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sábado, 30 de maio de 2015

Diário da Feira do Livro 2015: 30 de Maio


E ao terceiro dia trago-vos uma boa-nova: ontem, quando ia a caminho de casa, depois de uma extenuante sessão de Feira, distraí-me a ver o catálogo 2015 da Tinta-da-China, na esperança de encontrar novidades. Já diz o povo que quem procura acha e o que encontrei foi o suficiente para dar um mini grito na camioneta. 

Ao que parece a Tinta-da-China, para assinalar os 100 anos da revista Orpheu, decidiu publicar uma edição de luxo fac-similada e numerada da famosa revista literária, uma espécie de caixa dos prazeres que conterá os dois números publicados, assim como as provas tipográficas do terceiro número que nunca o chegou a ser e uma brochura editorial. Tudo por 68€, com direito a anjinhos querubins a cantar músicas celestiais. A cereja no topo de um dia intenso de grandes compras.

Mas é tempo de olhar em frente e analisar o que a Feira do Livro de Lisboa tem hoje para nos oferecer. Fiquem então com os destaques dos Livros do Dia de hoje:

Grupo Porto Editora
“A Divina Comédia” de Dante Alighieri - 11,98€ (banca da Quetzal)
“O Herói Discreto” de Mario Vargas Llosa - 9,4€ (banca da Quetzal)
“Diários” de Al Berto - 11€ (banca da Assírio & Alvim)

Relógio D’Água
“Anna Karénina” de Lev Tolstói - 16€
”As Aventuras de Huckleberry Finn” de Mark Twain - 8€

Cotovia
“Teatro 3” de Bertolt Brecht - 12,5€
“Uma Aventura Secreta do Marquês de Bradomín” de Teresa Veiga - 7€

Antígona
“Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley - 9,25€

Grupo Leya
“Debaixo de Algum Céu” de Nuno Camarneiro - 6,9€
“Meio Sol Amarelo” de Chimamanda Ngozi Adichie – 8,4€ (banca da ASA)
“Obras Completas 1975-1985” de Jorge Luís Borges – 17,7€ (banca da Teorema)

Cavalo de Ferro
“Auto-de-Fé” de Elias Canetti - 12,5€
"A Ponte Sobre o Drina" de Ivo Andric - 11€

Tinta-da-China
“Os Escritores (Também) Têm Coisas a Dizer” de Carlos Vaz Marques - 10,8€

terça-feira, 10 de março de 2015

Em estado crítico: “Dora Bruder” de Patrick Modiano


Recordaremos Dora Bruder? Olharemos para as ruas que ela percorreu e veremos a sua sombra a projectar-se nas paredes, as suas passadas adolescentes a dançarem sobre as pedras da calçada? Sentiremos a sua presença e sem a ter visto saberemos quem ela é?

A ideia de que Modiano partiu para criar “Dora Bruder” reserva em si uma perfeição serena, a verdadeira essência da memória e da tentativa de recuperar os mundos que se perderam na voracidade do tempo. Um homem, o narrador do livro, lê num jornal antigo um anúncio em que os pais de Dora Bruder procuravam a sua filha desaparecida e decide tentar descobrir quem é aquela rapariga de 15 anos e que sorte lhe estava reservada. Não é em Dora Bruder que o livro se centra, nem no narrador, quanto muito será na procura em si, com o narrador a permanecer quase sempre distante, escudado nos relatos factuais das poucas descobertas que vai fazendo.

Ao investigar percebe que alguns locais de Paris que fizeram parte da vida de Dora, foram também ruas percorridas por si, casas para que olhou diariamente, sítios que tão bem conhece, sentindo a melancolia de quem passou por aqueles espaços desconhecendo a sua história. A nostalgia de perceber que os locais sobreviverão sem memórias de quem os habitou, como se sempre tivessem permanecido vazios antes de entrarem na nossa vida.

Pouco ficaremos a saber do narrador. Há uns breves relatos sobre o seu pai, que o abandonou na juventude e que nunca viria a reencontrar. Nesta história, neste desaparecimento do pai, podemos antever as motivações para descobrir o que aconteceu a alguém que, em vez de procurar os pais, era procurada por eles. Mas a verdade é que Modiano não nos alimenta essas interpretações, não as impede, mas certamente não nos dá material suficiente para as sustentarmos.

É aliás esse o problema de “Dora Bruder”: o quão desconstruída é toda a narrativa. Modiano apontou para a simplicidade, mas exagerou e caiu no simplismo. “Dora Bruder”, partindo de uma ideia genial que tinha tudo para gerar um livro que, ao contrário da rapariga que lhe deu o nome, perdurasse, acaba por ser pouco mais do que meia dúzia de factos recolhidos e apresentados de forma muito ligeira, como se estivéssemos a ler as notas despreocupadas no caderno pessoal de um investigador.

Para não esquecermos “Dora Bruder” precisávamos de mais. Precisávamos de um momento de génio que resgatasse o livro de uma existência tão ténue que quase nos desaparece nas mãos. Modiano não me convenceu desta vez.

Classificação: 13/20


Nota: este livro foi editado originalmente em Portugal pela Edições ASA (sendo essa a minha edição), mas o livro foi recentemente republicado pela Porto Editora.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Em estado crítico: "No Café da Juventude Perdida" de Patrick Modiano


“A partir daquele momento, houve uma ausência na minha vida, um clarão que não só me causou uma sensação de vazio, como me impediu de ver. Toda aquela claridade cintilava em mim como uma luz viva, radiosa. E assim será, até ao fim.”


À deriva. Caminhando por ruas sem destino, na esperança de que o acaso nos leve a um lugar em que haja um sentido maior que se evidencie e que nos revele quem somos, o que devemos fazer, o porquê das coisas terem acontecido assim. E que essa descoberta nos dê o oxigénio que necessitamos para continuar, para que as miragens se convertam em realidade e das frustrações nasçam forças.

Modiano fala-nos em “No Café da Juventude Perdida” sobretudo de identidade. A memória, elemento comummente associado à sua obra, tem o seu contributo, mas que é secundário face às preocupações existencialistas condensadas na jovem Louki, que um dia, inesperadamente, entra na vida dos clientes habituais do café Condé. Louki? Ou devemos antes dizer Jaqcqueline Delanque? Logo no nome da protagonista a problemática começa-se a evidenciar. Jacqueline deixa que a clientela do Condé a trate por Louki, sem nunca os corrigir, porque no fundo um ou outro nome não fazem a diferença, ela continua sempre a ser a rapariga sem pai, com uma mãe distante, que a deixou deambular sozinha pelas ruas, a tentar encontrar respostas.

Na rua Jacqueline conhece Jeannette, apropriadamente conhecida como Caveira, e naquele momento o seu destino sela-se. Modiano não é muito claro sobre o que une as duas raparigas, deixam-se no ar insinuações de que pode ter ocorrido um episódio de violência sexual com dois conhecidos, mas nada é dito com clareza. O que sabemos é que a presença de Jeannette suscita em Jacqueline más recordações e que há uma certa tentativa de distanciamento quando decide casar com um homem que conhece mal, sem muitas mais razões do que ele afirmar que quer cuidar dela.

Mas o casamento é mais uma deambulação de Jacqueline e apenas serve para que tenha a certeza que aquele não é o seu lugar. E do casamento foge para umas sessões sobre ciências ocultas e, finalmente para o Condé, conhecendo pelo caminho Rolland que, curiosamente ou não, também não é conhecido pelo seu verdadeiro nome.

O percurso de Jacqueline até se tornar em Louki, a namorada de Rolland, é-nos apresentado por Modiano neste breve livro, divido em cinco partes, com a perspectiva de quatro personagens. Modiano, que é frugal na escrita, opta por uma construção da narrativa um pouco mais complexa e sobre a qual tenho algumas dúvidas, porque acredito que se a visão de Rolland ocupasse todo o livro o resultado final seria melhor. Na verdade Modiano é desde o início muito bem-sucedido na construção do ambiente, na espécie de sedução mística em que envolve a figura de Louki, na comunhão na desorientação que caracteriza os clientes do Condé. Mas a verdadeira dimensão do livro só se revela quando Rolland assume o controlo e deixamos de ter uma história interessante para termos algo que pressentimos ter um significado mais profundo.

Mas, contas feitas, que revela “No Café da Juventude Perdida”, o romance que a revista Lire considerou o melhor publicado em 2007, sobre as qualidades de Patrick Modiano? Diz muito. A suavidade de Modiano, a simplicidade da sua escrita, parecem à partida converterem-no num escritor olvidável. Mas é exactamente através dessas dimensões da sua escrita, que ele domina magistralmente, que consegue criar um elo com o leitor, talvez porque de início nos convença que vamos ler um livro emocionalmente distante e contido e, quando baixamos as guardas, nos surpreenda com uma intensidade cirúrgica de beleza delicada. Modiano promete!

“No Café da Juventude Perdida”
Patrick Modiano
Edições ASA

Classificação: 17/20

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Os livros da minha vida: “O Amante” de Marguerite Duras


“Muito cedo na minha vida foi tarde de mais. Aos dezoito anos era já tarde de mais. Entre os dezoito e os vinte e cinco anos o meu rosto partiu numa direcção imprevista. Aos dezoito anos envelheci.” (in "O Amante" de Marguerite Duras, ASA, Colecção Vintage, p.7 e 8)


No Mékong. Numa barcaça sobre o Mékong. Uma jovem de aspecto peculiar, com um estranho chapéu de abas de homem, atravessa o rio. Debruça-se da barcaça, olhando sem destino, como quem nada procura, nada espera, mas mesmo assim olha. Naquela barcaça, naquela viagem, encontrará aquilo que nem sabia desejar. De uma grande carro preto sai um chinês, mais velho do que ela, de aspecto frágil, apesar dos sinais óbvios de riqueza. Nada de comum entre os dois. Excepto aquele momento. Aquele lugar. O rumar à deriva para um destino incerto, com o conformismo de quem não sabe o que quer porque nunca sabia que isso era possível. Que era possível querer algo e escolher um caminho.

Assim começa a história de amor que marcaria a vida de Marguerite Duras, sem romantismo, sem exacerbadas declarações mútuas de amor, sem esperança. A jovem que atravessa o Mékong e o chinês rico amam-se na sua destruição, na ausência de um futuro possível para os dois. Porque o pai dele não permitiria que o filho se casasse com uma branca, e porque ela é incapaz de amar ou, pelo menos de reconhecer o amor. Tão submersa que está na história da sua mãe, que não consegue acreditar, não consegue ver uma vida para além da desilusão e das fatalidades incontroláveis que assolam o destino. A imagem do Pacífico a reclamar as terras da propriedade comprada pela sua mãe com o último dinheiro da família, após a morte do pai, galgando a barragem teimosamente erigida, contém em si uma beleza cruel e um simbolismo avassalador. Não vale a pena lutar.

Na verdade “O Amante” é tanto a história de um amor quanto é a história de uma família. Para percebermos a relação da menina de 15 anos com o seu amante chinês é necessário conhecer a sua mãe, a loucura da sua mãe, e os irmãos, um forte e assassino, o outro fraco e revoltado. Há entre os três irmãos e a mãe um laço emocional de uma grande profundidade e a convivência com a mãe enganada e indefesa inscreve em cada um deles uma ferida que nunca sarará e que determinará as suas acções. Perante o desespero da mãe, sem recursos e sem força para lutar, a filha vê naquele chinês, antes de mais, uma forma de subsistência. Mas o lado utilitário daquela relação depressa cede perante o peso dos sentimentos criados, sem que haja uma consciência profunda do que significam.

O lado mais perverso da falta de esperança é incapacitar-nos de ver o real valor das coisas, de percebermos que vale a pena lutarmos por algo, o fazer-nos duvidar daquilo que sentimos. Não pode ser! Como podemos amar, se sabemos que tudo estará destinado a um final abrupto, a uma tristeza que apagará tudo? E é quando tudo se perde, quando o destino é selado, que uma visão nítida se impõe sobre o horizonte, de uma clareza dolorosa, de uma certeza cruel. Como se pode abrir mão de tudo sem sequer lutar?

Duras escreve ao sabor das memórias, que se aproximam, primeiro cobertas por uma névoa, mas que aos poucos vão ganhando contornos definidos e que, de forma algo aleatória, abrem caminho a novas imagens vividas. E assim, com a mesma serenidade conformada com que começa a história, Duras termina-a:

“O grande automóvel dele estava lá, comprido e negro, no banco da frente o motorista fardado de branco. Estava um pouco afastado do parque para automóveis da Companhia Marítima, isolado. Ela tinha-o reconhecido por esses sinais. Era ele na parte de trás, essa forma quase invisível, que não fazia qualquer movimento, abatido. Ela estava encostada à amurada como da primeira vez na barcaça. Sabia que ele olhava para ela. Ela também o olhava, já não o via mas ainda olhava para a forma do automóvel preto. E depois, por fim, tinha deixado de o ver. O porto apagara-se, e depois a terra.” (in "O Amante" de Marguerite Duras, ASA, Colecção Vintage, p.120 e 121)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

10 melhores livros de ficção em espanhol do séc. XXI



O jornal espanhol ABC, a propósito da Feira do Livro de Madrid, elegeu os 10 melhores livros de ficção em espanhol do séc. XXI. Da análise feita por mais de 100 proeminentes figuras da literatura e cultura espanhola resultou uma lista ecléctica, na qual tanto tem lugar um prémio Nobel, como escritores mais comerciais.

10º «O Dia de Amanhã» de Ignacio Martínez de Pisón
(publicado em Portugal pela Teodolito)


9º «Rabos de Lagartixa» de Juan Marsé
(publicado em Portugal pela Dom Quixote)



8º «O Mal de Montano» de Enrique Vila-Matas
(publicado em Portugal pela Teorema)



7º «A Pele Fria» de Albert Sánchez Piñol
(publicado em Portugal pela Teorema)



6º «Os Enamoramentos» de Javier Marías
(publicado em Portugal pela Alfaguara)



5º «A Sombra do Vento» de Carlos Ruiz Zafón
(publicado em Portugal pela Dom Quixote)



4º «Soldados de Salamina» de Javier Cercas
(publicado em Portugal pela Asa - actualmente indisponível)


3º «O Teu Rosto Amanhã» de Javier Marías
(publicado em Portugal pela Dom Quixote)



2º «Crematório» de Rafael Chirbes
(publicado em Portugal pela Minotauro)



1º «A Festa do Chibo» de Mario Vargas Llosa
(publicado em Portugal pela Leya)