sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Patrick Modiano, o Prémio Nobel que quase ninguém conhecia


Quem, fora da França, quando se levantou ontem, sabia quem era Patrick Modiano? Quase ninguém. O próprio Modiano possivelmente duvidava que a Academia Sueca sequer soubesse quem ele era. E lá estava ele, num jardim, a dar um tranquilo passeio matinal, quando a filha lhe liga para lhe dar a boa-nova. Coitado do homem que contava ter um dia normal e de repente tem pessoas da organização do Nobel a quererem entrevistá-lo por telefone. Modiano não consegue esconder o seu nervosismo e surpresa, gagueja, perde-se nas frases, balbucia respostas pouco coerentes. O resultado é este:

(podem ler uma transcrição da entrevista em inglês aqui)

Sempre que o vencedor do Prémio Nobel é um autor desconhecido erguem-se logo vozes. “Tem algum jeito receber cicrano o prémio e beltrano ficar de mãos a abanar?!”, dizem toldados por esse que é o mais nobre dos sentimentos – a indignação. Eu, que até sou uma pessoa que se indigna bastante, no que diz respeito ao Prémio Nobel da Literatura sou todo paz e amor. Se vencer um autor que eu conheça e goste (como no ano passado), perfeito. Se vencer alguém desconhecido, óptimo, porque isso quer dizer que vamos ter a oportunidade de conhecer um novo escritor. Livros serão traduzidos, livros esgotados serão reeditados e todos nós poderemos ler um autor que em princípio será de qualidade e que de outra forma se calhar nunca viríamos a conhecer.

Recebi por isso esta notícia com alegria e, nunca sequer tendo ouvido falar de Patrick Modiano, prontamente me dirigi à Wook onde, por sorte, ainda estava disponível “No Café da Juventude Perdida” a 4.9€, livro que prontamente encomendei e que passados 10 minutos já estava esgotado. Depois pesquisa-se um pouco sobre Modiano e afinal percebemos que às tantas nós é que andámos este tempo todo distraídos. Venceu o Goncourt, o Grand prix du roman de l'Académie française e o Austrian State Prize for European Literature. E até tem bastantes livros publicados em Portugal:

“Domingos de Agostos” e “Um Circo que Passa” editados pela Dom Quixote 
(ambos esgotados)

Na Rua das Lojas Escuras” editado pela Relógio d’Água 
(quase quase a esgotar)

”Dora Bruder” e “No Café da Juventude Perdida” editados pela Asa 
(ambos esgotados)

O Horizonte” editado pela Porto Editora

Após o recato e ponderação inerentes a uma leitura crítica poderemos então discutir os méritos de Patrick Modiano. Para já temos as palavras da Academia, que o elogia pela “arte da memória com que evocou os mais incompreensíveis destinos humanos e revelou o mundo quotidiano da ocupação”. A ver vamos.

8 comentários:

  1. Também não o conhecia, não posso por isso comentar o merecimento, mas lamento que só em 6 anos haja dois Nobel para a França, que fica com 15 e em mais de um século a literatura em língua portuguesa se quede por 1... esta diferença não espelha suprema qualidade literária francesa face a toda a produção lusófona. Talvez o mesmo se passe com outras culturas mundiais que também mereciam ser conhecidas fora dos seus nichos.

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    1. Sim, concordo totalmente Carlos. Preferia que tivesse ganho um autor de língua portuguesa ou de uma nacionalidade pouco premiada. Mas enfim, é um novo autor a descobrir.

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  2. Eu não sou nada paz e amor nestas questões. Triunfou mais um escritor medíocre, quando continuam a ser ignorados António Lobo Antunes, William H. Gass, Philip Roth, Milan Kundera. Ao reconhecerem Modiano logo depois de honrarem Munro, os suecos deixaram claro que a excelência da escrita não conta para absolutamente nada na decisão final.

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    1. Eu sou paz e amor quando não conheço Miguel, o que é o caso de Modiano. Depois de o ler, o que farei em breve, direi de minha justiça. Mas discordo profundamente de que Alice Munro não seja um exemplo de excelência de escrita. Discordo tanto dessa afirmação que até me senti um pouco tonto. Aliás, Alice Munro foi dos Prémios Nobel mais unânimes de sempre, era uma eterna favorita, está pejada de prémios e é idolatrada por inúmeros escritores. Mais uma vez, não acho que a simplicidade estilística seja sinónimo de falta de excelência, assim como não acho que a exuberância estilística seja um sinónimo de excelência.

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  3. Super apoiado João! Se não há experiência, não há como estar contra a escolha da Academia.
    Aguardo ansiosamente a tua opinião.

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    1. Tenho muito respeito pela Academia, mesmo quando não concordo com ela. É um órgão muito sério e que é impermeável a factores externos e que se esforça ara montar um processo em que a escolha é o ais profunda e informada possível.

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  4. Se fosse no facebook apenas tinha clicado no gosto, aqui fica o apoio no seu comentário J Oliveira sobre Alice Munro,

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