quarta-feira, 15 de julho de 2015

O que é que a Granta tem? “Servindo o Chá” de Hélia Correia


Uns dias antes de ser anunciado o vencedor deste ano do Prémio Camões, e estando eu bem longe de imaginar o que iria acontecer, parti para a leitura do segundo conto criado por Hélia Correia para a Granta portuguesa. Não parti esfuziante, há que dizê-lo, porque o seu conto na primeira Granta foi um dos que menos gostei e também porque a entrevista de Hélia Correia a Carlos Vaz Marques apresentada no livro “Os Escritores (Também) Têm Coisas a Dizer” foi a que menos me interessou. Tinha colocado Hélia Correia na categoria “senhora dos gatos esotérica obcecada pela Grécia” e tinha seguido em frente, pouco motivado para a reencontrar.

E é nestes momentos que agradeço a minha persistência e o por vezes obrigar-me a ler coisas, porque as primeiras opiniões são muitas vezes más conselheiras e nunca se sabe o que nos pode escapar quando lhes damos ouvidos. Assim, num segundo encontro com um conto de Hélia Correia saí confiante quanto ao nosso futuro juntos.

Hélia Correia continua a história de Laura, que após as suas cirurgias plásticas se vê atormentada por um sonho com Jane Fonda, que lhe revela que o segredo está em algo mais profundo do que a admiração física, um amor, a capacidade de suscitar uma devoção no outro enquanto instrumento de poder. A frustração de Laura é palpável. “Tanto esforço para nada”, quase parece dizer, sabendo que no seu processo de melhoramento físico perdeu a ligação emocional que tinha com o seu marido. Torna-se então claro que é necessária uma ruptura.

Com a mesma voracidade com que se entregou a um cirurgião plástico, Laura tenta uma nova vida e surpreendentemente encontra a devoção que procurava. No final há sempre uma lição: não importa o que se é ou o que se tem, mas sim a percepção que os outros têm. Pelo menos para já. Veremos o que o futuro trará para Laura nas próximas Grantas...

2 comentários:

  1. Ah, mas o Montedemo é bastante bom; espero que o Prémio Camões leve à sua reedição; mão merece ficar esquecido.

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    1. Sim, a Relógio D'Água vai reeditar tudo. Esse não está nas minhas prioridades, para já penso que vou começar por "Lillias Fraser", "A Terceira Miséria" e "Vinte Degraus e Outros Contos", os livros da Hélia Correia premiados nos diferentes géneros. Depois logo se vê.

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