quarta-feira, 30 de julho de 2014

Livros marcantes escritos por mulheres


O Baileys Women’s Prize for Fiction não vos dirá provavelmente muito, mas se vos disser que este é o novo nome do Orange Prize, far-se-á luz certamente. Para os mais desatentos bastará dizer que é um prémio britânico que anualmente distingue o melhor romance escrito em inglês por uma mulher e publicado no Reino Unido, estando a sua origem directamente ligada a um evidente preconceito que as escritoras têm enfrentado, sobretudo quando falamos de reconhecimento do mérito literário. Mas sobre essa questão hei-de falar-vos num futuro próximo...

Há uns meses o Baileys Women’s Prize for Fiction decidiu lançar a campanha #ThisBook, pedindo a pessoas de todo o mundo para identificarem os livros escritos por mulheres que maior impacto tiveram na sua vida. O resultado foi este:

20º “The Women’s Room” de Marilyn French
19º “The Colour Purple” de Alice Walker
18º “The Golden Notebook” de Doris Lessing
17º “I Know Why the Caged Bird Sings” de Maya Angelou
16º “Middlemarch” de George Eliot
15º “A Mulher do Viajante no Tempo” de Audrey Niffenegger
14º “Temos de Falar Sobre o Kevin” de Lionel Shriver
13º “Gone with the Wind” de Margaret Mitchell
12º “Beloved” de Toni Morrison
11º “A Campânula de Vidro” de Sylvia Plath
10º “I Capture the Castle” de Dodie Smith
9º “A História Secreta” de Donna Tartt
8º “As Mulherzinhas” de Louisa May Alcott
7º “Rebecca” de Daphne du Maurier
6º “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen
5º “O Monte dos Vendavais” de Emily Brontë
4º Saga Harry Potter de J. K. Rowling
3º ”Jane Eyre” de Charlotte Brontë
2º ”A História de uma Serva” de Margaret Atwood
1º “Mataram a Cotovia” de Harper Lee

As minhas duas escolhas não se encontram neste Top 20. A minha escolha óbvia seria “O Amante” de Marguerite Duras, como devem ter previsto, mas há outro livro escrito por uma mulher que me marcou muito e sobre o qual escreverei um dia com maior profundidade. Falo de “A Casa dos Espíritos”, o primeiro romance de Isabel Allende, uma escritora com grande sucesso comercial, mas levada muito pouco a sério pelos intelectuais. “A Casa dos Espíritos” não é apenas uma saga familiar, é o livro de uma vida, uma janela escancarada para um mundo em que o inexplicável não é a clarividência, mas os actos conscientes dos homens. E mais não digo por agora.

E vocês? Que livro escrito por uma mulher vos marcou mais?

terça-feira, 29 de julho de 2014

The Man Booker Prize 2014: a longlist

Com os grandes prémios literários do ano mesmo ao virar a esquina, damos o primeiro passo em direcção aos últimos meses de 2014 com o anúncio da longlist do The Man Booker Prize 2014. Pela primeira vez poderam concorrer autores de todas as nacionalidades, desde que o seu livro tenha sido escrito em inglês, o que resultou num grupo multinacional de treze autores (seis britânicos, quatro americanos, dois irlandeses e um australiano), dos quais três são repetentes nestas andanças: Howard Jackobson venceu o prémio em 2010 com “A Questão Finkler”, David Mitchell é já um profissional com dois livros a chegar à shortlist (um deles o famoso “Cloud Atlas”) e outros dois na longlist, e Ali Smith não lhe fica atrás por muito, com dois livros na shortlist.

Mas deixemos que seis dos nomeados nos apresentem os seus livros:

“To Rise Again at a Decent Hour” de Joshua Ferris






“The Narrow Road to the Deep North” de Richard Flanagan





“We Are All Completely Beside Ourselves” de Karen Joy Fowler





“The Blazing World” de Siri Hustvedt





“The Wake” de Paul Kingsnorth





“The Bone Clocks” de David Mitchell





Os restantes nomeados são:

“J” de Howard Jacobson


“The Lives of Others” de Neel Mukherjee


“Us” de David Nicholls


“The Dog” de Joseph O’Neill


“Orfeo” de Richard Powers


“How to Be Both” de Ali Smith


“History of the Rain” de Niall Williams


Como seria de esperar, quase nenhum destes livros foi ainda publicado em Portugal, excepção feita para o livro de Siri Hustvedt, que a Dom Quixote editou recentemente com o título “O Mundo Ardente”.


Esperemos então pelo dia 9 de Setembro para saber que livros vão chegar à shortlist.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Minotauro na Almedina a preços imbatíveis


Já aqui vos falei da colecção Minotauro, lançada há uns anos com uma chancela própria do grupo Almedina e que pretendia divulgar em Portugal a literatura espanhola contemporânea. Para além de uma selecção de livros muito interessante (basta ler as sinopses para ficar cativado por vários), incluindo “Crematório” de Rafael Chirbes que foi considerado o 2º melhor do século XXI em língua espanhola, esta colecção foi distinguida com o Silver Award no Festival Europeu de Design 2010 e basta estar com um dos livros na mão para perceber porquê.

E eis que a Almedina, empenhada em melhorar o nosso Verão, decidiu incluir todos os livros da colecção numa promoção, que irá decorrer até ao final de Agosto, oscilando o preço entre os 5€, 6€, 8€ e 10€. Vejam por vocês mesmos e deixem-se cair em tentação que eu próprio irei pecar sem culpa e por repetidas vezes para ficar com a colecção quase completa. 

terça-feira, 22 de julho de 2014

A dependência dos livros - edição Julho de 2014


Julho foi um mês cheio de boas notícias para os viciados em comprar livros. Tudo começou com uma promoção da Presença, em que nos devolviam 100% do valor que gastássemos em encomendas. E foi assim que comprei o volume que me faltava da Trilogia USA do John dos Passos e ainda encomendei, totalmente grátis, “A Balada do Café Triste” de Carson McCullers e o 1º volume da poesia da Florbela Espanca.

Como habitualmente, também a Wook e a Fnac nos presentearam com excelentes oportunidades, a primeira com uma selecção celestial de livros para o Verão (da qual veio “o “A Consciência de Zeno” a menos de 5€), e a segunda com livros da Relógio D’Água a metade do preço (finalmente Turguéniev entra na minha biblioteca!).

Mas nem só de promoções viveu este mês. Tivemos também a edição comemorativa em papel da Blimunda, que se pode caracterizar como algo entre a perfeição e a inexistência de defeitos. E, só para terminar em beleza, tive a melhor visita à Fyodor Books de sempre, que me valeu dois livros da Marguerite Duras (“Os Insolentes” e “A Vida Material”), “O Arco-Íris” de D. H. Lawrence, “Gente de Terceira Classe” de José Rodrigues Miguéis e “Olhos Verdes” de Luísa Costa Gomes. Todos em capa dura, todos por 10€.

Aqui fica a lista completa das compras de um mês em cheio:

Blimunda – Número Especial”, Fundação José Saramago
A Consciência de Zeno” de Italo Svevo, Dom Quixote
A Longa Vida de Marianna Ucria” de Dacia Maraini, Vega
A Procura do Amor” de Nancy Mitford, Cotovia
“O Arco-Íris” de D. H. Lawrence, Círculo de Leitores
“Os Insolentes” de Marguerite Duras, Círculo de Leitores
“A Vida Material” de Marguerite Duras, Círculo de Leitores
“Gente de Terceira Classe” de José Rodrigues Miguéis, Círculo de Leitores
“Olhos Verdes” de Luísa Costa Gomes, Público (Colecção Mil Folhas)
A Balada do Café Triste” de Carson McCullers, Presença
Pais e Filhos” de Ivan Turguéniev, Relógio D’Água
Obra Poética – Volume I” de Florbela Espanca, Presença

Paralelo 42” de John dos Passos, Presença

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O que é que a Granta tem? “Ter medo” de Valter Hugo Mãe


Comecei a ler a espécie de confissão de Valter Hugo Mãe que encerra a 1ª Granta portuguesa com um enorme preconceito, sem que nunca tivesse lido nada do autor. A mania de escrever sem maiúsculas cheirava-me a pedantismo, a escritor que estava mais preocupado em arranjar um estilo do que em focar-se na obra. Parecia-me de uma enorme vontade de aparecer e quando vi as suas fotos nu na Granta pensei “pronto, aqui temos mais um momento disruptivo”. Tudo me parecia artifícios para esconder a obra. E só se quer esconder aquilo a que não se quer que seja prestada atenção.

Pois bem, penitencio-me perante vós, meus leitores, e perante Valter Hugo Mãe, que com este simples texto me convenceu a querer lê-lo, a querer saber o que é que o homem que não morreu em 1996 por ter andado nu numa movimentada avenida de Braga tem mais para nos mostrar.

Valter Hugo Mãe diz-nos que mesmo despido fisicamente, a sua nudez nunca será tão grande como na poesia, que o toma de forma descontrolada, incapaz de se esconder nas palavras. Curiosamente é em prosa, o género mais controlado, que se volta a despir para quem o lê, numa tentativa de se enfrentar, de se matar, de se mostrar vulnerável para poder ser forte, para que a ideia da perenidade se esgote e a imortalidade do poético o domine. É preciso ter medo para poder ser corajoso.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Nadine Gordimer, a doce lutadora

“Nada factual que eu escreva ou diga será tão verdadeiro como a minha ficção. A vida, as opiniões, não são a obra, porque é na tensão entre colocar-se à parte e estar envolvido que a imaginação transforma ambos.” (in "Nobel Lecture")

  
Nadine Gordimer morreu. No intervalo de um ano é a quarta Prémio Nobel da Literatura a deixar-nos e é talvez dos quatro a que terá um maior peso histórico pelo seu envolvimento na luta contra o apartheid.


Lembremo-la pelas suas palavras:


domingo, 13 de julho de 2014

Quem é Alberto da Costa e Silva?


Dados estatísticos apontam para que 95% dos portugueses tenham reagido ao anúncio de Alberto da Costa e Silva como o vencedor do Prémio Camões 2014 com um sonoro “quem?!”. Sem questionar obviamente os méritos do escritor, nem tão pouco os critérios do júri, mas não deixa de ser estranho que o mais prestigiado prémio literário lusófono seja dado a alguém que certamente poucas pessoas (não me refiro a académicos, entenda-se) conhecerão.

Mas não nos esqueçamos de algo: a função dos prémios não é apenas prestigiar carreiras já consagradas aos olhos do público, mas também chamar a atenção para figuras que merecem um maior reconhecimento do que aquele que têm. Resta-nos esperar que as editoras portuguesas, as grandes culpadas por não sabermos quem Alberto da Costa e Silva é, vejam neste prémio a oportunidade para nos trazerem a obra do poeta, historiador e africanista. Que bem que os livros de poemas de Alberto da Costa e Silva ficariam no catálogo da Assírio & Alvim, e os ensaios na Tinta-da-China! Mas, tendo em conta que “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa, o equivalente brasileiro ao “Os Maias” em importância literária, não está neste momento disponível em Portugal, não seria de espantar se nada acontecesse e Alberto da Costa e Silva permanecesse um estranho para os leitores portugueses.

Embaixador em Portugal e africanista. Foi assim essencialmente que os jornais nos apresentaram Alberto da Silva e Costa. Na verdade, ele é mais do que isso. Nascido em 1931 em São Paulo, ocupa desde 2000 a 9ª cadeira da prestigiada Academia Brasileira de Letras, depois de uma vida dividida entre os livros e a diplomacia. Será irrelevante dizer que Alberto da Costa e Silva foi agraciado com a grã-cruz da Ordem Militar de Cristo, da Ordem Militar de Sant' Iago da Espada e da Ordem do Infante Dom Henrique, mas não o é dizer que é filho do poeta Da Costa e Silva, que o marcou profundamente ao ponto de no seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras ter dito: “só isto quis e quero: cumprir esse vaticínio, ser o que o meu pai sonhou ser. E, se pedi que me aceitásseis em vossa companhia, foi sobretudo porque ele teria pertencido a esta Casa se não se tivesse exilado tão pronto de si mesmo.”

E porque um homem não é apenas o seu percurso, que não indicia por exemplo o sentido de humor de Alberto da Costa e Silva, sugiro-vos um simples documentário centrado na relação do escritor com o seu pai, percebendo-se o quanto a sua obra poética foi beber à do seu progenitor. Como não ficar rendido a Alberto da Costa e Silva depois disto? Obrigado Prémio Camões!


sexta-feira, 11 de julho de 2014

Cheiro a livro novo - Abril, Maio, Junho e Julho 2014


Ando a dever-vos, já há algum tempo, uma actualização relativamente a novidades editoriais. Passemos então em revista os últimos meses, mesmo a tempo das férias de Verão e de algumas compras de última hora.

Não será certamente surpresa que, na minha opinião, o grande lançamento editorial dos últimos meses nos chegou pelas mãos da Relógio D’Água que decidiu, finalmente, pegar na obra de Marguerite Duras e, duma vez só, editar “Moderato Contabile” e “Olhos Azuis, Cabelo Preto”. Infelizmente são dois livros que já tenho na minha biblioteca, mas é sempre bom ver Duras a voltar às livrarias.

Não satisfeita com este lançamento, a Relógio D’Água tem submergido os seus leitores numa torrente de grandes livros: os volumes VIII e IX dos contos de Tchékhov, “A Morte de Virgílio” de Hermann Broch num único volume, “Ressurgir” de Margaret Atwood e “Falsos Segredos” da Prémio Nobel Alice Munro, só para referir os principais. Com um conjunto de livros como este a Relógio D’Água continua a melhorar um catálogo que é de longe o melhor em Portugal. E a concorrência não parece ter pernas para acompanhá-la…

A Porto Editora, como já vos disse anteriormente, tem estado focada em Saramago, com as novas edições de alguns dos seus livros e também com a publicação de “Lanzarote – A Janela de Saramago”, que reúne fotos de João Francisco Vilhena com excertos dos “Cadernos de Lanzarote”. E, assinalando os quatro anos da morte de Saramago e os dois anos da revista online Blimunda, a Fundação José Saramago preparou uma belíssima edição especial em papel da Blimunda que reúne alguns dos principais artigos publicados nestes dois anos, assim como um artigo original. Eu já tenho a minha e digo-vos que vale mesmo a pena!

E por falar em coisas que valem mesmo a pena, os últimos meses da Tinta-da-China foram marcados por uma autora (e não, não estou a falar da Matilde Campilho). Depois do lançamento do inacreditavelmente bom “Tudo São Histórias de Amor”, tivemos Dulce Maria Cardoso em dose tripla, com os dois primeiros números da colecção juvenil “A Bíblia de Lôá” – “Lôá e a Véspera do Primeiro Dia” e “Lôá Perdida no Paraíso” – genialmente ilustrados por Vera Tavares e uma nova edição de “O Chão dos Pardais”, romance que valeu à autora o Prémio PEN Club em 2009. Para além disso, consta que vem aí uma nova edição de “Jacques, O Fatalista” de Denis Diderot, um dos grandes títulos da colecção de humor organizada por Ricardo Araújo Pereira. Praise the lord!

A Dom Quixote recuperou algum do seu vigor depois de meses de absoluto tédio. E assim chegaram até nós “Os Factos” de Philip Roth, o terceiro volume das “Obras Completas” de Urbano Tavares Rodrigues, “Contos Maravilhosos” do Prémio Nobel Hermann Hesse e o clássico “O Leopardo” de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.

A Cavalo de Ferro apostou num Prémio Nobel pouco explorado em Portugal e publicou o ensaio “Massa e Poder” de Elias Canetti, continuando também a publicação de obras de Julio Cortázar com o volume de contos “As Armas Secretas”, preparando as comemorações do centenário do seu nascimento.

E terminemos em português, com a Quetzal, que nos trouxe uma nova edição de “Ernestina” de Rentes de Carvalho e um novo livro de José Eduardo Agualusa, “A Rainha Ginga”, que conta a história de uma mítica heroína Angolana.

Esperam-nos agora meses calmos até à rentrée em Setembro/Outubro, um dos pontos altos editoriais do ano. Pode ser que entretanto a Ahab regresse à vida, depois do destaque que teve no ano passado com a promessa de publicar em Portugal "A Minha Luta" de Karl Ove Knausgård e de, entretanto, não ter editado livro nenhum.