sábado, 29 de novembro de 2014

A dependência dos livros - edição Novembro de 2014


Ecléctico. Assim descreveria o mês que está prestes a terminar. Do prestigiado dramaturgo português Bernardo Santareno, a Frederico Pedreira, um novo nome que tem dado que falar, passando pelo Prémio Nobel William Faulkner, pelo autor clássico Joseph Conrad e por Siegfried Lenz, um dos grandes nomes da literatura alemã, sem esquecer o grande autor brasileiro João Cabral de Melo Neto e o clássico dos clássicos Edgar Allan Poe, a minha biblioteca recebeu autores para todos os gostos.

Também as proveniências foram diversas: “Todos os Contos” de Edgar Allan Poe e “Poesia Completa” de João Cabral de Melo Neto foram ganhos em passatempos; “Nostromo” de Joseph Conrad foi comprado numa promoção da FNAC; “O Som e a Fúria” de Faulkner era uma compra potencial há já algum tempo que foi finalmente concretizada na Almedina; o 2º volume das “Obras Completas” do Bernardo Santareno foi-me encontrado pela Pó dos Livros; e o Sr Teste voltou a fazer das suas ao conseguir-me o “Dora Bruder” do Modiano e, quando o fui buscar, não resisti a “Um Bárbaro em Casa” do Frederico Pedreira e a “A Lição de Alemão” de Siegfried Lenz. Ufa, será que a minha estante aguenta?

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Ponto de Fuga: uma nova editora com um pé no passado



É com uma nota de melancolia, mas com promessas de diversão à mistura, que a Ponto de Fuga se apresenta ao mercado editorial português. A nova editora, que se posiciona como generalista (a ficção, a não ficção, a poesia e o infantojuvenil estão na sua mira), assume como uma das suas missões recuperar obras que desapareceram das livrarias, num claro esforço de preservação da memória.

Vladimiro Nunes, ex-jornalista do Sol e fundador da Ponto de Fuga, juntamente com a sua mulher Fátima Fonseca, referiu à Lusa que "as grandes editoras andam distraídas e parece-nos que há boas coisas que ainda podem ser feitas e editadas", razão pela qual, apesar do contexto de crise, consideraram viável este projecto. E em bom momento o fazem, porque também me parece que há uma área editorial por explorar: temos editoras focadas nas novidades, editoras focadas nos grandes clássicos, mas ninguém está muito atento às obras que desapareceram das livrarias portuguesas ou que nem sequer lá chegaram a entrar. Só esta declaração de intenções inicial já merece sonoras e calorosas boas-vindas à Ponto de Fuga!

Mas a ambição não fica por aqui e a Ponto de Fuga pretende ser mais do que uma editora. A ideia é criar na sua sede em Lisboa, na Rua de Ponta Delgada, uma pequena “mercearia cultural” em que, para além dos livros da própria editora, estarão também disponíveis outras obras escolhidas a dedo pelos editores e uma selecção de discos em vinil. Mas calma, que ainda não perderam nada, porque a loja será hoje aberta ao público, assinalando o 63º aniversário da publicação na Dinamarca da primeira tira do Petzi, a primeira aposta da Ponto de Fuga.


Viagens ao passado com Petzi e Natália Correia



O clássico da BD que marcou os anos 80 em Portugal, na altura editado pela Verbo, e que mereceu uma referência de Nuno Markl na sua “Caderneta de Cromos”, marca a estreia da Ponto de Fuga, que reeditará os 3 primeiros livros da colecção: “Petzi Constrói um Barco”, “Petzi e a Baleia” e “Petzi e a Mãe Peixe”. Criado pelo casal Vilhelm e Carla Hansen, ele responsável pelas ilustrações, ela pelos textos, Petzi surgiu em 1951 na Dinamarca, ficando a cargo de Susana Janic a tradução directamente do original.

A Ponto de Fuga continuará sob o signo pelo passado no início de 2015, altura para que está programada a reedição de “Não Percas a Rosa” de Natália Correia, o diário escrito pela autora entre Abril de 1974 e Dezembro de 1975 e que nos revela um olhar em primeira mão sobre a Revolução do Cravos.

E depois? Depois tudo está ainda no segredo dos deuses. Resta-nos esperar por mais novidades e desejar à Ponto de Fuga muitos sucessos.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Mafalda, há 50 anos a contestar

© Joaquín S. Lavado (Quino)/Caminito S.a.s. - Literary Agency
Tira gentilmente cedida pela Editorial Verbo.

Uma mulher de 50 anos deve ser madura e ponderada, saber distinguir o essencial do acessório e guiar-se por uma visão de longo prazo. Mafalda não precisou de tantos anos para ser tudo isso, para se afirmar como a mais sábia e racional das personagens do universo criado por Quino e do qual faziam também parte os seus pais e depois, surgindo sucessivamente, Filipe, Manelito, Susanita, o irmão mais novo de Mafalda e Liberdade (ironicamente a mais pequena do grupo de amigos e a mais contestatária).

Mafalda nasceu, curiosamente, graças a uma agência de publicidade, que teve a ideia de criar uma BD sobre uma família, em que pudesse fazer product placement da marca de electrodomésticos Mansfield. Quino apresentou a sua proposta, devendo Mafalda o seu nome à semelhança em termos de letras com a marca, mas a agência decidiu seguir por outra via, e Mafalda só chegaria ao grande público a 29 de Setembro de 1964, no semanário Primera Plana, já sem nenhuma ligação ao mundo da publicidade. Até Junho de 1973, data em que Quino publicou a última tira da personagem, Mafalda passaria pelo El Mundo de Buenos Aires e, finalmente, pelo Siete Días Illustrados.




Uma visão pessoal sobre Mafalda


Como Mafalda também eu era uma criança de mente velha, que não resistia a nas férias vasculhar a biblioteca municipal em busca de livros por ler, tarefa que com o tempo se tornou cada vez mais árdua. Foi numa dessas visitas que me deparei com uma edição de "Toda a Mafalda". Nunca fui um grande fã de BD, tinha lido alguma coisa do Garfield, alguma coisa dos Smurfs, mas não era por definição o género que mais me agradava. Mas Mafalda depressa revelou a sua capacidade de fascinar e de surpreender, que resulta da união de uma visão peculiarmente prática do mundo com um irracional ódio por sopa.

Na altura, enquanto criança, Mafalda e Liberdade pareciam-me duas personagens divertidas, nas quais me revia, mas sem perceber a profundidade do trabalho de Quino. A grandeza de Mafalda, a inteligência e a sofisticação daquelas breves tiras apenas se revela na sua plenitude aos olhos de um adulto, tornando evidente a dimensão social e cultural desta obra e o quão astutamente crítica Mafalda é face aos vícios da sociedade.

O mundo em que Mafalda surgiu pode já não existir e as preocupações que assolam o nosso quotidiano podem ser muito distintas, mas há princípios basilares que são imutáveis (a inteligência de questionar, de não agir sem perceber o porquê, por exemplo) e que em parte explicam a longevidade das histórias criadas por Quino que, pelo impacto de Mafalda, foi agraciado este ano, em que se assinalam os 50 anos do aparecimento desta personagem, com o Prémio Príncipe das Astúrias.



Verbo reedita “Toda a Mafalda”


A comemorar os 50 anos de uma das BD mais populares de sempre a Verbo, chancela do grupo Babel, publicou recentemente uma edição comemorativa que reúne todas as tiras criadas por Quino, complementadas por artigos de opinião e informações que elucidam o leitor sobre os factos históricos por detrás de alguns gags. Procurem esta edição nas livrarias e não prescindam da oportunidade de comprar um tesouro que passará de geração em geração. Com direito a entrada directa para a minha lista de pedidos ao Pai Natal.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A dependência dos livros - edição Outubro de 2014


Outubro foi um mês de compras muito interessantes e, para variar, de grandes pechinchas. Houve a promoção da Wook, um leve 3 pague 2, em que comprei “Deserto” do Le Clézio e 2 livros que estavam há muito tempo na minha lista: “Contos do Gin-Tonic” do Mário-Henrique Leiria e “Sempre Vivemos no Castelo” de Shirley Jackson.

Comecei a reunir a trilogia do Cairo do Naguib Mahfouz no Natal passado, numa promoção da FNAC, na qual não estava incluído o volume do meio, o “O Palácio do Desejo”. Pois bem, deixei-me ficar calmo, pensando que não faltariam oportunidades no futuro para comprá-lo. Até ao dia em que me apercebi que o livro estava esgotado em quase todo o lado (incluindo na editora!) e entrei em pânico. Felizmente havia uma cópia à minha espera na Bulhosa, de onde veio também “O que a Noite Aprendeu do Gato” do Luís Miguel Rosa, um recém-conhecido da blogosfera.

Da promoção da FNAC com livros da Assírio & Alvim a metade do preço veio um namoro antigo, “São Paulo” de Teixeira de Pascoaes, e um livro de um autor por descobrir: “O Coronel Chabert” de Balzac.

Para completar este grupo, já de si ilustre, foi-me oferecido o “Dialética da Colonização” de Alfredo Bosi, um dos volumes da colecção “Biblioteca da Academia” da Glaciar, de que vos falei recentemente. E, para finalizar, e porque todo o bolo precisa de uma cereja que o transporte para outra dimensão, encontrei por acaso o “À Espera dos Bárbaros” do Coetzee na Fyodor Books, quando já tinha perdido a esperança de o conseguir comprar. Um final feliz, portanto.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Pen Clube Português e Associação Portuguesa de Escritores premeiam 8 escritores portugueses no mesmo dia

Ontem foi um dia algo insólito. Primeiro são anunciados os prémios do Pen Clube Português e deparamo-nos com o feito de os jurados não terem conseguido tomar decisões e concederem prémios ex-aequo em 3 das 4 categorias. Pergunto eu: isto faz algum sentido? Sim, em algumas situações podemos aceitar que haja obras de qualidade equivalente e que os jurados não consigam decidir, mas que isso aconteça em 3 categorias?! Parece-me só falta de critério.

E depois da torrente de vencedores dos Prémios do Pen Clube Português eis que a Associação Portuguesa de Escritores (APE) decide, no mesmo dia, anunciar o Grande Prémio do Romance e Novela. Mas que sentido faz anunciar os vencedores de 2 prémios literários de prestígio no mesmo dia? É uma questão de competição? Ou é um simples desconhecimento dos princípios básicos de marketing e comunicação? Quem fica prejudicado no meio disto tudo são os escritores que ficam algures perdidos numa lista e enorme de vencedores e têm menos projecção mediática. É caso para dizer que difícil ontem foi ser escritor em Portugal e não receber um prémio!

Vamos então conhecer as obras que para o Pen Clube Português e a APE representam o melhor da literatura produzida em Portugal em 2013:


“Que Importa a Fúria do Mar” de Ana Margarida de Carvalho, Teorema (Grande Prémio de Romance e Novela APE-DGLAB 2013)


Sinopse
Frente a frente, duas gerações de um Portugal onde, às vezes, parece que pouco mudou…
Numa madrugada de 1934, um maço de cartas é lançado de um comboio em andamento por um homem que deixou uma história de amor interrompida e leva uma estilha cravada no coração. Na carruagem, além de Joaquim, viajam os revoltosos do golpe da Marinha Grande, feitos prisioneiros pela Polícia de Salazar, que cumprem a primeira etapa de uma viagem com destino a Cabo Verde, onde inaugurarão o campo de concentração do Tarrafal.

Dessas cartas e da mulher a quem se dirigiam ouvirá falar muitos anos mais tarde Eugénia, a jornalista encarregada de entrevistar um dos últimos sobreviventes desse inferno africano e cuja vida, depois do primeiro encontro com Joaquim, nunca mais será a mesma.

Separados pelo tempo, pelo espaço, pelos continentes, pela malária e pelo arame farpado, os destinos de Joaquim e Eugénia tocar-se-ão, apesar de tudo, no pêlo de um gato sem nome que ambos afagam e na estranha cumplicidade com que partilham memórias insólitas, infâncias sombrias e amores decididamente impossíveis.

"Que Importa a Fúria do Mar" é um romance de estreia com uma maturidade literária invulgar que coloca, frente a frente, duas gerações de um Portugal onde, às vezes, parece que pouco mudou.



“Como Uma Flor de Plástico na Montra de um Talho” de Golgona Anghel, Assírio & Alvim (Prémio Pen Poesia 2013)


Excerto
"Subiu dez andares para assim nos poder olhar de frente. Não lhe interessa o que dizem os dissidentes da ditadura. Mas confessa que gostava dos chocolates Toblerone que a sua tia lhe trazia no Natal. Colecciona cabelos nas folhas de um herbário sentimental. Escreve a palavra vazio depois da palavra espera. É como a Salomé — dizem — pede cabeças mas só lhe entregam pizzas. Perdeu a fé num ataque de riso. Exige agora silêncio e um copo de tinto, enquanto apresenta em directo a autópsia da sua glória."



“Fogo” de Gastão Cruz, Assírio & Alvim (Prémio Pen Poesia 2013)


Excerto
TW, Dragon Country

Acreditávamos no tempo quando
o país do dragão era um espectáculo
de fronteira inviolável, e a angústia
não saía de dentro do cenário, e a
emoção era um lugar fictício:
acreditar no
tempo o erro mais terrível



“Para Que Serve a História?” de Diogo Ramada Curto, Tinta-da-China (Prémio Pen Ensaio 2013)


Sinopse
«Papá, para que serve a história?» — com esta simples pergunta, Bloch abria um dos mais belos livros de história de todos os tempos, «Apologie pour l’histoire ou Métier d’historien». Colocada com a ingenuidade dramática de uma criança, a questão merece uma série de respostas subtis, que também Diogo Ramada Curto procura fornecer: a curiosidade por todo o tipo de actividades humanas; a vontade de conhecer a sociedade no seu todo e nos seus tempos múltiplos; sobretudo, o desejo de compreender a vida real, no seu quotidiano e nas suas práticas mais repetitivas, por oposição a uma concepção morta do passado, enterrado em museus, monumentos e manuais.

Mais importante ainda, o estudo da história faz parte das necessidades de formação de cidadãos politicamente conscientes, capazes de se baterem pelos seus ideais democráticos. Afinal de contas, como salientava Bloch, o regime nazi pôs a descoberto a irresponsabilidade de muitos intelectuais. A sua passividade e até o seu colaboracionismo frente a um regime feroz — fundado em interpretações históricas míticas ou totalmente falaciosas — traduziram-se numa incapacidade gritante para se dedicarem ao estudo da história e para se libertarem do peso do passado.

«Para Que Serve a História?» relança este debate cívico e intelectual e ao mesmo tempo questiona os vícios e a pobreza que, segundo o autor, imperam hoje nas universidades portuguesas.



“Ara” de Ana Luísa Amaral, Sextante (Prémio Pen Narrativa 2013)

 
Sinopse
"Primeiro: a prosternação diante do altar. A hesitação diante da proliferação dos ritos: sacrifício, louvor, cântico, narrativa. Figuras e vozes, acólitos. Insurgências. Japoneiras e túneis do sentido. Discrepância a todas as vozes acumulando num sentido. Não único, mas unívoco. Desde a infância.

Segundo (como se diz de um andamento ou de um painel): o tríptico dentro do tríptico das DUAS IRMÃS: a narrativa oblatória e clara da paixão sáfica. Ardente e casta. Sem falso pudor. Vergonha é não te amar. A oferenda lírica.

Terceiro: não é coisa de rasgar como romance este romance. Assente na pedra do lar um prisma multifacetado e translúcido: o amor único, a palavra. A brisa do arado sobre a ara." 
Por Maria Velho da Costa



“As Primeira Coisas” de Bruno Vieira Amaral, Quetzal (Prémio Pen Narrativa 2013) 



Sinopse
Quem matou Joãozinho Treme-Treme no terreno perto do depósito da água? O que aconteceu à virginal Vera, desaparecida de casa dos pais a dois meses de completar os dezasseis anos? Quem foi o homem que, a exemplo do velho Abel, encontrou a paz sob o céu pacífico de Port of Spain? Porque é que os habitantes do Bairro Amélia nunca esquecerão o Carnaval de 1989? Quem é que poderá saber o nome das três crianças mortas por asfixia no interior de uma arca? Onde teria chegado Beto com o seu maravilhoso pé esquerdo se não fosse aquela noite aziaga de setembro? Quantos anos irá durar o enguiço de Laura? De que mundo vêm as sombras de Ernesto, fabuloso empregado de mesa, Fernando T., assassinado a 26 de dezembro de 1999, Jaime Lopes, fumador de SG Ventil, Hortênsia, que viveu e morreu com medo de tudo? Quando é que Roberto, anjo exterminador, chegará ao bairro para consumar a sua vingança?

Memórias, embustes, traições, homicídios, sermões de pastores evangélicos, crónicas de futebol, gastronomia, um inventário de sons, uma viagem de autocarro, as manhãs de Domingo, meteorologia, o Apocalipse, a Grande Pintura de 1990, o inferno, os pretos, os ciganos, os brancos das barracas, os retornados: a Humanidade inteira arde no Bairro Amélia.



“Verdade e Enigma: Ensaio Sobre o Pensamento Estético de Adorno” de João Pedro Cachopo, Vendaval (Prémio Pen Primeira Obra 2013)

 

Excerto
«[...] o debate em torno da actualidade da estética adorniana transformou-se numa discussão sobre pertinência de uma «estética do enigmático». Uma tal estética visaria prolongar o movimento crítico – para Adorno, o «teor de verdade» – da criação artística e da experiência estética, num «uso desregulador da arte». Este, além de permitir escapar à dicotomia entre «soberania» (verdade) e «autonomia» (aparência) e articular as vertentes afirmativa e negativa da arte, constituiria um modo de disseminar, para além da esfera estética, o potencial crítico da arte – potencial de diferendo e de dissenso –, potencial cujo destino permanece decididamente em aberto.»


  

“Cinza” de Rosa Oliveira, Tinta-da-China (Prémio Pen Primeira Obra 2013)


Sinopse
«"Cinza" é o primeiro livro de poemas de Rosa Oliveira. Cinzas daquilo que fica da memória, ou de uma ideia vaga de "futuro", cinzas que são a melancolia a que chamamos "presente", tempo que passa depressa-devagar, como em Ruy Belo, várias vezes citado. Esta poesia "confessional", mas tão privada quanto política, faz-se da comoção estilhaçada da "Magnólia" de Paul Thomas Anderson mas também das invasões bárbaras que assombram a Europa, invasões que não vale a pena temer, porque já triunfaram. Conceitos como a relatividade e a turbulência ligam misteriosamente as leis da física e a batalha de Waterloo, a destruição de Pompeia e a luta de classes. Rosa Oliveira usa a alusão, a colagem, a sabotagem semântica e o sarcasmo para descrever mudanças, instantes, hiatos irrecuperáveis, tempos perdidos, maravilhas banais da nossa idade. Nos jardins da Gulbenkian como em "santa-clara-a-reciclada", vislumbramos pequenos medos, pequenos nadas, a memória de uma canção, uma vida que talvez esteja acima das nossas possibilidades.»

Por Pedro Mexia