blogger é apenas um divulgador. E conhece-se tanto uma pessoa pelo que gosta, como pelo que não gosta, e portanto não privo os meus leitores das minhas opiniões, procurando sempre sustentá-las. Por isso, nestes 2 anos falei muito bem de alguns autores e falei muito mal de outros, com a independência que me dá o facto de os livros serem comprados com o meu dinheiro.

E o futuro? Bom, tenho algumas ideias, uma que me agrada especialmente é uma nova rubrica que analisa livros e as suas adaptações para cinema e televisão. Mas mais que tudo, quero continuar convosco, a escrever mais (queremos sempre escrever mais!), a ver o blog a crescer sustentadamente como tem acontecido até agora e que as pequenas alegrias de ver um post partilhado ou elogiado por alguém que valorizo se vão repetindo. A todos os que me têm acompanhado - obrigado pela companhia!

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Em discussão: voluntários na Feira do Livro de Lisboa


Há umas semanas li no Público um artigo da autoria de Carla Prino, antiga operadora de call center e activista dos Precários Inflexíveis, que vociferava contra o voluntariado, com o argumento de que se trata de um mecanismo para evitar que as empresas contratem recursos humanos que lhes são vitais, referindo-se especificamente aos casos do Rock in Rio, do Teatro Nacional D. Maria II, de Teatro Nacional São João e da Feira do Livro. Não tendo eu por definição nada contra o voluntariado, desde que funcione dentro dos limites definidos pela lei, vou-me focar no caso da Feira do Livro que é o que me parece mais descabido.

Voluntários na Feira do Livro? Claro, porque não?! Começamos logo pela questão base: é um actividade que, tal como o nome indica, requer que a pessoa se voluntarie. E é a quem está disposto a ceder o seu tempo a uma editora que cabe a decisão se essa é uma acção que será proveitosa ou não para o seu CV. Certamente que a autora do artigo, com o seu argumento paternalista, não conhecerá melhor os interesses das pessoas do que as próprias.

E depois, convenhamos, a actividade principal das editoras não é realizar feiras e, tendo a maioria estruturas muito pequenas, é natural que a Feira do Livro represente uma necessidade momentânea de mais recursos humanos. E diz então a Carla Prino “contratem!”, e em teoria diz muito bem, mas o problema de argumentos cegos é que são isso mesmo, cegos, e não têm em conta as realidades a que se aplicam. A maioria das editoras tem condições para contratar pessoas durante mais de duas semanas para assegurar o trabalho na Feira do Livro? Acho que todos sabemos a resposta a esta questão. A Feira do Livro é um dos garantes que as editoras têm recursos para se aguentarem durante o ano, pelo que a imagem de entidades gananciosas e imorais que querem é lucrar à custa de pobres coitados me parece, neste caso, profundamente ridícula.

Ora vejamos: se as editoras precisam de pessoas para esta actividade localizada e não têm dinheiro para lhes pagar e se há pessoas que querem disponibilizar o seu tempo e que acreditam que ser voluntário pode ser uma mais-valia para o seu percurso profissional, do que está Carla Prino a falar? Que direitos está ela a defender?


Voluntários sim, mas...


Mas chegamos ao busílis da questão: tudo bem que as editoras recorram a voluntários, mas que se assegurem que isso não impacta a qualidade do atendimento. Isso tem acontecido? Lamento, mas não tem, e não é um fenómeno desta edição.

Antes de entrar nesta questão, faço duas chamadas de atenção: a minha experiência baseia-se nas editoras de qualidade, aquelas que focam o seu catálogo na chamada grande literatura, e nos dois grande grupos editoriais, a Leya e a Porto Editora; a segunda nota é exactamente sobre a Porto Editora que, se não estou a cair em erro, tem recorrido a funcionários da Bertrand para assegurar o atendimento na Feira do Livro, não sei se não recorrem de todo a voluntários, mas de qualquer forma é notória uma postura diferente, mais profissional, mais atenciosa, mais competente, portanto a Porto Editora sabe claramente o que está a fazer.

As outras editoras de qualidade de que falo trabalham para um público-alvo muito específico, mais informado, que muitas vezes conhece bem os escritores publicados, que conhece bem os catálogos das editoras, e que por isso é mais exigente. O que torna muito frustrante depois depararmo-nos com voluntários que, estando nessas editoras que temos em grande conta, não sabem nada de nada. Conhecem mal o catálogo, quando questionados sobre um livro em específico encolhem-se com aquele ar de "eu sou novo aqui". 

Numa edição anterior da Feira do Livro de Lisboa, num dos dias uma editora anunciava no Facebook com muito destaque o lançamento de um livro que inaugurava uma colecção a todos os títulos icónica, apelando a que as hordas corressem para a Feira dominadas pela excitação, em busca de tamanha preciosidade. E lá fui eu, com um sorriso rasgado, e peço ao simpático rapaz o dito livro. Como resposta tive um olhar “do que é que este está a falar!”, como se eu fosse um louco, e ainda me disse “isso não é aqui”. Era obviamente! Lá se foi informar com um colega e voltou com o livro nas mãos. Pergunto eu: como é possível que uma pessoa que está a atender ao público não saiba que a editora tem um grande lançamento nesse dia? E atenção, a culpa não é do rapaz, a culpa é claramente de quem não se deu ao trabalho de o informar, porque infelizmente ainda há um grande espírito de improviso nas nossas editoras.

Mas até podemos ser bonzinhos e dizer “bom, pode ser complicado esperar que a pessoa conheça bem o catálogo”, estou disposto a aceitar isso. Mas passemos então a informações elementares: Hora H, informações que qualquer pessoa deve saber: não há Hora H nos primeiros dias da Feira, só começa na primeira segunda-feira; às sextas-feiras e fins-de-semana não há Hora H; dos livros não abrangidos pela Lei do Preço Fixo, quais estão na Hora H – todo o catálogo da editora ou apenas uma selecção. Não parece muito difícil, pois não? E sendo a Hora H um dos pontos-altos da Feira, e talvez o tema sobre o qual mais perguntas são colocadas, seria de esperar que quem está a fazer o atendimento ao público soubesse estas informações na ponta da língua. Pois digo-vos que em duas editoras insuspeitas, este ano, estas informações não eram claras nos primeiros dias da Feira, o que me parece inaceitável.

Acho que as editoras, especialmente as de qualidade a que me refiro, têm de reflectir sobre estas questões. Faz sentido estar a apostar num excelente catálogo, a construir uma imagem de especialistas e sofisticados, para tudo depois ser deitado por terra em poucos segundos por um jovem mal informado? As editoras têm de se encarar como marcas e a comunicação com o cliente não se dá apenas nas escolhas editorias, no Facebook, newsletters e emailings, quando estamos numa banca da Feira do Livro a pessoa que temos à nossa frente é para nós o representante da editora, portanto percam um tempinho a formar as pessoas e a testá-las para terem a certeza de que as informações passam com clareza. E voluntários, se querem oportunidades de emprego também não vos mata fazerem um esforço extra e tentarem conhecer bem a editora que vão acompanhar.

Voluntários sim, mas melhores por favor!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Feira do Livro de Lisboa 2015: um balanço pessoal

Por esta altura, não é segredo para ninguém que eu adoro a Feira do Livro. Convenhamos: comprar livros a bom preço – quem não gosta?! Mas todos os anos, assim que as primeiras barracas são montadas, deparo-me com comentários da inteligência literária do burgo que não primam pela efusividade.

Normalmente as críticas à Feria do Livro podem ser agrupadas em 3 categorias: a venda de bens alimentares (particularmente farturas e pregos); o impacto nas livrarias; e a inexistência de fundos de catálogo. Não quero perder muito tempo a analisar estes pontos, que obviamente me parecem ter poucos méritos, mas há coisas que têm de ser ditas. Há comida na Feira. E então? Qual é o problema? É suposto as pessoas passarem bastante tempo na Feira, portanto haver comida parece um elemento incontornável de organização. É o bom-nome dos livros que está então em causa? Não é digno para os livros serem vendidos a poucos metros de bancas de comida? Eu diria que o que não é digno dos livros é não serem vendidos, mas isso sou eu que tenho a mania de querer que as editoras façam dinheiro e todos nós sabemos que fazer dinheiro é um antónimo de verdadeira arte. Por isso já sabem, caros amigos, mantenham os vossos livros longe da comida ou estão a ofendê-los!

A questão das livrarias é a mais complexa. A mim parece-me que achar que o que faz as livrarias ficar em má situação são as duas semanas de Feira do Livro é querer tapar o Sol com a peneira. É premente que se faça uma reflexão sobre o mercado livreiro e pensar o que deverá ser uma livraria nos dias que correm, com as condições de mercado que temos. O discurso de “a culpa é dos consumidores” é cómodo mas pouco produtivo. Eu acho que o consumidor deve fazer um esforço para ser responsável e, em situações em que os seus interesses não são colocados em causa, comprar em livrarias independentes. Mas cabe aos livreiros também fazerem por isso, por ter algo para oferecer a quem lá vai, porque se eu entro numa livraria e vejo lá os mesmos livros que vejo na Bertrand a um preço maior é óbvio que eu não o vou comprar ali. E se já estão a dizer “ah, mas uma livraria independente não tem a capacidade que uma Bertrand tem para manipular o factor preço” certo, mas olharam para a parte da minha frase que vos interessava e esqueceram-se de “os mesmos livros”. Mas não nos esqueçamos do fundamental: a Feira do Livro permite a muitas editoras terem dinheiro para sobreviver e duma coisa eu tenho a certeza - o sector pode viver sem livrarias independentes mas não pode viver sem editoras!

A questão dos fundos de catálogo é um daqueles mitos que não se sabe de onde surgiram. Não há fundos de catálogo? A Relógio D’Água, Antígona, Cotovia, Cavalo de Ferro, Gradiva, Nova Vega e grupo Porto Editora tinham fundos de catalogo nesta edição da Feira do Livro, portanto estão a falar do quê? Têm a certeza que têm ido à Feira do Livro?

Bom, mas o importante é celebrar a grande festa do livro e as compras por lá feitas. Para mim foi um ano em grande! Com uma ou outra excepção, os livros que comprei tiveram quase todos pelo menos 50% de desconto. Levei para casa livros que há muito queria, levei também uma ou outra frustração, mas faz parte da experiência. Vamos às compras?


Ficção portuguesa


Sinto tanta alegria ao olhar para este grupo de livros! Entre a “Obra Completa” do Álvaro de Campos, a poesia completa do Manuel António Pina, o “O Medo” do Al Berto e os meus primeiros livros de Ferreira de Castro, José Régio, Ana Teresa Pereira, Gabriela Llansol, Agualusa e Maria Velho da Costa, nem sei bem para onde me virar. Estou muito expectante quanto ao Al Berto. Algo me diz que ele pode ser o empurrão que faltava para me tornar num leitor mais convicto de poesia.


Romance internacional


Em todas as Feiras do Livro tenho um livro fetiche, normalmente encontrado na banca de promoções da Relógio D’Água a 5€, que me deixa eufórico quando o encontro, corro a comprá-lo e obrigo muitas pessoas que vão comigo à Feira a fazê-lo. Este ano foi a vez de “Bel-Ami” de Guy de Maupassant. Mas deste grupo o livro que mais queria comprar era o “A História de Uma Serva” da Margaret Atwood e que estive em vias de não conseguir, porque esteve uns dias desaparecido e no dia em que fui à Hora H da Porto Editora achei que tinha esgotado e não o procurei. Felizmente um querido amigo salvou-me dessa tragédia! De resto, sabe sempre bem comprar Isherwood, Ali Smith e Vonnegut com 70% de desconto e Modiano a 3€.



Não ficção (nacional e internacional) e contos, poesia e teatro internacional


A fila de cima, que representa as minhas compras na categoria não ficção, é talvez o ponto alto da minha Feira deste ano. Quero muito ler estes livros, cada um por razões muito específicas. Comprar o “Puta Que os Pariu!”, a biografia do Luiz Pacheco da autoria de João Pedro George publicada pela Tinta-da-China, a metade do preço é de louvar aos céus. E uma colectânea de ensaios do Foster Wallace com 70% de desconto, até me faz tremer a mão. Dos restantes livros o meu grande destaque tem de ir para “Decameron” de Boccaccio que eu planeava comprar há várias Feiras, plano que cumpri finalmente este ano, na Hora H claro.


O que ficou por comprar


Ui! Tanta coisa! A maior frustração foi sem dúvida o ter descoberto que o 4º volume da Obra Completa do Borges editada pela Teorema tinha esgotado. Depois de 4 anos a comprar 1 volume por ano na Hora H, tudo estava pronto para o final épico deste ano. Mas já investiguei e parece-me que vou conseguir resolver o problema, por mais dinheiro do que eu queria, mas enfim. Uma frustração foi também a Adília Lopes. Mas o “Dobra” ainda não é elegível para Hora H nem para Livro do Dia, por causa da Lei do Preço Fixo, pelo que terei de rezar pelo próximo ano.

Queria comprar o 1º volume do Teatro do Marcelino Mesquita, na Imprensa Nacional-Casa da Moeda, mas não tinham nenhum exemplar na Feira. Queria comprar o “Gente Independente” do Halldór Laxness (que entretanto já chegou até mim) e o “Auto-de-Fé” do Elias Canetti, ambos da Cavalo de Ferro, mas nunca os encontrei a um preço suficientemente tentador.

Ficaram por terra também os meus planos de comprar na Hora H da Tinta-da-China o “Entrevistas da Paris Review”, porque achei que já tinha feito demasiadas compras. O mesmo se aplica a “Cantigas da Inocência e da Experiência” de William Blake da Antígona e a “Ilíada” de Homero da Cotovia.

Mas uma dos grandes arrependimentos foi não ter comprado uma das novas edições do José Cardoso Pires lançadas pela Relógio D’Água. Estive quase quase a fazê-lo mas fui pelo argumento racional que acaba por matar algumas compras: a Feira é para aproveitar promoções, novidades compram-se durante o ano. E lá ficaram os meus ricos livrinhos!

Bom, foi gasto muito dinheiro obviamente, mas muito menos do que poderia ter sido especialmente se fizermos o exercício de ver o preço de mercado dos livros e o quanto paguei por eles. Foi uma Feira excelente e mal posso esperar pela edição de 2016!

domingo, 14 de junho de 2015

A dependência dos livros – edição Maio de 2015


Agora que a loucura da Feira do Livro passou, tempo de arrumar a casa e voltar à normalidade. E antes do balanço das compras feitas na Feira do Livro, estou em dívida para convosco em relação a Maio, que já preconizava as boas compras que se seguiriam em Junho.

Dos 7 livros que comprei em Maio, apenas 1 foi comprado praticamente sem desconto. Falo de “Gente Melacolicamente Louca” de Teresa Veiga, editado pela Tinta-da-China, a cujo lançamento tive o prazer de ir. Conheci por isso a misteriosa Teresa Veiga, surpreendentemente simpática, que para além de 2 dedos de conversa (de circunstância claro) ainda me autografou o livro.

Dos restantes livros, grande parte foi comprada com 30% de desconto: “A Liga da Chave Dourada” de Michael Chabon (Prémio Pulitzer), “Expiação” de Ian McEwan e “O Labirinto da Saudade” de Eduardo Lourenço na promoção disponível no site da Gradiva no âmbito do Dia Mundial do Livro (comprei também uma antologia do Calvin & Hobbes que me esqueci de incluir no foto!); e “Pnin” de Nabokov numa promoção semelhante que ocorreu no site da Relógio D’Água.

E como não podia deixar de ser, a Wook voltou a fazer das suas e foi-me absolutamente impossível resistir aos 40% de desconto em “A Volta ao Dia em 80 Mundos” de Cortázar e aos 50% de desconto em “Pulp” de Bukowski.


Foi um mês de boas compras, mas um mero aperitivo para a Feira do Livro! Mas disso falaremos no próximo post.

Diário da Feira do Livro 2015: 14 de Junho


E a Feira do Livro de Lisboa de 2015 chega hoje ao fim. Depois de dias consecutivos a subir e a descer o Parque Eduardo VII voltamos ao calendário, onde contaremos os dias até voltarmos a ser felizes de novo. Mas antes da despedida, ainda podem passar pela Feira e fazer uma última compra, em jeito de adeus. Fiquem portanto com alguns dos Livros do Dia de hoje:

Relógio D’Água
“Anna Karénina” de Lev Tolstói - 16€
“As Aventuras de Huckleberry Finn” de Mark Twain - 8€
“Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa - 18€

Grupo Porto Editora
“Ara” de Ana Luísa Amaral - 6,65€ (banca da Sextante)
“K4 - o quadrado Azul” de José de Almada Negreiros - 7€ (banca da Assírio & Alvim)

Cotovia
“Gatos e Mais Gatos” de Doris Lessing - 12,5€

Cavalo de Ferro
“Nada” de Carmen Laforet - 8,5€

Grupo Leya

“O Vale da Paixão” de Lídia Jorge - 9,5€ (banca da Dom Quixote)

sábado, 13 de junho de 2015

Diário da Feira do Livro 2015: 13 de Junho


Durante a Feira do Livro, assinalando a comemoração dos 50 anos da Dom Quixote, uma selecção de 50 títulos da editora estará disponível com 50% de desconto. Entre os livros disponíveis encontram-se:

“Contos” de Miguel Torga
“Correcções” de Jonathan Franzen
“Gente Feliz com Lágrimas” de João de Melo
“Goodbye, Columbus” de Philip Roth
“O Homem Lento” de J. M. Coetzee
“Obras Completas I” de Urbano Tavares Rodrigues
“Os Buddenbrook” de Thomas Mann
“Rabos de Lagartixa” de Juan Marsé
”Sartoris” de William Faulkner
“Se Não Agora, Quando?” de Primo Levi
“Siddhartha” de Hermann Hesse
“Tieta do Agreste” de Jorge Amado

Aproveitem estes últimos dias da Feira do Livro para tirarem partido dessa promoção e, se passarem por lá hoje, não se esqueçam dos Livros do Dia em destaque:

Grupo Porto Editora
“A Liberdade de Pátio” de Mário de Carvalho - 6,65€ (banca da Porto Editora)

Relógio D’Água
“Crime e Castigo” de Fiódor Dostoievski - 12€
“Orgulho e Preconceito” de Jane Austen - 10€

Tinta-da-China
“Os Maias” de Eça de Queirós - 12€

Alfaguara
“O Mapa e o Território” de Michel Houellebecp - 11,94€

Cavalo de Ferro
“Obra Reunida” de Juan Rulfo - 9,5€

Babel
“Sinais de Fogo” de Jorge de Sena - 17,57€

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Diário da Feira do Livro 2015: 12 de Junho


Prevenindo o estado de loucura em que iríamos ficar, a Cavalo de Ferro não adere à Hora H. Para nos compensar tem os livros todos com pequenos descontos, que representam geralmente entre menos 1.5€ e 3€ face ao preço normal, o que para a Feira do Livro é um pouco conservador... Mas nos Livros do Dia torna-se tudo mais interessante e os descontos chegam em regra aos 40%. Tendo em conta que a Cavalo de Ferro tem um dos melhores catálogos nacionais, esse desconto sabe-nos a ambrosia e até ao final a Feira ainda haverá 2 obras essenciais que estarão a preços irresistíveis: a “Obra Reunida” do Rulfo no Sábado e o “Nada” de Carmen Laforet no Domingo. Como resistir?

E por falar em Livros do Dia, quem passar hoje pela Feira do Livro poderá encontrar com desconto significativo:

Antígona
“Walden” de Henry David Thoreau - 9,25€

Grupo Porto Editora
“São Paulo” de Teixeira de Pascoaes - 11,25€ (banca da Assírio & Alvim)
“A Desumanização” de Valter Hugo Mãe - 8,3€ (banca da Porto Editora)

Babel
“Peito Grande – Ancas Largas” de Mo Yan - 14,97€

Relógio D’Água
“Debaixo do Vulcão” de Malcolm Lowry - 12€

Grupo Leya
“Claraboia” de José Saramago - 9,1€ (banca da Caminho)
“A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera - 11,3€ (banca da Dom Quixote)

Cotovia
“Assassínio na Catedral” de T.S. Eliot - 6€