segunda-feira, 1 de julho de 2013

Alice Munro e o adeus à escrita




Primeiro Philip Roth, agora Alice Munro. Após ter vencido o Trillium Book Award com “Amada Vida”, recentemente publicado em Portugal pela Relógio D’Água, Alice Munro anunciou em entrevista ao National Post a sua intenção de dar por encerrada a sua carreira literária. Com o seu último livro a ser considerado um dos melhores que escreveu, elogiado pelo forte cunho autobiográfico, Alice Munro desdramatiza a decisão, com um descontraído “it’s nice to go out with a bang.”

Alice Munro é, aos 81 anos, uma das maiores autoras vivas, certamente o maior nome da literatura canadiana contemporânea, e uma eterna candidata ao Nobel da Literatura (será este ano?). Uma espécie de Meryl Streep da literatura, Alice Munro colecciona prémios. Dos catorze livros de contos que publicou, quase todos foram premiados, ao que se junta ainda os prémios que recebeu pela globalidade da sua obra, com especial destaque para o Man Booker InternationalPrize em 2009.

De Alice Munro li “A Vista de Castle Rock” e parece-me que é a opção ideal para quem dá os primeiros passos no mundo dos contos. Numa progressão temporal ao longo de onze contos, Munro revisita a história da sua família, desde a partida dos seus antepassados da Escócia em direcção à terra das oportunidades, a América, até à viagem que a própria Munro se sente compelida a fazer, em busca das campas desses mesmos antepassados. Há por isso um sentido de unidade nos contos, que confere ao livro algumas características de um romance tradicional.

A escrita de Munro não é épica. Munro não escreve sobre acontecimentos incontornáveis, escreve antes sobre a vida, sobre os pequenos momentos que a definem e, com subtileza, cria com o leitor uma empatia profundamente enraizada, como se a sua família fosse a nossa, como se a sua história fosse também a nossa. E no fundo é, porque Alice Munro recupera em “A Vista de Castle Rock” algo que me é particularmente caro, que é a nostalgia de um mundo perdido. O olhar para um espaço que já nos disse tanto e não encontrar nele qualquer vestígio do que outrora foi.


Que livros de Alice Munro estão traduzidos em português?

Há seis livros de Alice Munro editados no nosso país, todos eles pela Relógio D’Água:

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