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terça-feira, 22 de setembro de 2015

A shortlist do The Man Booker Prize 2015


E de 13 restam 6 livros na corrida para vencer o The Man Booker Prize 2015, um dos prémios literários de maior prestígio o mundo, ficando pelo caminho “Lila” de Marilynne Robinson, talvez a autora mais consagrada do grupo.

Dos 6 livros que integram a shortlist, 2 pertencem a autores ingleses (Tom McCarthy e Sunjeev Sahota), outros 2 a autores americanos (Anne Tyler e Hanya Yanagihara), havendo ainda lugar para o jamaicano Marlon James e o nigeriano Chigozie Obioma.

O vencedor será conhecido no dia 13 de Outubro, mas para já deixo-vos com um cheirinho de cada um dos livros.


“A Brief History of Seven Killings” de Marlon James




“Satin Island” de Tom McCarthy




“The Year of the Runaways” de Sunjeev Sahota

“The Fishermen” de Chigozie Obioma

“Part of the novel’s impulse is that I have been looking for a way to capture what I feel is an elemental dilemma of the situation in Nigeria: Why is it that Nigeria can’t progress? We have abundant oil, a strong elite educated class, a sizable youth population of 70 million under 35 years old. Why are we still backwards as a people? The issue I think lies in the foundation itself. The distinct tribes, like Yoruba and Igbo, they are their own states. They used to have no contact and they progressed in their own way. But then a colonizing force came in and said, “Be a nation.” It is tantamount to the prophecy of a madman. Why are we subscribing to this British idea of a nation? Why can’t we decide for ourselves?”



“A Spool of Blue Thread” de Anne Tyler

“The Whitshank family – Red and Abby, now in their early old age, and their two sons, two daughters and numerous grandchildren – cleave to the myth of family precisely because they lack an elaborate foundation story. Their “patriarch”, Junior, is Red’s late father, a carpenter who dreamed and schemed his way to establishing the family’s rather grand and much-admired house, which becomes central to both their story and the novel’s. The shortness of their family tree means “they didn’t have that many stories to choose from. They had to make the most of what they can get”, and such characteristics as they have managed to build up are pretty self-effacing: they pride themselves on not being melodramatic, and their tendency to pretend things are going to turn out fine even leads them to deny their own mortality. “Whitshanks didn’t die, was the family’s general belief. Of course they never said this aloud. It would have seemed presumptuous.” (Not to mention the fact that some of them have died already.)”



“A Little Life” de Hanya Yanagihara

“The novel, which is both a dislocating meditation on the trauma of child sexual abuse, and a moving tribute to the possibilities and limitations of adult male friendship and love, was widely greeted as a book of landmark honesty – “the most ambitious chronicle of the social and emotional lives of gay men to have emerged for many years” – on publication in America in the spring (though some critics found its graphic descriptions of sexual violence both voyeuristic and too much to bear).”

Excerto de um artigo do The Guardian.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Richard Flanagan, o terceiro australiano a vencer o The Man Booker Prize


O The Man Booker Prize for Fiction 2014 acaba de ser anunciado e, no primeiro ano em que o prémio esteve aberto a todos os escritores de língua inglesa e em que se temia a entrada de americanos na corrida, acabou por ser um australiano a levar a melhor: Richard Flanagan com o livro “The Narrow Road to the Deep North”.

Estive a acompanhar o anúncio em directo na BBC e os ingleses de facto são especiais. Os comentadores, logo para começar, criticaram todos os livros, apesar de considerarem o lote de finalistas notável. Ironia das ironias, Richard Flanagan foi o que recebeu comentários mais duros.Que o Booker Prize não tem o prestígio do Nobel já todos sabíamos, mas ter de beijar a Camilla Parker Bowles em vez da Rainha Silvia já é abusar um bocado. Enfim, nada na vida é perfeito.

A cumprir-se a tradição dos últimos anos, alguma editora portuguesa pegará certamente neste livro que virá fazer companhia a “Os Luminares” de Eleanor Catton, o vencedor do ano passado, publicado recentemente pela Bertrand. Até lá, fiquemos com a sinopse:

“The Narrow Road to the Deep North” é uma história de amor entre um médico e a mulher do seu tio, que se desenrola ao longo de meio século.

Retirando o seu título de um dos mais famosos livros da literatura japonesa, escrito pelo grande poeta haiku Basho, a novela de Flanagan tem no seu centro um dos mais infames episódios da história japonesa, a construção da Ferrovia da Birmânia (a Ferrovia da Morte) na Segunda Guerra Mundial.

No desespero de um campo de prisioneiros de guerra japonês na Ferrovia da Morte, o cirurgião Dorrigo Evans é perseguido pelo caso que teve com a jovem mulher do seu tio dois anos antes. Lutando para salvar os homens sob o seu comando da fome, da cólera, da violência, recebe uma carta que vai mudar a sua vida para sempre.

(tradução da sinopse apresentada no site do The Man BookerPrize)

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

The Man Booker Prize 2014: a shortlist


Já é conhecida a shortlist do The Man Booker Prize 2014, cujo vencedor será anunciado a 14 de Outubro, em princípio já depois de o mundo ter prestado as suas homenagens ao Prémio Nobel. E nesta primeira edição aberta a outras nacionalidades, a diversidade é a palavra-chave, com três finalistas do Reino Unido, dois dos EUA e um da Austrália. Qual destes livros será o vencedor?


“To Rise Again at a Decent Hour” de Joshua Ferris


“”To Rise Again At a Decent Hour” parte da questão se há um tipo de linguagem privada e intimidade na religião que está a escapar a rapazes brancos e rafeiros como eu. E até certo ponto, estou também a pensar se, enquanto escritor, há algo que me está a escapar. Quando és um novelista americano em 2014, num momento em que Philip Roth teve uma apoteose – ascendeu ao paraíso apesar de ainda estar na terra – percebes a extraordinária riqueza que ele encontrou no judaísmo. Eu não cresci com essa riqueza. Simplesmente não a tive.”


Livros de Joshua Ferris editados em Portugal:

Sem Rumo”, Casa das Letras
Então Chegámos ao Fim”, Casa das Letras



“The Narrow Road to the Deep North” de Richard Flanagan


“Dos horrores vividos por soldados Aliados, forçados pelos seus captores japoneses a construir uma linha de comboio entre a Tailândia e a Birmânia em chocantes condições de trabalho escravo, o herói da nova novela de Richard Flanagan constata que é impossível expressar “o sofrimento, as mortes, a tristeza, o abjecto, o patético despropósito de um tão sofrer tão imenso por tantos.”

“O horror pode ser contido num livro, dando-lhe forma e sentido” refere. “Mas na vida o horror não tem forma nem sentidos. O horror simplesmente é.””

Livros de Richard Flanagan editados em Portugal:

O Livro dos Peixes de Gould”, Dom Quixote



“‘We Are All Completely Beside Ourselves” de Karen Joy Fowler


“Numa história com muitos começos, este é o núcleo: a implosão de uma família com a dor. O pai torna-se num bêbedo taciturno, a sua grande experiência num falhanço.  A mãe retira-se para um silêncio estrito do qual recuperará com as mesmas dificuldades de uma mãe que perdeu o filho. O amado irmão de Rosemary falha amargamente num caminho sem retorno.”

Não há livros da autora publicados em Portugal.


“J” de Howard Jacobson


“Ao escrever comédia, senti que estava a enganar o leitor para que não sentisse certas coisas, enquanto me enganava a mim próprio por não escrever sobre coisas mais tocantes ou incómodas. Então, era tempo de desafiar-me.”

Livros de Howard Jacobson editados em Portugal:

A Questão Finkler”, Porto Editora



“The Lives of Others” de Neel Mukherjee


“O elenco é enorme o leitor passa tempo, em algum momento, com a maioria dele. Leva um pouco para conhecer todos os homens, mulheres e crianças, mas a história é sempre cativante, e há várias bombas-relógio que repentinamente mudam a forma como vemos todo o mundo do livro.”

Não há livros do autor publicados em Portugal.


“How to Be Both” de Ali Smith


“A pista está no título. “How to Be Both” é composto por duas partes, uma a decorrer no presente, a respeito de George, uma teenager cuja mãe morre de repente, a outra o imaginar uma vida para o pintor italiano de frescos do século XV Francesco del Cossa, de cuja biografia real se sabe muito pouco. Mas há uma surpresa: a novela existe em duas edições, uma com a história de George primeiro, a outra com a de Del Cossa.”
(excerto de uma entrevista ao The Guardian)

Livros de Ali Smith editados em Portugal:

A Primeira Pessoa”, Quetzal
Qualquer Coisa Como”, Quetzal
A Metamorfose do Amor”, Teorema
“A Acidental”, Bico de Pena
“Hotel Mundo”, Bico de Pena

terça-feira, 29 de julho de 2014

The Man Booker Prize 2014: a longlist

Com os grandes prémios literários do ano mesmo ao virar a esquina, damos o primeiro passo em direcção aos últimos meses de 2014 com o anúncio da longlist do The Man Booker Prize 2014. Pela primeira vez poderam concorrer autores de todas as nacionalidades, desde que o seu livro tenha sido escrito em inglês, o que resultou num grupo multinacional de treze autores (seis britânicos, quatro americanos, dois irlandeses e um australiano), dos quais três são repetentes nestas andanças: Howard Jackobson venceu o prémio em 2010 com “A Questão Finkler”, David Mitchell é já um profissional com dois livros a chegar à shortlist (um deles o famoso “Cloud Atlas”) e outros dois na longlist, e Ali Smith não lhe fica atrás por muito, com dois livros na shortlist.

Mas deixemos que seis dos nomeados nos apresentem os seus livros:

“To Rise Again at a Decent Hour” de Joshua Ferris






“The Narrow Road to the Deep North” de Richard Flanagan





“We Are All Completely Beside Ourselves” de Karen Joy Fowler





“The Blazing World” de Siri Hustvedt





“The Wake” de Paul Kingsnorth





“The Bone Clocks” de David Mitchell





Os restantes nomeados são:

“J” de Howard Jacobson


“The Lives of Others” de Neel Mukherjee


“Us” de David Nicholls


“The Dog” de Joseph O’Neill


“Orfeo” de Richard Powers


“How to Be Both” de Ali Smith


“History of the Rain” de Niall Williams


Como seria de esperar, quase nenhum destes livros foi ainda publicado em Portugal, excepção feita para o livro de Siri Hustvedt, que a Dom Quixote editou recentemente com o título “O Mundo Ardente”.


Esperemos então pelo dia 9 de Setembro para saber que livros vão chegar à shortlist.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A APEL quer eleger a livraria preferida de Portugal

Está a chegar aquela altura do ano em que Lisboa se enche de livros. E para dar início à festa do livro, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) decidiu lançar mais uma edição da “Livraria Preferida”. Esta acção, que se tem centrado em Lisboa, irá este ano abranger todo o país, dando a oportunidade a todos os leitores de, num breve questionário, escolherem a livraria portuguesa que é a menina dos seus olhos.

De recordar que no ano passado, entre as livraria lisboetas, a eleita do votantes foi a Bertrand do Chiado, seguida da Pó dos Livros e da Ler Devagar. O meu voto, mantendo a tradição, vai para a Pó dos Livros. Porquê? Façam-lhe uma visita e vão ficar a perceber. Um atendimento de primeira qualidade, um serviço de alfarrabista de excelência, um espaço acolhedor e livros que revelam escolhas ponderadas, fugindo ao paradigma das livrarias de novidades.

Querem participar? Na imagem em baixo têm um link para a página no site da APEL em que está disponível o acesso ao questionário. A livraria vencedora será conhecida durante a 84ª Feira do Livro de Lisboa.


sexta-feira, 9 de maio de 2014

Afonso Cruz, Álvaro Magalhães e A. M. Pires Cabral premiados pela Sociedade Portuguesa de Autores

Três homens, três livros, três editoras. Assim se poderia sintetizar o Prémio Autores 2014 atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores na área da literatura. A entrega dos prémios, que nos últimos anos distinguiu nomes como Mário Cláudio, José Luís Peixoto, Catarina Sobral e Miguel Real, decorreu ontem no Salão Nobre dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa, evento que este ano ficou marcado pela recusa da RTP em participar na gala. Polémicas à parte, os vencedores na área da Literatura foram:

Melhor Livro Infanto-Juvenil

“O Senhor Pina” de Álvaro Magalhães, com ilustrações de Luiz Darocha


Sinopse: "O Senhor Pina" é um conjunto de dezasseis ficções que ergue um retrato íntimo, sensível e muito bem humorado do poeta Manuel António Pina, desde o seu modo peculiar de olhar e viver a vida e a literatura até à sua relação com Joanica-Puff, o Urso com Poucos Miolos que ele tanto admirava. E é tudo verdade ou não? Ou é tudo imaginação? É tudo verdade e não. E é tudo imaginação.

Editora: Assírio & Alvim



Melhor Livro de Poesia

“A Gaveta do Fundo” de A. M. Pires Cabral


Sinopse: "Depois de se ter estreado com um impressionante conjunto de poemas que iniciou o chamado «ciclo do Nordeste» («Algures a Nordeste», «Boleto em Constantim», «Douro: Pizzicato e Chula», «Arado» e «Cobra-d’Água»), A. M. Pires Cabral regressa ao tema de Trás-os-Montes, em tom elegíaco. A Terra Quente é agora uma terra envelhecida, despovoada, esquecida, cheia de silêncios e de escombros. Uma terra que chegou ao fim. Esta colectânea não desiste de uma nostalgia ainda «bucólica»: o rio Tua, as vinhas e furnas, a lavoura, a «guarda pretoriana» de gatos e cães, rãs e vacas, aves e pirilampos. A linguagem dos poemas é elevada ou demótica, sarcástica e quase metafísica, alegórica e zangada com as decisões de quem manda. Ou simplesmente assustada com a «temível, cerrada, intransitiva / noite dos homens». Porém, o tom disfórico não impede que o poeta se comova com procissões e magustos, resquícios de um tempo em que natureza e comunidade formavam uma união quase sagrada. Nos últimos anos, a discreta poesia de Pires Cabral alcançou um justo reconhecimento, por causa de alguns livros esplêndidos sobre a finitude. Chegou agora a vez do seu requiem transmontano." (por Pedro Mexia)

Editora: Tinta da China



Melhor Livro de Ficção Narrativa

“Para Onde Vão os Garda-Chuvas” de Afonso Cruz


Sinopse: O pano de fundo deste romance é um Oriente efabulado, baseado no que pensamos que foi o seu passado e acreditamos ser o seu presente, com tudo o que esse Oriente tem de mágico, de diferente e de perverso. Conta a história de um homem que ambiciona ser invisível, de uma criança que gostaria de voar como um avião, de uma mulher que quer casar com um homem de olhos azuis, de um poeta profundamente mudo, de um general russo que é uma espécie de galo de luta, de uma mulher cujos cabelos fogem de uma gaiola, de um indiano apaixonado e de um rapaz que tem o universo inteiro dentro da boca.

Um magnífico romance que abre com uma história ilustrada para crianças que já não acreditam no Pai Natal e se desdobra numa sublime tapeçaria de vidas, tecida com os fios e as cores das coisas que encontramos, perdemos e esperamos reencontrar.

Editora: Alfaguara

terça-feira, 26 de novembro de 2013

"E a Noite Roda" vence o Grande Prémio do Romance e da Novela APE



Sinopse do livro


Ana e Léon conhecem-se em Jerusalém na véspera da morte de Yasser Arafat. Aí começa uma história que atravessa várias cidades e paisagens, da Faixa de Gaza à Mancha de Quixote, enquanto o mundo exterior se vai fechando num quarto sem saída.

«Toda a praça roda à minha volta e tu és um buraco negro. Então o sol dá-te em cheio. Estás encostado à fonte, depois da estátua de Giordano Bruno, que há 400 anos foi queimado por dizer que nós é que rodamos à volta do sol. Fumas uma cigarrilha, chamas-te Léon. És um desconhecido e és tu. Qual deles vais ser?»

«E a Noite Roda» é o primeiro romance de Alexandra Lucas Coelho, tendo sido editado pela Tinta da China.


Curiosidades sobre Alexandra Lucas Coelho:


Correspondente do Público no Brasil e autora do blogue Atlântico-Sul.


Outros livros da autora:


Oriente Próximo (Relógio D’Água)
Viva México (Tinta da China)
Vai, Brasil (Tinta da China)
Caderno Afegão (Tinta da China)

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Reler Ondjaki



“Entrou na igreja com um passo miúdo, sem fazer barulho. Era de manhãzinha e já tinha acontecido a primeira missa. Respirou o ar que lá estava, sentiu uma delicada religiosidade penetrar-lhe os pulmões e o coração. A beleza da arquitectura, a luz filtrada pelos vitrais, a manhã e o momento, a ausência do padre, fizeram-no começar o assobio. Descobriu, ao fim da primeira música, que se tratava de um dos melhores sítios do mundo para assobiar melodias.” 

Em "O Assobiador" de Ondjaki


Quando foi anunciado que Ondjaki tinha vencido o Prémio Saramago 2013, com o livro “Os Transparentes” (editado pela Caminho), preparei-me para escrever sobre este autor, e não em termos elogiosos. Em tempos a Visão fez uma colecção a que chamou Frente e Verso e que reunia, de cada um dos lados, um livro, uma obra em prosa e outra em poesia de um mesmo autor. Na altura comprei por acaso a revista que tinha o livro de Ondjaki, com “O Assobiador” e “Há Prendisajens com o Xão”. Não fiquei maravilhado. A prosa deixou-me indiferente e a poesia, com aquele hábito comum a outros autores africanos de inventar novas palavras, marcou-me pela negativa, ao ponto de nem sequer considerar dar uma segunda oportunidade ao autor, como habitualmente faço.

E assim, Ondjaki saiu da minha vida. De vez em quando ouvia falar nele e pensava sempre no livro de poesia que tanto me desagradou. Com o anúncio do prémio e a preparação do artigo deparei-me com algo estranho: não me lembrava de absolutamente nada de “O Assobiador”. Como o livro é bastante pequeno decidi relê-lo e tive uma agradável surpresa quando percebi que estava a gostar bastante. Não se pode dizer que seja uma grande obra, nem um romance incontornável mas, na sua simplicidade, “O Assobiador” consegue recriar um universo que por vezes nos traz à memória Jorge Amado. Um grupo de personagens peculiares, que testemunham episódios místicos que fogem à sua compreensão, tudo motivado pelo poder metafísico de um assobio. Muito interessante, sem dúvida.

Mas se me surpreendi com um dos livros, confirmei também os meus sentimentos em relação ao outro. Não se pode dizer que a poesia de “Há Prendisajens com o Xão” seja inspirada. Há demasiados jogos fonéticos, demasiado empenho em criar elementos de interesse na forma, que nos tenta distrair de um conteúdo pobre. Não recomendo.


Retiro desta experiência um interesse que tinha perdido por Ondjaki e o desejo de ler “Os Transparentes”, na esperança de ver os sinais auspiciosos que encontrei em “O Assobiador” adquirirem um maior relevo. De facto, o mesmo livro, lido em diferentes momentos, pode ser visto de uma forma totalmente diferente.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Discurso Directo: O livro da vida de Rentes de Carvalho


“Eça de Queirós escreveu guiões de cinema antes de haver filme.” (Rentes de Carvalho no programa "Ler +, Ler Melhor" da RTP2)

Rentes de Carvalho foi o vencedor deste ano do Grande Prémio da Crónica da APE (Associação Portuguesa de Escritores) com o livro "Mazagran", editado pela Quetzal.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Desbloqueadores de conversa sobre literatura: O Mia Couto ganhou o Prémio Neuquê?!


Há umas semanas 99% dos portugueses nunca tinham ouvido falar no Neustadt. Mas tudo mudou de figura na semana passada quando Mia Couto foi anunciado como o vencedor deste ano do Prémio, e agora a percentagem de desconhecimento deverá ter descido para os 90%. Sim, porque no caso do Neustadt o nível de prestígio é directamente proporcional à não divulgação do prémio, pelo menos fora dos EUA.

Mas afinal de onde saiu o Prémio Neustadt? Bom meus caros, tenho a dizer-vos que também eu cobri a minha cara com vergonha quando, há uns meses, o descobri e me apercebi que estava perante o segundo prémio literário internacional mais importante. Sendo um prémio concedido pela obra e não por um livro em específico, o âmbito do Neustadt é muito semelhante ao do Nobel: são elegíveis escritores de todas as nacionalidades, sejam ficcionistas, poetas ou dramaturgos, havendo no entanto o condicionante de que parte significativa da sua obra tem de estar traduzida em inglês. Mas em termos de processos de selecção o Neustadt aproxima-se mais do Booker, sendo para cada edição nomeado um júri pelo Director Executivo da World Literature Today (o único membro permanente) e cada membro sugere um candidato, formando-se assim uma shortlist que servirá de base às deliberações que decorrem na Universidade de Oklahoma.


Até ao momento o Prémio Neustadt foi atribuído a 22 escritores, 4 dos quais mulheres, 4 dos quais vencedores também do Nobel da Literatura. Mia Couto foi o segundo lusófono premiado, tendo o prémio sido concedido anteriormente o brasileiro João Cabral de Melo Neto. Portugueses só mesmo na shortlist, tendo sido nomeados Saramago (em 2004), Lobo Antunes (em 2002) e Alberto de Lacerda (em 1980) – serei o único a nunca ter ouvido falar em tal pessoa?

sábado, 9 de novembro de 2013

Os PEN do ano VI: "Groto Sato" de Raquel Nobre Guerra (Prémio Primeira Obra)


Pura


esta gente que colhe água para derramá-la
compassivamente sobre a chaga
esta virtuosa carraça pública
com redentor cigarro público também
esta solidão assediando cretinos e sábios
esta deserta implausível cartada
grande força erguida a prumo

esta gente esta imperial e sopa à frente
esta gente que se levanta de peito e escreve
para não matar ninguém

(poema retirado de “Groto Sato” de Raquel Nobre Guerra, Mariposa Azual)

Os PEN do ano V: "Travessa d'Abençoada" de João Bouza da Costa (Prémio Narrativa)



Sinopse do livro:


Uma criança autista escuta os sons de dois corpos entregues ao sexo e convoca os seus deuses contra a derrocada do tempo. Um tradutor apropria-se, coxeando, da sua cidade, enquanto a música inunda a noite e a sua mulher se debate com a memória. Um velho preso no labirinto da raiva enfrenta a morte caído numas escadas. Pessoas de uma pequena travessa de Lisboa, vinte e quatro horas da vida no mundo.


Curiosidades sobre João Bouza da Costa:


Carteiro, limpador de vidros, vendedor de vinhos, pintor de cenários de ópera, professor, tradutor e intérprete, João Bouza da Costa é o verdadeiro homem dos sete ofícios, ao qual se adicionou um oitavo, o de escritor, e ainda por cima escritor premiado. “Travessa d’Abençoada”, publicado pela Sextante, é o seu primeiro romance.



João Bouza da Costa sobre “Travessa d’Abençoada”:




sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Os PEN do ano IV: "O Cinema da Poesia" de Rosa Maria Martelo (Prémio Ensaio, também)


Uma breve introdução ao livro:


«Os ensaios reunidos neste livro constituem diferentes tentativas de aproximação aos processos de fazer imagem na poesia moderna e contemporânea. Embora trabalhem obras e questões diferenciadas, todos incidem sobre formas de conceber e articular as imagens na poesia, ou sobre os modos como o texto poético se pensa em diálogo com outras artes da imagem, especialmente o cinema.
[...]
 Ao acentuar a visualidade e o visionarismo das imagens verbais, ou a sua tensão e rapidez, a poesia de tradição moderna apresenta-se muitas vezes como uma espécie de cinema, uma arte na qual o fluxo das imagens desempenha um papel determinante. «O cinema extrai da pintura a acção latente de deslocação, de percurso. Tome-se um poema: não há diferença», escreveu Herberto Helder. Como pensar esta similaridade, esta convergência? Em que consiste o cinematismo da poesia? Os autores estudados neste livro encaminham-nos para algumas respostas.”
(excerto do preâmbulo de “O Cinema da Poesia” de Rosa Maria Martelo, Documenta)


Curiosidades sobre a autora:


Investigadora do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Organizou a antologia “Poemas com Cinema” em parceria com Joana Matos Frias e Luís Miguel Queirós.


Alguns livros de Rosa Maria Martelo:


Os PEN do ano III:"Salazar e o Poder - A Arte de Saber Durar" de Fernando Rosas (Prémio Ensaio)

Uma breve apresentação do livro:


“A repressão é a resposta para a minoria que não respeita os sinais, as regras explícitas ou implícitas, as rotinas do enquadramento, da submissão, da conformação à ordem estabelecida. Para a maioria que é levada a obedecer, basta que se saiba que a repressão existe e que actua sobre os infractores. No salazarismo, no franquismo estabilizado, no fascismo italiano, ou no nacionalsocialismo alemão antes da guerra, o controlo totalizante da sociedade, a acção dos aparelhos de inculcação e de enquadramento ideológico, se se quiser, a prevenção, foram mais decisivos do que a repressão propriamente dita na estabilização desses regimes.”
(excerto da introdução de “Salazar e o Poder - A Arte de Saber Durar” de Fernando Rosas, Tinta da China)


Curiosidades sobre o autor:


Foi preso duas vezes durante o Estado Novo, tendo sido submetido à tortura do sono. É um dos fundadores do Bloco de Esquerda, tendo sido deputado e candidato à Presidência da República.


Alguns livros de Fernando Rosas:


terça-feira, 5 de novembro de 2013

Os PEN do ano II: "A Terceira Miséria" de Hélia Correia (Prémio Poesia, também)


Um poema de “A Terceira Miséria”:


Poema 33
De que armas disporemos, senão destas
Que estão dentro do corpo: o pensamento,
A ideia de polis, resgatada
De um grande abuso, uma noção de casa
E de hospitalidade e de barulho
Atrás do qual vem o poema, atrás
Do qual virá a colecção dos feitos
E defeitos humanos, um início.
(poema de "A Terceira Miséria" de Hélia Correia, Relógio D'Água

Curiosidades sobre a autora:


Hélia Correia é uma repetente nos Prémios do PEN Clube Português, tendo recebido anteriormente o Prémio Narrativa por “Lilias Fraser”. A Grécia Clássica é um tema recorrente na sua escrita, sendo a única escritora a ter contos publicados nas duas edições da Granta Portugal.


Alguns livros de Hélia Correia:


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Os PEN do ano I: "Cólofon" de Manuel de Freitas (Prémio Poesia)


Um poema de “Cólofon”:


Lawrence's, Quarto Tradição
Dormes, e eu não. O que tem sido
uma constante, inversamente recíproca,
dos dias e das noites que aceitámos partilhar.

Lá em baixo, a desoras, o rebanho
passa, faz-me ouvir os breves
badalos, entre folhagem seca.
De Lisboa só nos chegam notícias
fúnebres, dispensáveis. Caim deu boleia
a Abel, num automóvel de luxo.
E arrasta-se, entre putas e ladrões,
um tango triste que já não queremos dançar.

É apenas isso. Dorme. Talvez amanhã,
subitamente, o mundo nos pareça perdoável.
(poema de "Cólofon" de Manuel de Freitas, ed. Fahrenheit 451) 


Curiosidades sobre o autor:


Dirige a editora Averno, escreve críticas literárias para o Expresso e é um dos responsáveis pela revista “Telhados de Vidro”.

Alguns livros de Manuel de Freitas:

A Última Porta

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O Booker Prize de Eleanor Catton ou o que fazer aos 28 anos


Aos 28 anos, a minha idade, pensa-se sobre a vida. Sobre o pouco que se conseguiu, o muito que se deseja e as dificuldades que se adivinham. Dizem-se ainda coisas como “um dia vou escrever um livro”, porque ainda não há muita pressa, ainda há tempo, não muito, mas ainda há. Ou então, aos 28 anos pode-se ser um escritor consagrado e ganhar o The Man Booker Prize, como Eleanor Catton acabou de fazer. Obrigado Eleanor por tornares ter 28 anos tão mais agradável! Sem pressão!

“The Luminaries” é o segundo romance de Eleanor Catton, seguindo-se a “O Ensaio” editado em Portugal pela Gradiva, que consegue a proeza de ser o maior romance a receber o The Man Booker Prize (mais de 800 páginas). Em Portugal ainda não há sinal do livro, mas haverá certamente alguém neste momento numa editora a planear a sua publicação (caso contrário, estamos mal!). Por enquanto, resta-nos olhar para a crítica internacional e roer as unhas de ansiedade. Parece ser um livro notável.


O que a crítica diz de “The Luminaries”


«A novela de Catton faz amplo uso das ferramentas da intriga tradicional, que em parte certamente explicam o que motiva muitos dos nossos mais brilhantes escritores actuais a localizar a sua ficção no passado: falsificação de assinaturas e caligrafia, escutar atrás de portas e encontros clandestinos, pessoas do passado de alguém que surgem e o desmascaram, cartas roubadas e comunicações atrasadas, a ausência de uma permanente disponibilidade, que parecem inexistentes num contexto moderno.»

Lucy Daniel no Telegraph


«Catton conseguiu um curioso caso de dupla escrita – pode escrever mais e mais sobre uma coisa, e ela vai significar cada vez menos. As personagens não ganham profundidade no decorrer da história; afastam-se cada vez mais de nós. Quanto mais palavras lhes são atribuídas, menos sabemos sobre elas. A última secção do livro é constituída por corajosas analepses, com os capítulos a tornarem-se cada vez mais finos até serem uma mera página, à medida que a história é desvendada.»
Kirsty Gunn no The Guardian


«Sim é grande. Sim é inteligente. Mas façam um favor a vós próprios e leiam “The Luminaries” antes que alguém tente confinar os seus prazeres ao ecrã, pequeno ou grande. Pode não ser algo a dizer nos dias que correm, mas esta é uma história escrita para ser absorvida das páginas.»
Simmy Richman no The Independent

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A shortlist do The Man Booker Prize 2013



Dos 13 livros da longlist do The Man Booker Prize 2013, apenas 6 chegaram à shortlist. E daqui a pouco mais de um mês, a 15 de Outubro, a luta entre as grandes obras da literatura em inglês de 2013 chegará ao fim com o anúncio do vencedor, que alcançará a imortalidade e os escaparates das livrarias de todo o mundo.

Mas afinal o que têm estes livros de especial para merecerem tanta atenção e tamanha distinção? Porque para nós, que vivemos a meses ou anos de distância das novidades literárias internacionais, esta lista não nos diz grande coisa. Proponho-vos então telegráficas sinopses destes 6 livros. Em caso de emergência literária há sempre o The Book Depository ou a Bertrand (a editora do único livro desta lista publicado até ao momento em Portugal).



“A Tale for the Time Being” de Ruth Ozeki














Ruth descobre uma lancheira da Hello Kitty à beira-mar. No seu interior encontra um diário que revela as expectativas e medos de uma jovem rapariga, suspeitando que a lancheira ali chegou numa corrente de despojos do tsunami de 2011.



“Harvest” de Jim Crace














No decorrer de sete dias, Walter Thirsk vê a sua aldeia destruída: a colheita enegrecida por fumo e medo, as crianças cruelmente punidas e os seus vizinhos mantidos em cativeiro, sob suspeita de bruxaria. Mas algo ainda mais negro se encontra no centro da sua história e ele será o único que sobreviverá para contá-la…



“The Lowland” de Jhumpa Lahiri














Desde as primeiras memórias de Subhash, em cada momento, o irmão estava por perto. Nas suburbanas ruas de Calcutá pelas quais deambulavam antes do anoitecer e nos charcos de jacintos em que brincavam por horas sem fim, Udayan estava sempre ao lado do seu irmão. À medida que os dois irmãos crescem, as suas vidas, outrora tão unidas, começam a afastar-se.



“The Luminaries” de Eleanor Catton














Estamos em 1866 e Walter Moody vai para a Nova Zelândia como garimpeiro de ouro, em busca da sua fortuna. Ao chegar depara-se com uma tensa reunião de doze homens locais, que se juntaram em segredo para discutirem uma série de crimes por resolver. Um homem rico desapareceu, uma prostituta tentou suicidar-se e uma enorme fortuna é encontrada na casa de um desafortunado bêbedo.




“O Testamento de Maria” de Colm Toibin














O livro conta a história de um cataclismo que gerou um luto ímpar. Para Maria, o seu filho está perdido para o mundo, e agora, vivendo amedrontada no exílio, tenta reunir as memórias dos acontecimentos que resultaram na sua morte brutal.



“We Need New Names” de Noviolet Bulawayo














Darling e os seus amigos Stina, Chipo, Godknows, Sbho e Bastard costumavam ter casas em condições, com quartos e mobílias reais, mas agora todos vivem numa barraca chamada Paraíso. Sonham escapar para outros paraísos - América, Dubai, Europa. Mas se fugirem encontrarão nessas novas terras tudo aquilo que desejam?

(as sinopses apresentadas baseiam-se na informação divulgada no site do The Man Booker Prize)