quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Contando contos de Edgar Allan Poe: “A Aventura Sem Paralelo de Um Tal Hans Pfaall”


Ano novo, rubrica nova. Nos últimos meses de 2014 ganhei num passatempo o “Todos os Contos” de Edgar Allan Poe, recentemente editado pela Temas & Debates e desde logo se desenhou na minha mente o plano de semanalmente (tendencialmente!) ir lendo os contos e partilhando convosco a minha experiência na descoberta de um autor verdadeiramente icónico. Bem dito, bem feito, e começamos hoje esta longa viagem.

Um estranho homem, a bordo de um balão, aproxima-se da cidade de Roterdão suscitando uma onda de interesse e incredulidade. Mas a sua missão é apenas entregar uma missiva ao burgomestre Von Underduk e ao professor Rubadub, respectivamente presidente e vice-presidente do Colégio de Astronomia de Roterdão, e rapidamente desaparece. A carta escrita por Hans Pfaall ocupa a quase totalidade do conto e relato-nos a viagem que Hans decide realizar para fugir às dificuldades económicas que assolaram a sua vida. Tentado a suicidar-se, Hans inspira-se num livro de astronomia para programar uma viagem de balão… à Lua!

Com sentido de humor e ironia, Poe procura tornar verosimilhante o mais ridículo dos cenários, apoiando-se nos conhecimentos científicos da época e em pressupostos tidos como inegáveis para tornar a viagem plausível. Poe peca um pouco por se centrar, muito detalhadamente, nas questões práticas da viagem e na descrição da sua evolução, sem explorar devidamente os acontecimentos posteriores à suposta viagem.

Com pormenores muito divertidos, como o facto de Hans Pfaall ter fugido com a conivência dos seus credores que, não obstante o dinheiro que ele lhes devia e a perseguição que lhe fizeram e que motivou o seu desejo de fuga, o ajudam a preparar a viagem de balão (supostamente). Que Hans Pfaall tenha viajado com uma gata que durante a viagem decide parir uma ninhada torna tudo ainda mais surreal, embora o destino dos pobres gatinhos não seja propriamente risonho…

Um começo interessante para um autor que eu esperava que fosse soturno e melodramático.

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