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quinta-feira, 2 de abril de 2015

Cheiro a livro novo – Março de 2015


Com a chegada da Primavera parece que veio também um renovado vigor para as editoras, que nos ofereceram bastantes novidades e diversificadas. Mas primeiro que tudo tenho de assinalar a chegada às livrarias dos primeiros livros da nova Livros do Brasil, para já 9 (“O Adeus às Armas”, “Paris é uma Festa” e “Na Outra Margem, Entre as Árvores” de Hemingway; “Mrs Dalloway” de Virginia Woolf; “As Vinhas da Ira”, “O Inverno do Nosso Descontentamento” e “A Pérola” de Steinbeck; “Música para Camaleões” de Truman Capote; e “A Condição Humana” de André Malraux), estando previstos para breve mais 3 títulos.

Em termos de literatura em língua portuguesa, o acontecimento do mês tem de ser publicação pela Tinta-da-China de “Gente Melancolicamente Louca” de Teresa Veiga, o primeiro livro da autora em vários anos. Também a Glaciar nos deu motivos para celebrar com a edição de “O Ateneu” de Raul Pompeia, mais um clássico brasileiro integrado na colecção Biblioteca da Academia. E termino os destaques de autores lusófonos com a menção a “Presa Comum”, o primeiro livro de Frederico Pedreira na Relógio d’Água, depois da atenção que captou com “Um Bárbaro em Casa”, editado no ano passado pela Língua Morta.

Os autores premiados estão bem representados nas novidades de literatura estrangeira, começando por Richard Flanagan e “A Senda Estreita para o Norte Profundo”, o mais recente vencedor do The Man Booker Prize, editado pela Relógio d’Água, que também nos traz “O Buda dos Subúrbios” de Hanif Kureishi, vencedor do Prémio Whitbread para Melhor Primeiro Romance em 1990.

Quanto a Prémios Nobel, a Presença continua a apostar em Toni Morrison com a publicação de “A Nossa Casa é Onde está o Coração”, e a Quetzal faz o mesmo com V. S. Naipaul e a edição em português de “O Enigma da Chegada”. A Quetzal regressa ainda a outro autor habitual, Roberto Bolaño, com “Noturno Chileno”.

Aproveitando a polémica em torno do último livro de Michel Houellebecq, a Alfaguara faz chegar aos escaparates “Submissão”, e a Jacarandá edita “O Assassinato de Margareth Thatcher” de Hilary Mantel, livro que inclui o conto que dá nome ao livro e que gerou uma enorme polémica em Inglaterra no ano passado.

Mantendo a tradição de terminar com a não ficção, destaque para 2 livros: “1915 - O Ano do Orpheu”, organizado por Steffen Dix, que propõe uma reflexão sobre a revista Orpheu através da perspectiva de diferentes autores; e “Tratado Sobre a Tolerância” de Voltaire, cujas conclusões partem da execução Jean Calas pelo poder judicial, quando a sua inocência parecia provada, apenas por pressão popular.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Cheiro a livro novo - Fevereiro de 2015


Fevereiro é o mês do amor e o Cupido deve ter feito das suas e entretido os editores nacionais, sobrando-lhes pouco tempo para nos trazerem novos livros. Mas, não sendo uma amostra extensa é certamente interessante.

A Cavalo de Ferro focou-se em autores premiados e, de uma assentada, publicou “O Livro de Jón” de Ófeigur Sigurðsson, vencedor do Prémio da União Europeia para a Literatura, e “Thérèse Desqueyroux” uma das obras-primas da literatura do séc. XX e o livro mais proeminente do Prémio Nobel François Mauriac. Também a Sextante se manteve no mundo dos prémios, mais concretamente do Goncourt, editando o romance que recebeu o maior galardão da literatura francesa em 1956: “As Raízes do Céu” de Romain Gary.

Mas o principal lançamento do mês é uma surpresa, vindo inesperadamente de uma editora do Grupo Leya, cujo estado moribundo é já difícil de esconder. A Caminho traz-nos então a trilogia de Alves Redol que se desenrola na região vinícola do Alto Douro - o “Ciclo Port Wine” – e que é composta pelos romances “Horizonte Cerrado”, “Os Homens e as Sombras” e “Vindima de Sangue”.
Mantendo-nos na literatura em língua portuguesa, “O Irmão Alemão” de Chico Buarque foi a obra escolhida para apresentar a Companhia das Letras ao mercado nacional, esperando-se para breve mais novidades editoriais.

E terminamos como de costume com a não-ficção, curiosamente com 2 livros de focados em escritores portugueses. A abysmo traz-nos “Regressar a Casa com Manuel António Pina” de Inês Fonseca Santos, que inclui uma entrevista ao autor, um ensaio sobre a sua poesia e ainda um documentário em curta-metragem dedicado ao tema da casa. Já a Tinta-da-China mantém-se fiel a Fernando Pessoa e editou “Sobre o Fascismo, a Ditadura Militar e Salazar”, que reúne todos os escritos do autor sobre o Estado Novo, contando com a edição de João Barreto.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Imprensa Nacional-Casa da Moeda prevê editar 58 livros em 2015


A Biblioteca da Imprensa Nacional foi o local escolhido para, no passado dia 6 de Fevereiro, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM) apresentar o seu Plano Editorial para 2015 que tem como um dos seus pontos altos a criação do Prémio Vasco Graça Moura, destinado a obras inéditas de poesia. Também como homenagem a Graça Moura, será relançada a colecção Plural, criada por ele nos anos 80, e que se propõe editar quatro livros de poesia por ano, incluindo o vencedor do Prémio Vasco Graça Moura.

Mas a INCM não se fica por aqui, pretendendo também criar uma colecção dedicada à história contemporânea de Portugal, projecto a cargo de Fernada Rollo, presidente do Instituto de História Contemporânea. A Ivo de Castro, Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, caberá a direcção de uma colecção sobre a vida e obra de Fernando Pessoa, a Pessoana.

Fazendo jus à sua missão de serviço público, ao todo a INCM prevê vir a editar 58 livros em 2015, incluindo muitas obras que constituem o cânone da literatura portuguesa e clássica. Um trabalho que deixa claro um compromisso com a memória e a salvaguarda do património cultural e que merece sem dúvida louvor e a máxima atenção dos leitores.

Deixo-vos algumas das obras que serão editadas este ano:

Biblioteca Fundamental da Literatura Portuguesa   
Camões, de Almeida Garrett
As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis
Nome de Guerra, de Almada Negreiros
Obras Poéticas, da Marquesa de Alorna
Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro
O Livro de Cesário Verde

Edição Crítica de Eça de Queirós
O Mistério da Estrada de Sintra
Os Maias

Edição Crítica de Camilo Castelo Branco
A Sereia
As Novelas do Minho

Biblioteca de Autores Portugueses
Poesia, de Sá de Miranda

Biblioteca de Autores Clássicos
Tragédias (vol. II), de Eurípedes 
Comédias (vol. III), de Aristófanes 
Meteorológicos, de Aristóteles

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Cheiro a livro novo - Janeiro de 2015


No começo de um novo ano as editoras estão normalmente de ressaca, perdidas entre balanços do ano que acabou e visões daquilo que querem editar no novo ano. É por isso uma altura de promessas e poucas novidades, mas aos poucos e poucos, com maior ou menor excitação, lá foram saindo alguns livros.

A Relógio D’Água não costuma desiludir e há sempre qualquer coisa digna de menção. Para já destaque para mais um volume das obras de Nabokov, desta vez “Fogo Pálido”, e, para os aficionados dos contos, “Não Posso Nem Quero” de Lydia Davis, a vencedora do The Man Booker International Prize 2013.

E como prémio literário é sinónimo de Nobel da Literatura, a Porto Editora traz-nos mais um livro de Patrick Modiano, “Dora Bruder", anteriormente editado pela ASA e há muito esgotado. Igualmente prestigiada, mesmo sem ter ganho o Nobel, Simone de Beauvoir é uma das apostas do ano da Quetzal que começa por editar o romance “Mal-Entendido em Moscovo”.

Uma das boas notícias do início de 2015 foi a inauguração, pela Civilização, da colecção Noites Brancas com quatro emblemáticas obras de quatro autores clássicos: “Crime e Castigo” de Dostoievski, “Fausto” de Goethe, “Um Marido Ideal” de Oscar Wilde e “O Crime do Padre Amaro” de Eça de Queirós.

E por falar em autores nacionais, a Quetzal editou “Alegria Breve”, mais um livro da Obra Completa de Vergílio Ferreira. A Tinta-da-China trouxe-nos também a boa-nova da reedição de “O Crocodilo que Voa”, um livro que compendia várias entrevistas feitas a Luiz Pacheco, incluindo alguns entrevistadores sonantes como Baptista-Bastos, Paula Moura Pinheiro, Ricardo Araújo Pereira e Rui Zink. Na não-ficção destaque também para a reedição da Quetzal do 1º volume de “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir.

E terminamos com poesia, com a publicação pela não (edições) de “O Mar de Coral” de Patti Smith, a quarta obra da colecção de poesia traduzida Traditore.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Livros do Brasil no Grupo Porto Editora: uma boa notícia?


Por muito que os puristas da literatura vos tentem convencer do contrário, é claro que é uma boa notícia. E perguntam-me: “mas termos editoras independentes não é preferível a ter 3 ou 4 grandes grupos?”. Sim, é bom termos editoras independentes. Era bom podermos ter uma Livros do Brasil independente, mas a questão não é essa. As opções que estavam em cima da mesa não eram que esta editora fosse independente ou integrada num grupo, a alternativa era não existir e é bom que tenhamos isso bem presente. E entre viver sem a Livros do Brasil ou vê-la no Grupo Porto Editora, eu prefiro a última opção.

E acho honestamente que a Porto Editora merece uma palavra de apreço por parte dos leitores porque tem feito um claro esforço de investimento na chamada grande literatura e muito facilmente podia seguir o caminho de investir em romances rascas vendidos em saquinhos de tecidos ordinários. E não o fez. Tem apostado em escritores de renome. Tem juntado ao grupo editoras de prestígio, com catálogos que muita falta fazem nas nossas livrarias. E que bom será ver de novo nos escaparates as edições da Livros do Brasil, que há cerca de 2 anos não editava nada!

Para já a recuperação da Livros do Brasil assentará em 3 eixos: a mítica colecção Dois Mundos, uma das melhores e mais extensas que já foram publicadas em Portugal; a não menos emblemática colecção Vampiro, com mais de 680 títulos dedicados ao policial e suspense; e as Obras de Eça de Queiroz. O relançamento destas obras é acompanhado de um novo tratamento gráfico que lhes restituirá a dignidade que merecem.

Espera-se que nos próximos meses cheguem às livrarias:

“A Condição Humana” de André Malraux
 “A Pérola”, “As Vinhas da Ira” e “O Inverno do Nosso Descontentamento” de Steinbeck
“O Adeus às Armas” e “Paris é uma Festa” de Hemingway
“Música para Camaleões” de Truman Capote
“Mrs Dalloway” de Virginia Woolf

Como não ficar contente perante uma lista destas?

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Ponto de Fuga: uma nova editora com um pé no passado



É com uma nota de melancolia, mas com promessas de diversão à mistura, que a Ponto de Fuga se apresenta ao mercado editorial português. A nova editora, que se posiciona como generalista (a ficção, a não ficção, a poesia e o infantojuvenil estão na sua mira), assume como uma das suas missões recuperar obras que desapareceram das livrarias, num claro esforço de preservação da memória.

Vladimiro Nunes, ex-jornalista do Sol e fundador da Ponto de Fuga, juntamente com a sua mulher Fátima Fonseca, referiu à Lusa que "as grandes editoras andam distraídas e parece-nos que há boas coisas que ainda podem ser feitas e editadas", razão pela qual, apesar do contexto de crise, consideraram viável este projecto. E em bom momento o fazem, porque também me parece que há uma área editorial por explorar: temos editoras focadas nas novidades, editoras focadas nos grandes clássicos, mas ninguém está muito atento às obras que desapareceram das livrarias portuguesas ou que nem sequer lá chegaram a entrar. Só esta declaração de intenções inicial já merece sonoras e calorosas boas-vindas à Ponto de Fuga!

Mas a ambição não fica por aqui e a Ponto de Fuga pretende ser mais do que uma editora. A ideia é criar na sua sede em Lisboa, na Rua de Ponta Delgada, uma pequena “mercearia cultural” em que, para além dos livros da própria editora, estarão também disponíveis outras obras escolhidas a dedo pelos editores e uma selecção de discos em vinil. Mas calma, que ainda não perderam nada, porque a loja será hoje aberta ao público, assinalando o 63º aniversário da publicação na Dinamarca da primeira tira do Petzi, a primeira aposta da Ponto de Fuga.


Viagens ao passado com Petzi e Natália Correia



O clássico da BD que marcou os anos 80 em Portugal, na altura editado pela Verbo, e que mereceu uma referência de Nuno Markl na sua “Caderneta de Cromos”, marca a estreia da Ponto de Fuga, que reeditará os 3 primeiros livros da colecção: “Petzi Constrói um Barco”, “Petzi e a Baleia” e “Petzi e a Mãe Peixe”. Criado pelo casal Vilhelm e Carla Hansen, ele responsável pelas ilustrações, ela pelos textos, Petzi surgiu em 1951 na Dinamarca, ficando a cargo de Susana Janic a tradução directamente do original.

A Ponto de Fuga continuará sob o signo pelo passado no início de 2015, altura para que está programada a reedição de “Não Percas a Rosa” de Natália Correia, o diário escrito pela autora entre Abril de 1974 e Dezembro de 1975 e que nos revela um olhar em primeira mão sobre a Revolução do Cravos.

E depois? Depois tudo está ainda no segredo dos deuses. Resta-nos esperar por mais novidades e desejar à Ponto de Fuga muitos sucessos.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Cheiro a livro novo - a rentrée literária de 2014



Setembro é um dos pontos altos do ano para os viciados em livros, esperando avidamente pelas novidades anunciadas pelas editoras para os últimos meses do ano, já de olhos postos no Natal. E este ano temos motivos de regozijo, com a Quetzal, a Tinta-da-China, a Cavalo de Ferro e a Relógio D’Água a dominarem a lista com as novidades mais apetecíveis.

Uma boa notícia é o regresso à publicação do grupo Babel que estava algo dormente nos últimos meses. Veremos o que nos reservam para os próximos tempos mas, para já, para além de algumas novidades, vai ser reeditado “A Síbila”, tanto a versão da Colecção Opera Omnia, como uma versão mais barata, comemorando assim os 60 anos da 1ª edição deste mítico livro.

No início de Outubro, com o anúncio do Prémio Nobel da Literatura, é de esperar que haja novidades (esperemos que sim!). Será que alguma editora terá a sorte de ver um dos seus autores a ser premiado e as vendas a subirem em flecha? Haverá uma corrida à publicação se for um autor por estrear no nosso mercado? Quem viver verá.

Deixo-vos então com uma lista daqueles que me parecem ser os lançamentos mais significativos dos próximos meses.


Porto Editora

"Alabardas, Alabardas" de José Saramago (Prémio Nobel da Literatura em 1998)
"Uma Menina Está Perdida no seu Século à Procura do Pai" de Gonçalo M. Tavares
"O Paraíso São os Outros" de Valter Hugo Mãe

Assírio & Alvim

"Poesia Presente" de António Ramos Rosa

Sextante

"Terra Amarga" de Joyce Carol Oates
"Mudwoman" de Joyce Carol Oates

Quetzal

“Montedor”  de J. Rentes de Carvalho
“Herzog” de Saul Bellow (Prémio Nobel da Literatura em 1976)
“O Rei Pálido” de David Foster Wallace

Bertrand

“Os Luminares” de Eleanor Catton (vencedor do The Man Booker Prize 2013)

Tinta-da-China

«Obra completa de Álvaro de Campos» de Fernando Pessoa
“Os Meus Sentimentos” de Dulce Maria Cardoso
“Oblomov”, de Ivan Goncharov
2º volume de entrevistas da Paris Review (entre os entrevistados T. S. Eliot, Harold Pinter, Ezra Pound, Marguerite Yourcenar, Vladimir Nabokov e Philip Roth)

Dom Quixote

“O Organista” de Lídia Jorge

Babel

“Os Incuráveis” de Agustina Bessa-Luís

Cavalo de Ferro

“A Selva” de Ferreira de Castro
“Final do Jogo” de Julio Cortázar
“Primeiro os Idiotas” de Bernard Malamud
“Thérèse Desqueyroux” de François Mauriac (Prémio Nobel da Literatura em 1952)

Presença

“O Pintassilgo” de Donna Tartt (vencedor do Pulitzer Prize for Fiction 2014)

Sextante

“Amálgama” de Rubem Fonseca

Relógio D’Água

“O Planeta do Sr. Sammler” de Saul Bellow (Prémio Nobel da Literatura em 1976)
“Diário” de Franz Kafka
“Obras Escolhidas” de Lewis Carroll
“Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento” de Alice Munro (Prémio Nobel da Literatura em 2013)

Caminho

“Vagas e Lumes” de Mia Couto

Antígona

“Contos Seleccionados” de Aldous Huxley
"A Vida e Opiniões de Tristam Shandy" de Laurence Sterne

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Cheiro a livro novo - Abril, Maio, Junho e Julho 2014


Ando a dever-vos, já há algum tempo, uma actualização relativamente a novidades editoriais. Passemos então em revista os últimos meses, mesmo a tempo das férias de Verão e de algumas compras de última hora.

Não será certamente surpresa que, na minha opinião, o grande lançamento editorial dos últimos meses nos chegou pelas mãos da Relógio D’Água que decidiu, finalmente, pegar na obra de Marguerite Duras e, duma vez só, editar “Moderato Contabile” e “Olhos Azuis, Cabelo Preto”. Infelizmente são dois livros que já tenho na minha biblioteca, mas é sempre bom ver Duras a voltar às livrarias.

Não satisfeita com este lançamento, a Relógio D’Água tem submergido os seus leitores numa torrente de grandes livros: os volumes VIII e IX dos contos de Tchékhov, “A Morte de Virgílio” de Hermann Broch num único volume, “Ressurgir” de Margaret Atwood e “Falsos Segredos” da Prémio Nobel Alice Munro, só para referir os principais. Com um conjunto de livros como este a Relógio D’Água continua a melhorar um catálogo que é de longe o melhor em Portugal. E a concorrência não parece ter pernas para acompanhá-la…

A Porto Editora, como já vos disse anteriormente, tem estado focada em Saramago, com as novas edições de alguns dos seus livros e também com a publicação de “Lanzarote – A Janela de Saramago”, que reúne fotos de João Francisco Vilhena com excertos dos “Cadernos de Lanzarote”. E, assinalando os quatro anos da morte de Saramago e os dois anos da revista online Blimunda, a Fundação José Saramago preparou uma belíssima edição especial em papel da Blimunda que reúne alguns dos principais artigos publicados nestes dois anos, assim como um artigo original. Eu já tenho a minha e digo-vos que vale mesmo a pena!

E por falar em coisas que valem mesmo a pena, os últimos meses da Tinta-da-China foram marcados por uma autora (e não, não estou a falar da Matilde Campilho). Depois do lançamento do inacreditavelmente bom “Tudo São Histórias de Amor”, tivemos Dulce Maria Cardoso em dose tripla, com os dois primeiros números da colecção juvenil “A Bíblia de Lôá” – “Lôá e a Véspera do Primeiro Dia” e “Lôá Perdida no Paraíso” – genialmente ilustrados por Vera Tavares e uma nova edição de “O Chão dos Pardais”, romance que valeu à autora o Prémio PEN Club em 2009. Para além disso, consta que vem aí uma nova edição de “Jacques, O Fatalista” de Denis Diderot, um dos grandes títulos da colecção de humor organizada por Ricardo Araújo Pereira. Praise the lord!

A Dom Quixote recuperou algum do seu vigor depois de meses de absoluto tédio. E assim chegaram até nós “Os Factos” de Philip Roth, o terceiro volume das “Obras Completas” de Urbano Tavares Rodrigues, “Contos Maravilhosos” do Prémio Nobel Hermann Hesse e o clássico “O Leopardo” de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.

A Cavalo de Ferro apostou num Prémio Nobel pouco explorado em Portugal e publicou o ensaio “Massa e Poder” de Elias Canetti, continuando também a publicação de obras de Julio Cortázar com o volume de contos “As Armas Secretas”, preparando as comemorações do centenário do seu nascimento.

E terminemos em português, com a Quetzal, que nos trouxe uma nova edição de “Ernestina” de Rentes de Carvalho e um novo livro de José Eduardo Agualusa, “A Rainha Ginga”, que conta a história de uma mítica heroína Angolana.

Esperam-nos agora meses calmos até à rentrée em Setembro/Outubro, um dos pontos altos editoriais do ano. Pode ser que entretanto a Ahab regresse à vida, depois do destaque que teve no ano passado com a promessa de publicar em Portugal "A Minha Luta" de Karl Ove Knausgård e de, entretanto, não ter editado livro nenhum.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

José Saramago segundo a Porto Editora


Há ideias que são tão boas que pensamos “como é que nunca ninguém se lembrou disto!”. A Porto Editora deixou ontem meio mundo extasiado com a sua ideia de pedir a nove grandes figuras da cultura portuguesa para caligrafarem o título dos primeiros livros de José Saramago a serem publicados pela editora. É verdadeiramente emocionante ver nomes como Eduardo Lourenço, Dulce Maria Cardoso, Lídia Jorge e Júlio Pomar homenagearem desta forma aquele que é, juntamente com Fernando Pessoa, o grande nome da literatura portuguesa no século XX, por muito que isso incomode algumas pessoas. Obrigado Porto Editora!

Querem saber quem escreveu que título?

A Caverna” – Eduardo Lourenço
A Noite” – Armando Baptista-Bastos
A Viagem do Elefante” – Mário de Carvalho
As Intermitências da Morte” – Valter Hugo Mãe
As Pequenas Memórias” – Gonçalo M. Tavares
Ensaio Sobre a Lucidez” – Dulce Maria Cardoso
História do Cerco de Lisboa” – Álvaro Siza Vieira
Manual de Pintura e Caligrafia” – Júlio Pomar
O Homem Duplicado” – Lídia Jorge

Convido-vos também a verem um vídeo sobre a elaboração das capas, cujo design ficou a cargo da silvadesigners:



Já podem encontrar os livros à venda na Wook (com 10% de desconto e portes grátis), mas podem sempre aproveitar a Feira do Livro para perderem a cabeça. Relembro-vos que foi publicado também recentemente “Lanzarote – A Janela de Saramago”, livro que reúne fotos de João Francisco Vilhena com textos dos “Cadernos de Lanzarote”, um projecto que inaugurou a área de Projectos Especiais da Booktailors.

domingo, 30 de março de 2014

Cheiro a livro novo - Março de 2014


Março tem sido um mês interessante para os autores portugueses, com vários livros de grandes nomes a chegarem às livrarias. No espaço de poucas semanas a Tinta da China trouxe-nos “Tudo São Histórias de Amor” de Dulce Maria Cardoso, que reúne 12 contos de autora que, tendo em conta o desempenho na abertura da 1ª Granta portuguesa, prometem muito. Também a Sextante decidiu avançar com uma autora de peso e fez chegar às livrarias “Passagem” de Teolinda Gersão. E, como onde há duas há três, não é de estranhar que também a Dom Quixote tenha publicado um novo livro de Lídia Jorge, “Os Memoráveis”, mesmo a tempo das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, data também aproveitada pela Quetzal, que edita finalmente no nosso país “Portugal, a Flor e a Foice” de Rentes de Carvalho. Dois livros que se propõem rever os mitos do 25 de Abril. Uma verdadeira luta de editoras.

E por falar em luta de editoras, um dos grandes mistérios editoriais dos últimos tempos é a decisão da Relógio D’Água e da Presença (duas editoras em espectros profundamente opostos do mundo editorial, diga-se de passagem) de editarem em simultâneo “Doze Anos Escravo” de Solomon Northup. A sério?! Como se não houvesse livros suficientes no mundo para serem editados ou clássicos que há muito tempo desapareceram das livrarias. Sinto-me revoltado.

A Relógio D’Água prometia ter um mês interessante mas poucos livros viram para já a luz do dia, parecendo-me justo destacar “Sobre Literatura” de Umberto Eco. De resto, a Temas e Debates editou também este mês um ensaio sobre literatura que me parece muito interessante, “Génio - Os 100 Autores Mais Criativos da História da Literatura" de Harold Bloom.

Para terminar, menção obrigatória à edição pela Presença de “Colheita” de Jim Crace, um dos finalistas da última edição do Man Booker Prize (que, a julgar pela capa, ninguém diria que não se trata de um livro de literatura light) e, pela Cavalo de Ferro, de “Gostamos Tanto da Glenda” de Julio Cortázar, um volume de contos nunca antes publicados em Portugal e que é um ponto de partida para as comemorações do centenário do autor, que se aproxima a passos largos.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Cheiro a livro novo - Fevereiro de 2014




E Fevereiro está a terminar e é altura de balanço. O frio que tem dominado as últimas semanas parece ter feito sentir os seus efeitos nas editoras que, para não gastarem muito calor, limitaram a sua acção ao essencial. Ou se estão a guardar os grandes lançamentos para a Feira do Livro de Lisboa, que se realizará entre 29 de Maio e 15 de Junho, ou então espera-nos um ano de indigência.

Comecemos, como é hábito, pela Relógio D’Água que, como habitualmente, continua a fazer os seus trabalhos de casa. E neste mês temos três obras de três mulheres premiadas:  “Vida Após Vida” de Kate Atkinson, vencedor do Costa Book Award 2013; Assim Para Nós Haja Perdão” de A. M. Homes, que conquistou o Women's Prize for Fiction 2013; e o único romance da incontornável Alice Munro, Prémio Nobel da Literatura 2013, Vidas de Raparigas e Mulheres”.

Na Sextante também se apostou num Prémio Nobel, mas bastante mais distanciado no tempo, continuando a edição de obras Aleksandr Soljenítsin, desta vez com “Zacarias Escarcela e Outros Contos”. Nunca me deixa de espantar a capacidade da Sextante para editar algo que ninguém estaria à espera.

Tem de ser referida também a publicação de “O Jogo de Ripper” de Isabel Allende, pela Porto Editora, embora mais uma vez o design do livro seja muito fraquinho. Isabel Allende é uma grande autora, disso não há dúvida, e a aposta da Porto Editora na sua obra é de louvar, mas a execução tem deixado bastante a desejar, o que é uma grande pena. Mas voltarei a esta questão num futuro próximo…

Este mês surgiram nas livrarias algumas obras de autores portugueses e lusófonos dignas de interesse. Uma delas é “A Experiência”, editada pela Cavalo de Ferro no âmbito do publicação das obras de Ferreira de Castro, e que é considerado um dos textos mais subversivos do autor. Outra é “Habitante Irreal” de Paulo Scott, uma premiada obra da literatura brasileira (vencedora do Prémio Machado Assis da Fundação Biblioteca Nacional 2012 e finalista dos prémios Jabuti e São Paulo de Literatura) trazida até nós pela Tinta da China. Por fim, e graças a um post de Maria do Rosário Pedreira, fiquei com muita vontade de ler “Livro Sem Ninguém” de Pedro Guilherme-Moreira, editado pela Dom Quixote, um dos finalistas do Prémio Leya 2012, que propõe algo original: contar uma história prescindindo das personagens, recorrendo apenas a objectos. Será que funciona?

E para terminar, com a não-ficção como de costume, a Antígona publica “Mary Shelley” de Cathy Bernheim, uma biografia da autora de “Frankenstein”, e as Edições 70 trazem-nos “Uma História da Violência” de Robert Muchembled, que pretende provar que a violência se encontra em decréscimo na sociedade desde o Séc. XIII. Interessante, sem dúvida.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Cheiro a livro novo - Janeiro de 2014


Uma pobreza franciscana. Assim se pode descrever este início de ano em termos editoriais. Poucas novidades e as saídas mais mediáticas não foram as de livros, mas antes a de Saramago e João Tordo da Leya (Saramago entretanto já acolhido na Porto Editora).

Se há algum esforço na Leya para que não seja óbvio que as coisas não andam bem, será certamente muito tímido. Basta olhar para o que as novidades das editoras do grupo em Janeiro e percebe-se que os tempos não estão para grandes investimentos. Digna de nota, portanto, apenas a reedição da “Antologia Poética” de Miguel Torga pela Dom Quixote. Mas, conselho de amigo: se querem comprar poesia do Torga, ainda circula por algumas lojas uma edição da poesia completa do autor, com 2 volumes num único pack, e cujo preço é pouco maior do que o desta antologia.

Falando ainda de autores portugueses, a Tinta da China publicou “Traição”, uma peça de teatro de Luís Mário Lopes, vencedora do Prémio Luso-Brasileiro de Dramaturgia António José da Silva. Saúde-se o regresso da Tinta da China à ficção, e particularmente à portuguesa, após uma grande leva de não-ficção. Quem ficava bem entregue nas suas mãos era o João Tordo, mas a ver vamos o que o futuro reserva. Destaque também na Tinta da China para um novo livro da colecção de literatura de viagens, “Hav” de Jan Morris, o segundo livro do autor nesta colecção e que foi finalista do Booker Prize.

Também finalista do Booker Prize, em 2013, foi “Planície” de Jhumpa Lahiri, que a Relógio D’Água se prepara para editar. Mas a Relógio D’Água nunca esquece os clássicos e este mês iniciou a publicação das "Obras Escolhidas" de Virgínia Woolf, em capa dura, juntando num único volume 4 dos seus livros mais conhecidos: “Orlando”, “As Ondas”, “Mrs. Dalloway” e “Rumo ao Farol”.

E, por falar em clássicos, a Quetzal anunciou para breve o início de uma colecção de clássicos, que será inaugurada por “Anatomia da Melancolia” de Robert Burton e “Páginas Escolhidas” de Samuel Johnson. Para já, a Quetzal editou um clássico mais moderno e que desde o fim da Difel estava afastado das livrarias. Falo de “Nove Histórias” de J. D. Salinger.

Com tanta ficção, que tal um livrinho de não-ficção para desenjoar? A Antígona inicia o ano com o ensaio de CondorcetReflexões sobre a Escravidão dos Negros” e “A Escravatura – Subsídios Para a Sua História” de Edmundo Correia Lopes. A ver vamos, que outras novidades terá a Antígona preparadas para 2014.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Cheiro a livro novo – Novembro e Dezembro 2013


Os meses que antecedem o Natal são por norma pródigos em novidades editoriais, aproveitando o ímpeto consumista originado pelos presentes. Não se pode dizer que tenha sido esse o caso este ano, com poucas novidades e as que existiram foram sobretudo novas edições de obras já publicadas em Portugal. De realçar a pouca actividade dos dois maiores grupos editoriais, Leya e Porto Editora, sem nenhum livro particularmente excitante editado neste período.

A novidade do final do ano e, na minha opinião, a edição mais relevante de 2013 é “Dicionário de Lugares Imaginários” de Alberto Manguel e Gianni Guadalupi, um gigantesco livro de 1000 páginas trazido até nós pela Tinta da China, que compendia locais fictícios famosos na literatura mundial, com direito a ilustrações. Se isto não é o presente de Natal perfeito, não sei o que o será. Mas, como se este livro não fosse suficiente, a Tinta da China editou ainda o segundo livro da colecção pessoana, “Eu Sou uma Antologia”, com organização de Jerónimo Pizarro e Patrício Ferrari, reunindo escritos de 136 autores criados por Fernando Pessoa. E para fechar com chave de ouro, há ainda "Os Escritores (Também) Têm Coisas a Dizer", um livro com entrevistas realizadas por Carlos Vaz Marques na Ler, com alguns dos autores portugueses mais relevantes dos últimos anos (Saramago, Agustina, Lobo Antunes, M. Tavares e Dulce Maria Cardoso, por exemplo).

A única editora a competir com a Tinta da China nas novidades de final de ano é a Relógio d’Água, com duas grandes apostas já disponíveis nas livrarias. Falo das tão aguardadas edições de “Ulisses” de James Joyce, desaparecido do mercado desde que a Difel fechou portas, com uma nova tradução para português de Jorge Vaz de Carvalho, e de “Guerra e Paz” de Tolstoi, que não estava propriamente desaparecido das livrarias. Sendo fácil de encontrar a edição da Presença deste livro, que mais-valias pode ter a versão da Relógio d’Água? Para começar, menos volumes: dois em vez dos quatro da Presença. E depois, há ainda a garantia de qualidade da tradução de António Pescada, que já anteriormente tinha traduzido, de forma exemplar diga-se, “Anna Karénina”, também pela Relógio d’Água.

Por falar em clássicos, a Civilização teve a excelente iniciativa de aumentar a sua colecção Novos Clássicos, com algumas edições dignas de relevo, caso de “O Pai Goriot” de Balzac e de “Quo Vadis” do Prémio Nobel Henryk Sienkiewicz, ambas obras editadas anteriormente pela Europa-América e que mereciam novas edições. Se procuram livros bons, bonitos e baratos (menos de 10€), vejam esta colecção que vale mesmo a pena.

Mas nem só de novas versões de clássicos vive o mercado, e a Cavalo de Ferro continua a sua aposta no género conto, editando pela primeira vez em Portugal “O Barril Mágico” de Bernard Malaud, autor querido por nomes como Philip Roth e Flannery O’Connor.

E por fim, não esquecendo os ensaios, a Antígona propõe mais uma vez um livro singular, integrado na edição da obra de Aldous Huxley. “As Portas da Percepção” relata experiências de Huxley com o consumo de alucinogénios e poderá ser, sem dúvida, um presente de Natal original. Um bom presente poderia ser também o “Admirável Mundo do Novo”, editado também pela Antígona nos últimos meses, mas confesso que a capa me desmotivou e coloquei de lado o meu plano de dar a minha edição da Livros do Brasil a alguém e de comprar esta versão.


Bom, resta-nos esperar para ver o que 2014 nos trará. 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Cheiro a livro novo - Outubro de 2013


Estamos perante um final de ano morno. E não, não falo apenas da temperatura, que agora já começa a mostrar sinais de querer baixar, falo das escolhas editoriais, que não se pode dizer que sejam más, mas esperava-se melhor, especialmente tendo em conta que estamos em época alta. Estarão as editoras a guardar as grandes cartadas para Novembro? Fala-se da edição do “Guerra e Paz” e do “Ulisses” pela Relógio d’Água nesse mês, mas tendo em conta os sucessivos atrasos (estes livros estão na calha há quase um ano) é mesmo caso de ver para crer.

Em Outubro, surpreendentemente, o grande anúncio veio da Antígona, que se prepara para editar vários livros de Aldous Huxley, começando pelo “Admirável Mundo Novo”, livro muito difícil de encontrar nas livrarias, embora ainda se vejam de vez em quando uns exemplares esquecidos e velhinhos da colecção Dois Mundos da Livros do Brasil. Sem dúvida um autor até aqui maltratado pelas nossas editoras e que vai ter finalmente edições à sua altura. Excelente opção da Antígona!

Falando de grandes autores do século XX, a Relógio d’Água continua a publicação das obras de Nabokov, com uma regularidade surpreendente, diga-se de passagem, desta vez com “Pnin”.E porque nem só de clássicos vive o leitor, há também lugar para a edição do polémico “As Partículas Elementares” de Michel Houellebecq, editado anteriormente pela Temas e Debates mas entretanto desaparecido das livrarias.

Compreendo a edição de um livro por mais de uma editora quando o livro esgotou e já não se encontra no mercado, mas que de resto parece-me um exercício estéril. Posto isto, gostava que alguém me explicasse porque é que a Tinta da China decidiu publicar mais uma versão do “Livro do Desassossego” do Fernando Pessoa? Não ponho em causa a qualidade de Jerónimo Pizarro, o editor da obra, mas havendo pelo menos a edição da Assírio & Alvim e a da Relógio d’Água, não será uma má alocação de recursos editar um livro que se encontra facilmente no mercado? Não vejo a mais-valia, e volto a dizer que a Tinta da China se está a deixar ficar para trás na ficção, especialmente na estrangeira.

Também não percebo muito bem a motivação da Alfaguara para editar “Coração Tão Branco” de Javier Marías, que na Feira do Livro se encontrava na banca da Relógio d’Águas a 5€. Com tanto livro por editar em Portugal... A editar um livro que se já se encontra pelas livrarias, então que se faça algo em grande, como a Divina Comédia, que decidiu apostar numa nova edição de  “Cartas Portuguesas”, a obra clássica de Mariana Alcoforado, que conta com tradução de Pedro Tamen, prefácio de Maria Teresa Horta, ilustrações de Modigliani e capa dura. Querem melhor? Tudo isto por apenas 13.5€.

E porque falar em literatura em Outubro é sinónimo de falar de Nobel, chegaram até nós algumas edições de vencedores do prémio, poucas, verdade seja dita, mas escolhas interessantes. A Bertrand editou uma colectânea de contos de Thomas Mann, surpreendendo-nos a Sextante com a publicação de mais um livro de Aleksandr Soljenítsin, “A Casa de Matriona”. Um livro sem dúvida inesperado, tal como o é o regresso às livrarias de “Uma Cana de Pesca para o Meu Avô” de Gao Xingjian, reedição da Dom Quixote, editora que também nos traz o último livro de Urbano Tavares Rodrigues, “Nenhuma Vida”, entregue dias antes de falecer.


E por fim, talvez um dos mais interessantes livros de não ficção editados nos últimos tempos, ou pelo menos assim se espera que seja. “Uma Coisa Supostamente Divertida que Nunca Mais Vou Fazer” é o segundo livro que a Quetzal edita de David Foster Wallace, reunindo alguns dos seus artigos e ensaios mais célebres, nomeadamente aquele que dá nome ao livro, e que relata a experiência de Foster Wallace a bordo de um cruzeiro às Caraíbas que durou uma semana. Consta que é um relato bem corrosivo, com generosas doses de ironia. Diversão garantida.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Cheiro a livro novo - Setembro de 2013


Setembro é o mês das grandes novidades literárias e algo ficou claro: a recta final do ano será dominada pelos grandes grupos editoriais, que já têm as suas novidades nas livrarias e prometem uns próximos meses agitados.

E porque Outubro é mês de novo Nobel da Literatura, Setembro é o mês de editar antigos premiados. Se no ano passado a Quetzal marcou o final do ano com a edição de “A Piada Infinita” do Foster Wallace, este ano parece pronta a repetir a proeza com algo inédito em Portugal: com apenas 8 dias de diferença da edição espanhola, foi editado em português o novo livro de Vargas Llosa, “O Herói Discreto”. Se isto não é algo marcante, não sei o que será. No mínimo é um precedente fantástico e que talvez aponte caminho para o futuro da edição em Portugal.

Para fazer frente a esta iniciativa de peso, a Dom Quixote acena com a edição do último livro de Coetzee, “A Infância de Jesus”. Mas porquê ter apenas um Prémio Nobel quando se pode ter dois ou três, certo? Não fosse Coetzee sair-se mal no confronto com Vargas Llosa, a Dom Quixote conta ainda com a mais do que necessária reedição de “O Lobo das Estepes” de Hermann Hesse (que não se encontra nas livrarias desde a falência da Difel) e na edição de mais um livro de William Faulkner, “Mosquitos”.

Fora dos grandes grupos, a única editora a aventurar-se para já no mundo dos Nobel da Literatura é a Cavalo de Ferro, que continua a publicação de obras de Knut Hamsun, desta vez com “Mistérios”. Mas a fidelidade da Cavalo de Ferro aos seus autores não se fica por aqui e, alguns meses após a edição do 1º livro, a publicação das obras completa de Ferreira de Castro continua, desta feita com “A Missão”, que é para já a melhor capa da reentrée literária.

E por falar em autores portugueses, a grande novidade do mês é sem dúvida o primeiro livro de Valter Hugo Mãe com a Porto Editora – “A Desumanização”. Outro marco de Setembro é a edição pela Dom Quixote da “Antologia Poética“ de Natália Correia, uma das figuras de proa da cultura portuguesa do séc. XX e que, misteriosamente, tinha desaparecido das livrarias e dos catálogos das editoras.

Fora estas novidades de literatura portuguesa, a Assírio & Alvim presenteia-nos com a reedição de obras de duas mulheres incontornáveis: Maria Velho da Costa, com “Casas Pardas”; e Sophia de Mello Breyner Andresen, cuja obra poética começa a ser reeditada com “No Tempo Dividido”, “Mar Novo”, “Poesia” e “Coral”.


E as principais novidades de Setembro são estas. Duas notas finais: primeiro, a Relógio d’Água está assustadoramente calada, falando-se em alguns artigos de imprensa que a publicação de “Ulisses” de James Joyce e de “Guerra e Paz” de Tolstói está prevista para os próximos meses, mas até ao momento não há lista de novidades de editora, como habitualmente, nem nenhum livro publicado em Setembro; segundo, a Tinta da China entrou em Setembro com várias novidades, mas algo de estranho – a ficção ficou de lado, o que é preocupante, tendo em conta que são desta editora duas das melhores colecções de ficção dos últimos anos (a de Literatura de Humor e Clássicos). Reservar-nos-á a Tinta da China novidades de ficção para breve?

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Cheiro a livro novo – Agosto de 2013





Agosto é um mês triste. Poucas novidades a chegar às livrarias, os escaparates com livros requentados para serem levados para a praia e sujos sem culpa. Vem depressa Setembro, com as grandes novidades da rentrée!

Para já, 3 novidades dignas de nota. A Bertrand edita o multi-premiado “A História de Uma Serva” de Margaret Atwood, anteriormente editado pela Europa-América, livro que em 1986 chegou à shortlist do The Man Booker Prize. Mas não se deixem enganar pela capa certinha, não estamos perante um romance feminino. Um teaser: imaginem que o Governo dos Estados Unidos era derrubado por extremistas religiosos ultra-conservadores, como seria viver nesse mundo?

Mantendo-nos em livros com temáticas pesadas, a Sistema Solar continua a percorrer um caminho muito próprio, com escolhas surpreendentes, desta vez com “O Aperto do Parafuso” de Henry James, também editado por cá pela Relógio d’Água, que nos apresenta uma história de fantasmas que tem divido o mundo literário. Os livros da Sistema Solar são muito interessantes dos ponto de vista estético, e há uma grande coerência de design a reforçar uma coerência editorial mais do que óbvia.

E por fim, um livro desafiante. W. G. Sebald tem o seu nome inscrito nas listas de grandes referências. Era mesmo considerado um dos favoritos ao Nobel, mas quis o destino que a morte chegasse mais depressa que o prémio. Com ou sem Nobel, Sebald tem alguns livros muito bem reputados no mercado, um dos quais “Os Anéis de Saturno” editado agora pela Quetzal (já editado pela Teorema). O desafio deste livro prende-se com a sua indefinição quanto a género: não é bem um livro de viagens, não é bem um livro de memórias, não é bem ficção… Algo na boa tradição de Jorge Luís Borges.

Mais livros para a vastíssima lista de compras. Curiosa esta tendência de editoras repescarem livros já editados em Portugal. Não sou contra. Se for para termos melhores edições que as já existentes, vamos a isso. Mas por outro lado, há tanto livro por editar, tanto clássico…