Ano novo, rubrica nova. Nos últimos meses de 2014 ganhei num
passatempo o “Todos os Contos” de Edgar Allan Poe, recentemente editado pela
Temas & Debates e desde logo se desenhou na minha mente o plano de
semanalmente (tendencialmente!) ir lendo os contos e partilhando convosco a
minha experiência na descoberta de um autor verdadeiramente icónico. Bem dito,
bem feito, e começamos hoje esta longa viagem.
Um estranho homem, a bordo de um balão, aproxima-se da
cidade de Roterdão suscitando uma onda de interesse e incredulidade. Mas a
sua missão é apenas entregar uma missiva ao burgomestre Von Underduk e ao
professor Rubadub, respectivamente presidente e vice-presidente do Colégio de
Astronomia de Roterdão, e rapidamente desaparece. A carta escrita por Hans
Pfaall ocupa a quase totalidade do conto e relato-nos a viagem que Hans decide
realizar para fugir às dificuldades económicas que assolaram a sua vida.
Tentado a suicidar-se, Hans inspira-se num livro de astronomia para programar
uma viagem de balão… à Lua!
Com sentido de humor e ironia, Poe procura tornar
verosimilhante o mais ridículo dos cenários, apoiando-se nos conhecimentos científicos
da época e em pressupostos tidos como inegáveis para tornar a viagem plausível.
Poe peca um pouco por se centrar, muito detalhadamente, nas questões práticas
da viagem e na descrição da sua evolução, sem explorar devidamente os
acontecimentos posteriores à suposta viagem.
Com pormenores muito divertidos, como o facto de Hans Pfaall
ter fugido com a conivência dos seus credores que, não obstante o dinheiro que
ele lhes devia e a perseguição que lhe fizeram e que motivou o seu desejo de
fuga, o ajudam a preparar a viagem de balão (supostamente). Que Hans Pfaall
tenha viajado com uma gata que durante a viagem decide parir uma ninhada torna
tudo ainda mais surreal, embora o destino dos pobres gatinhos não seja
propriamente risonho…
Um começo interessante para um autor que eu esperava que
fosse soturno e melodramático.
Encomendei esse livro precisamente ontem
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