Estamos perante um final de ano morno. E não, não falo
apenas da temperatura, que agora já começa a mostrar sinais de querer baixar,
falo das escolhas editoriais, que não se pode dizer que sejam más, mas esperava-se melhor, especialmente tendo em
conta que estamos em época alta. Estarão as
editoras a guardar as grandes cartadas para Novembro? Fala-se da edição do “Guerra
e Paz” e do “Ulisses” pela Relógio d’Água nesse mês, mas tendo em conta os
sucessivos atrasos (estes livros estão na calha há quase um ano) é
mesmo caso de ver para crer.
Em Outubro, surpreendentemente, o grande anúncio veio da
Antígona, que se prepara para editar vários livros de Aldous Huxley, começando
pelo “Admirável Mundo Novo”, livro muito difícil de encontrar nas livrarias,
embora ainda se vejam de vez em quando uns exemplares esquecidos e velhinhos da
colecção Dois Mundos da Livros do Brasil. Sem dúvida um autor até aqui
maltratado pelas nossas editoras e que vai ter finalmente edições à sua altura. Excelente opção da Antígona!
Falando de grandes autores do século XX, a Relógio d’Água
continua a publicação das obras de Nabokov, com uma regularidade surpreendente, diga-se de passagem, desta vez com “Pnin”.E porque nem só de clássicos vive o
leitor, há também lugar para a edição do polémico “As Partículas Elementares” de Michel
Houellebecq, editado anteriormente pela Temas e Debates mas entretanto desaparecido das livrarias.
Compreendo a edição de um livro por mais de uma editora quando o livro esgotou e já não se encontra no mercado, mas que de
resto parece-me um exercício estéril. Posto isto, gostava que alguém me explicasse porque é que
a Tinta da China decidiu publicar mais uma versão do “Livro do Desassossego” do
Fernando Pessoa? Não ponho em causa a qualidade de Jerónimo Pizarro, o editor
da obra, mas havendo pelo menos a edição da Assírio & Alvim e a da Relógio
d’Água, não será uma má alocação de recursos editar um livro que se encontra
facilmente no mercado? Não vejo a mais-valia, e volto a dizer que a Tinta da China
se está a deixar ficar para trás na ficção, especialmente na estrangeira.
Também não percebo muito bem a motivação da Alfaguara para
editar “Coração Tão Branco” de Javier Marías, que na Feira do Livro se
encontrava na banca da Relógio d’Águas a 5€. Com tanto livro por editar em
Portugal... A editar um livro que se já se encontra pelas livrarias, então que
se faça algo em grande, como a Divina Comédia, que decidiu apostar numa nova
edição de “Cartas Portuguesas”, a obra
clássica de Mariana Alcoforado, que conta com tradução de Pedro Tamen, prefácio de Maria Teresa Horta, ilustrações de Modigliani e capa dura.
Querem melhor? Tudo isto por apenas 13.5€.
E porque falar em literatura em Outubro é sinónimo de falar de Nobel, chegaram até nós algumas edições de
vencedores do prémio, poucas, verdade seja dita, mas escolhas interessantes. A
Bertrand editou uma colectânea de contos de Thomas Mann, surpreendendo-nos a
Sextante com a publicação de mais um livro de Aleksandr Soljenítsin, “A Casa de Matriona”. Um livro sem dúvida inesperado, tal como o é o regresso às livrarias
de “Uma Cana de Pesca para o Meu Avô” de Gao Xingjian, reedição da Dom Quixote, editora que também nos traz o último livro de Urbano Tavares Rodrigues, “Nenhuma Vida”,
entregue dias antes de falecer.
E por fim, talvez um dos mais interessantes livros de não ficção editados nos
últimos tempos, ou pelo menos assim se espera que seja. “Uma Coisa Supostamente Divertida que Nunca Mais Vou Fazer” é o segundo livro que a Quetzal edita de
David Foster Wallace, reunindo alguns dos seus artigos e ensaios mais
célebres, nomeadamente aquele que dá nome ao livro, e que relata a experiência
de Foster Wallace a bordo de um cruzeiro às Caraíbas que durou uma semana. Consta
que é um relato bem corrosivo, com generosas doses de ironia. Diversão garantida.