quinta-feira, 16 de julho de 2015

Paraíso dos livros: edição de coleccionador da "Orpheu"


Há uns meses, a propósito da comemoração do centenário da revista “Orpheu” e do lançamento de “1915” pela Tinta-da-China, livro que reúne vários ensaios a respeito da importância da emblemática revista, comentei com uma amiga: “mas porque é que ninguém se lembra de reeditar a Orpheu?!” Mal sabia eu que Bárbara Bulhosa estava umas jogadas bem à frente, preparando no segredo dos deuses não apenas uma simples reedição mas uma peça digna de museu, feita para ser acarinhada por leitores devotos.

Chegou há poucos dias a minha casa a minha “Orpheu”, a número 272 das 1200 produzidas e foi uma emoção segurá-la pela primeira vez. Abri a luxuosa caixa e retirei cerimonialmente as duas reproduções dos números publicados da revista e um terceiro caderno, mais pequeno, com as provas tipográficas do terceiro número que não chegou ao grande público e que teria, para além de pinturas de Amadeo de Souza-Cardoso, poemas de Sá-Carneiro, Pessoa e Almada-Negreiros e composições de outros autores.

A atenção aos detalhes, a preocupação com os materiais escolhidos, tornam o simples acto de folhear a “Orpheu” numa experiência sensorial e emocional, como se fossemos transportados no tempo. E no meio das revistas, delicadamente colocados, um marcador e uma publicidade à segunda revista, absolutamente fiéis à época, como também o são as folhas por separar, tão típicas das publicações daquela altura, por isso preparem-se para ter uma faca bem afiada à mão! Eu confesso que tinha dispensado este rigor histórico final e que me senti um herege a estragar algo perfeito, mas percebo o charme.

Por esta preciosidade pedem-nos 70€ e é dinheiro bem gasto. Uma peça que orgulhosamente passarão às próximas gerações, depois de horas e horas de prazer a ler a “Orpheu” como a leram os seus contemporâneos. Obrigado Tinta-da-China e Fundação EDP!

11 comentários:

  1. Compreendo-o, apesar de não ser um dos que ficaram com as 1200 produzidas.

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  2. Depois diga qualquer coisa sobre esse Roth que anda a ler, dele só li, com desistência a meio, "O relatório de Portnoy" e nunca mais tentei, mas ouço muitas laudes a esse escritor.

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  3. Recebi a minha no início de Julho e ainda não a abri. Tenho a sensação que se o fizer, algo se perde... Acho que já é tempo de perder o medo. :)

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  4. Olá João!
    Também eu fui um dos contemplados com um exemplar desta edição, o número 1166 é meu!
    Porém, fiquei intrigado quanto ao correspondente da 3ª edição da revista pois, como ilustra a sua foto, também eu recebi um caderno com "Poemas de Paris", e pesquisei por fotos do conteúdo desta edição de outras pessoas (foi assim, aliás, que vim ter ao seu blog...) e deparei-me com uma foto com um conteúdo diferente do "nosso". Envio-lhe o link do artigo onde vi essa foto, e compare. Veja as duas fotos do artigo. Em vez do caderno Poemas de Paris existe um outro com um "3" na capa. Estou intrigado. Será engano?

    http://shifter.pt/2015/06/revista-orpheu-reeditada-cem-anos-depois-do-seu-lancamento/

    Cumprimentos,
    Alexandre

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    1. Olá Alexandre! Boa pergunta :) Mas aquela capa das provas tipográficas da 3ª revista parece-me uma coisa muito improvisada! Se eu tivesse de apostar diria que a pessoa criou uma capa para que o caderno ficasse mais resguardado. Não creio que tenha havido qualquer engano com as nossas edições.

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    2. Olá João!
      Questionei a Tinta da China em relação à questão que apresentei, eis a resposta:

      "Bom dia,
      Muito obrigada pelo seu contacto.
      Efectivamente circularam algumas fotografias na internet das provas da obra onde o n.º 3 surge com uma capa improvisada para o efeito.
      Como certamente saberá, originalmente, o n.º 3 da revista Orpheu nunca chegou a sair e por isso não existe uma capa da mesma, de forma a mantermo-nos fiéis ao original optámos por não fazer uma capa e decidimos publicar as provas tipográficas exactamente como constam nos arquivos.
      O caderno que recebeu que começa com os Poemas de Paris de Mário de Sá-Carneiro são as provas tipográficas do terceiro volume da revista Orpheu.
      As imagens que viu na internet são de divulgação, para que o público em geral percebesse o que se tratava através de uma simples fotografia.
      Qualquer dúvida ou sugestão não hesite em contactar-nos."

      Depois, questionei também o facto das folhas não estarem separadas, e a resposta foi a seguinte:

      "Bom dia,
      Todo o aspecto físico desta edição prende-se com o facto de nos querermos manter o mais fiéis possível aos originais.
      Se reparar no marcador vem inclusive mencionado que o mesmo tem a função de corta-folhas.
      Era comum os livros na época serem publicados desta forma, com as folhas por separar. Surgiram assim os lindíssimos corta-folhas que actualmente estão quase extintos.
      Mais uma vez agradeço o seu email.
      Cumprimentos"

      Pelos vistos, a situação é normal!
      Cumprimentos,
      Alexandre

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    3. Obrigado pela partilha Alexandre! Sim, as folhas pareceu-me normal porque comprei livros da época com a mesma característica e, tendo em conta que são edições numeradas e que a tiragem não é muito grande, a Tinta-da-china não deixaria passar uma versão com um "defeito" tão óbvio.

      Como digo no artigo: adoro o conceito, a edição é excelente, mas eu dispensava o charme das folhas não separadas, porque me parece quase herético ter de cortar as folhas de algo tão bonito. Mas pronto, peguei numa faca e fiz-me à vida :)

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