quinta-feira, 30 de julho de 2015

The Man Booker Prize 2015: a longlist


São 13 os finalistas da edição de 2015 do The Man Booker Prize, com os Estados Unidos a porem em questão a supremacia do Reino Unido ao conseguirem cinco nomeados. E os livros em consideração este ano para um dos mais prestigiados prémios do mundo literário são:

Bill Clegg (EUA), “Did You Ever Have a Family”    
Anne Enright (Irlanda), “The Green Road
Marlon James (Jamaica), “A Brief History of Seven Killings
Laila Lalami (EUA), “The Moor's Account
Tom McCarthy (Reino Unido), “Satin Island
Chigozie Obioma (Nigéria), “The Fishermen
Andrew O’Hagan (Reino Unido), “The Illuminations
Marilynne Robinson (EUA), “Lila
Anuradha Roy (Índia), “Sleeping on Jupiter
Sunjeev Sahota (Reino Unido), “The Year of the Runaways
Anna Smaill (Nova Zelândia), “The Chimes
Anne Tyler (EUA), “A Spool of Blue Thread
Hanya Yanagihara (EUA), “A Little Life

Desta lista sairá uma shortlist no dia 15 de Setembro, sobrevivendo apenas 6 obras, das quais será eleita a vencedora, a ser anunciada a 13 de Outubro. Apesar de três escritores serem novatos, com a obra incluída na longlist a ser a única que publicaram, engane-se quem pensar que não há nomes sonantes nesta lista.

Há até mesmo um anterior vencedor deste prémio, Anne Enright, que em 2007 viu o seu livro “Corpo Presente”, editado em Portugal pela Gradiva, ser distinguido. Também Tom McCarthy e Andrew O’Hagan não são nomes estranhos ao The Man Booker Prize, tendo ambos em edições anteriores chegado à shortlist.

Mas os americanos não deixam os seus créditos por mãos alheias e, para além da finalista do Pulitzer Laila Lalami, têm os dois nomes pesados desta lista: Marilynne Robinson e Anne Tyler. Dos três romances publicados anteriormente por Marilynne Robinson, “Housekeeping” foi nomeado para o Pulitzer e “Gilead” venceu esse mesmo prémio mais de 20 anos depois, enquanto “Home” lhe valeu o Orange Prize, actualmente The Baileys Women's Prize for Fiction. Quanto a Anne Tyler, venceu um Pulitzer com “Exercícios de Respiração”, editado no nosso país pela Europa-América, e foi nomeada para outros dois, tendo recebido também duas nomeações para o Orange Prize.

Com apenas quatro destes autores a terem obras anteriores publicadas em Portugal (Anne Enright, Tom McCarthy, Marilynne Robinson e Anne Tyler), dois deles estão na minha biblioteca, embora ainda não tenham sido lidos: uma edição brasileira de “Gilead” de Marilynne Robinson e “Corpo Presente” de Anne Enright. Quem sabe se uma das duas não vence o prémio e esse é o empurrão que eu precisava para avançar com a leitura do seu livro!

domingo, 26 de julho de 2015

O que é que a Granta tem? “É Perigoso Ser Feliz Duas Vezes” de Raquel Ribeiro


Uma das coisas boas da Granta é permitir-nos conhecer novos autores portugueses cujos livros, de outra forma, não nos sentiríamos compelidos a ler. Raquel Ribeiro é um bom exemplo disso, e certamente poucos resistirão à vontade de ler “Este Samba no Escuro” após conhecerem o seu conto no 2º número da Granta portuguesa.

Raquel Ribeiro apresenta-nos um relato da sua segunda ida a Cuba, quando trabalhava na sua tese. Sob uma capa de normalidade, revela-se de forma inesperada o lado negro de um regime não democrático quando Raquel é submetida a um interrogatório pelas autoridades por ter feito questões sobre um tema sensível. O seu testemunho torna evidente o papel dos níveis médios e baixos do poder, que são os elementos que perpetuam os princípios do regime, cujo controlo se pode reflectir em coisas tão simples como impedir que um investigador consulte um livro, não permitir que uma janela seja aberta ou bloquear a entrada num edifício mesmo quando há um convite de um superior.

Depois de uma primeira visita feliz, Raquel Ribeiro vê o mito desvanecer-se e uma nova visão da realidade erguer-se. Num momento surreal, após o interrogatório, um dos agentes mostra-se preocupado com o testemunho futuro dela quanto ao que ali se passou e tenta assegurar-se que Raquel nunca se sentiu ameaçada. E o mais pernicioso é que Raquel, que estava aterrada, escondeu o que sentia apenas para poder sair dali rapidamente. E esse é o efeito mais perigoso do medo: o silêncio.

Às vezes é de facto um perigo regressarmos aos lugares onde fomos felizes, mas mesmo assim não perderei a oportunidade de me reencontrar com a escrita de Raquel Ribeiro.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Imprima-se, diz a E-Primatur


Há uns meses surgiu o anúncio de uma nova editora. Mas não se trata apenas de mais uma, daquelas que surgem pela calada com promessas de mundos e fundos e depois se desvanecem (Divina Comédia, onde estás tu?!). A E-Primatur traz-nos uma aposta diferente, que não é uma garantia de sucesso, mas que promove uma nova visão sobre a edição de livros.

Iniciando a sua acção com a publicação de alguns clássicos, foi neste ponto que o projecto me conquistou, estando entre os primeiros títulos “Voss” de Patrick White, um Prémio Nobel esquecido pelas editoras, “O Salão Vermelho” de August Strindberg e “O Caso do Camarada Tvlayev” de Victor Serge, tendo sido estes dois últimos livros incluídos na lista dos 1000 romances a ler antes de morrer do The Guardian. São escolhas arrojadas, de qualidade inegável, mas são apenas o começo, porque a E-Primatur é ainda mais ousada do que isto.

Criar a primeira plataforma de crowdfunding em Portugal, é esse o objectivo principal, contando a editora ter no segundo ano um catálogo que inclua sugestões recolhidas e que seja sujeito à apreciação do público, que poderá investir num livro pagando cerca de 1/3 do seu valor final e recebendo-o sem custos adicionais se a publicação se concretizar. Mas, mais do que uma forma de financiar o livro, a plataforma é sobretudo uma forma de analisar a reacção do mercado, podendo avançar-se com a publicação mesmo sem que o valor mínimo de apoio seja atingido. E se o projecto não avançar? Bom, nesse caso o dinheiro é devolvido.

Para ajudar ao bom desempenho de cada projecto haverá padrinhos, figuras proeminentes do mundo cultural, que incitarão o público a investir no seu livro. Para já, aguardamos pela finalização do site que permitirá à editora começar a mostrar o que vale, para que todos possamos receber nas nossas casas os clássicos com que nos têm acenado.

Associados à E-Primatur há outros serviços editorias complementares, mas é este o núcleo da sua acção. Resta-nos dar os parabéns a Hugo Xavier, Pero Bernardo e João Reis, os cérebros por detrás da E-Primatur, pela sua coragem e desejar que nos devolvam livros até agora esquecidos e nos tragam mais autores por editar em Portugal.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Paraíso dos livros: edição de coleccionador da "Orpheu"


Há uns meses, a propósito da comemoração do centenário da revista “Orpheu” e do lançamento de “1915” pela Tinta-da-China, livro que reúne vários ensaios a respeito da importância da emblemática revista, comentei com uma amiga: “mas porque é que ninguém se lembra de reeditar a Orpheu?!” Mal sabia eu que Bárbara Bulhosa estava umas jogadas bem à frente, preparando no segredo dos deuses não apenas uma simples reedição mas uma peça digna de museu, feita para ser acarinhada por leitores devotos.

Chegou há poucos dias a minha casa a minha “Orpheu”, a número 272 das 1200 produzidas e foi uma emoção segurá-la pela primeira vez. Abri a luxuosa caixa e retirei cerimonialmente as duas reproduções dos números publicados da revista e um terceiro caderno, mais pequeno, com as provas tipográficas do terceiro número que não chegou ao grande público e que teria, para além de pinturas de Amadeo de Souza-Cardoso, poemas de Sá-Carneiro, Pessoa e Almada-Negreiros e composições de outros autores.

A atenção aos detalhes, a preocupação com os materiais escolhidos, tornam o simples acto de folhear a “Orpheu” numa experiência sensorial e emocional, como se fossemos transportados no tempo. E no meio das revistas, delicadamente colocados, um marcador e uma publicidade à segunda revista, absolutamente fiéis à época, como também o são as folhas por separar, tão típicas das publicações daquela altura, por isso preparem-se para ter uma faca bem afiada à mão! Eu confesso que tinha dispensado este rigor histórico final e que me senti um herege a estragar algo perfeito, mas percebo o charme.

Por esta preciosidade pedem-nos 70€ e é dinheiro bem gasto. Uma peça que orgulhosamente passarão às próximas gerações, depois de horas e horas de prazer a ler a “Orpheu” como a leram os seus contemporâneos. Obrigado Tinta-da-China e Fundação EDP!

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O que é que a Granta tem? “Servindo o Chá” de Hélia Correia


Uns dias antes de ser anunciado o vencedor deste ano do Prémio Camões, e estando eu bem longe de imaginar o que iria acontecer, parti para a leitura do segundo conto criado por Hélia Correia para a Granta portuguesa. Não parti esfuziante, há que dizê-lo, porque o seu conto na primeira Granta foi um dos que menos gostei e também porque a entrevista de Hélia Correia a Carlos Vaz Marques apresentada no livro “Os Escritores (Também) Têm Coisas a Dizer” foi a que menos me interessou. Tinha colocado Hélia Correia na categoria “senhora dos gatos esotérica obcecada pela Grécia” e tinha seguido em frente, pouco motivado para a reencontrar.

E é nestes momentos que agradeço a minha persistência e o por vezes obrigar-me a ler coisas, porque as primeiras opiniões são muitas vezes más conselheiras e nunca se sabe o que nos pode escapar quando lhes damos ouvidos. Assim, num segundo encontro com um conto de Hélia Correia saí confiante quanto ao nosso futuro juntos.

Hélia Correia continua a história de Laura, que após as suas cirurgias plásticas se vê atormentada por um sonho com Jane Fonda, que lhe revela que o segredo está em algo mais profundo do que a admiração física, um amor, a capacidade de suscitar uma devoção no outro enquanto instrumento de poder. A frustração de Laura é palpável. “Tanto esforço para nada”, quase parece dizer, sabendo que no seu processo de melhoramento físico perdeu a ligação emocional que tinha com o seu marido. Torna-se então claro que é necessária uma ruptura.

Com a mesma voracidade com que se entregou a um cirurgião plástico, Laura tenta uma nova vida e surpreendentemente encontra a devoção que procurava. No final há sempre uma lição: não importa o que se é ou o que se tem, mas sim a percepção que os outros têm. Pelo menos para já. Veremos o que o futuro trará para Laura nas próximas Grantas...